Opinião | Em vez de guarda armada e portão fechado, mais professores, psicólogos, assistentes sociais, artistas e a comunidade

Foto: Informe Blumenau

Sou pai de duas crianças que estudam na rede pública municipal de Blumenau, a tarde. Eles tem 11 e sete anos e cursam o 5º e 2º ano. Sei que o que vou escrever vai contra o senso comum, pelo menos de Blumenau e região. Mas preciso me manifestar.

No fatídico 5 de abril, meus filhos não teriam aula a tarde, pois era conselho de classe, ou algo assim. Mas, pela manhã, minha pequena estava numa escola particular, no contraturno. Em casa, ao lado do meu filho mais velho, como jornalista, acompanhei aflito os colegas trazendo as primeiras e assustadoras informações. Coloquei fone de ouvido para evitar que o Dudu ouvisse o terror que estava sendo relatado. Fiquei monitorando os grupos de whats.

Não sosseguei enquanto não consegui trazer para casa minha Mica, que chegou aos prantos, mesmo estando a uma distância considerável de onde aconteceu o massacre. Chorei com ela, que não tem costume de chorar.

Não consigo mensurar o choro dos pais que perderam seus filhos, das demais crianças, dos professores e educadores do Cantinho Bom Pastor, dos profissionais de emergência que viram imagens aterradoras.

E respeitando esta dor, escrevo que me incomoda a postura inicial adotada pelos entes públicos, todos, em especial a Prefeitura. É uma coisa minha, sei que muitos, provavelmente a maioria pensa o contrário.

O caso de Blumenau foi um caso absolutamente peculiar, dentro de um contexto de muitos outros que estão acontecendo pelo Brasil e pelo mundo, mas sempre como epicentro os EUA, país mais armamentista do mundo.

A unidade escolar era privada, tinha muro, por onde um maníaco pulou e praticou as atrocidades em pouco menos de 30 segundos. Este maníaco não tinha vínculo com a creche e nem com ninguém daquele espaço. Um crime bárbaro, mas aleatório. Dificilmente, pela rapidez do que tudo aconteceu, seria evitado.

Com um aperto no coração, eu, Alexandre Gonçalves, 58 anos, asseguro. Tão improvável como o crime que aconteceu na creche, improvável seria a reação que evitasse tal crime. As professoras da Bom Pastor, em Blumenau, foram heroínas ao evitar outras mortes.

Mas, qual a reação imediata das nossas autoridades, impactadas pela comoção popular? Atacar a consequência e não possíveis causas. Passar uma sensação de segurança, sem necessariamente garanti-la.  E reproduzir uma cultura de violência e armas. Em vez de acolher, criar medo.

A escola dos meus filhos vai ter uma pessoa com arma para recebê-los. Nos seis anos que moram comigo, nunca dei uma arma e no máximo ganharam aquelas de piscina. Vou ter que explicar para eles que está tudo bem, aquele estranho armado está lá para protegê-los.

Sou daqueles pais que chega quando o portão abre, 10 minutos antes de começar a aula, pois meus filhos querem chegar cedo pra brincar com os colegas. Sempre fiquei dentro da escola, supervisionando minhas crianças, dando o último beijo na hora que o sinal bate. A partir desta segunda-feira, estou proibido de fazer isso. A “ordem” é deixar os filhos no portão e não entrar, salvo casos especiais.

Dói muito o que aconteceu no Cantinho Bom Pastor, mas dói agora. Principalmente por entender que são decisões imediatistas, sem a devida reflexão.

Sim, temos que ter mais segurança nas proximidades de escolas e CEIS. Rondas policiais devem ser intensificadas.

Câmeras de segurança e mecanismos de acionamento emergencial do aparato policial sempre são bem-vindos.

Muros altos, portões monitorados, controle de acesso, tudo nota 10.

Mas qual a mensagem que estamos passando? A da arma, da força, do medo. Do confronto.

E a pergunta que se faz. Mas como é a história deste criminoso? Como foi ele na escola, qual o histórico e convívio familiar dele? Não é para romantizar uma pessoa que deve ser segregada do convívio social, mas para entender o que se passa na cabeça desta pessoa para fazer este tipo de crime.

E as redes sociais? Não parece ser o caso do assassino de Blumenau, mas é o elo entre atrocidades pelo mundo, Pipocam ameaças, todas intermediadas por uma rede. Se é por ali que os psicopatas se comunicam, isso tem que ser evitado, restrito.

Disseminação de mensagens de ódio precisam ser controladas pelos canais competentes.

A família, a escola, têm papel fundamental na construção de uma personalidade. Estamos cumprindo direito esta missão?

Eu, como pai, me angustio todo os dias com esta pergunta. Mas me angustio ainda com as respostas que as diferentes esferas do Poder Público tomam em casos extremos.

Em vez de mais psicólogos, assistentes sociais, artistas, para receber de volta os alunos de forma mais acolhedora depois de uma semana de férias forçadas, teremos um estranho com arma na porta e os pais barrados no portão nas escolas da rede pública municipal de Blumenau.

Por Alexandre Gonçalves, pai e jornalista

 

 

 

 

 

 

5 Comentário

  1. qual o nome do juiz que soltou este bandido , com tantas passagens pela Polícia ? Tentativa de assassinato , drogas, etc…. este sim é o verdadeiro culpado , ele representa a justiça e deixou em liberdade .

  2. Boa noite!
    A escola tem muro alto, tem cerca, tem câmera, faltava a figura do “policial” na porta… agora não falta mais!

  3. A cultura da paz requer amor, afeto, acolhimento !!!! Temos olhado para práticas contrárias no processo educativo. Estás lucidamente correto em tua análise! Perfeito! Parabéns!

  4. O texto escrito por Alexandre sintetiza a maneira como vejo a situação que estamos vivendo. Pessoal armado nas escolas não é a solução.

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