“…não prevarique, senhor presidente”, diz presidente da Anvisa, cobrando de Bolsonaro provas ou retratação.

O presidente da Anvisa não é de esquerda, não é “comunista”, não é de oposição e nunca se colocou como adversário. Pelo contrário, foi nomeado em outubro de 2020 pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (PL), é militar da mais alta patente na Marinha e médico.

Mas nem este currículo impediu o presidente, que é “tarado” pela não vacina, a criticar a agência e os técnicos que nela trabalham, colocando como interesses escusos a autorização para a vacinação de crianças feita pelo órgão responsável para tomar esta e outras decisões deste tipo.

Mas, neste sábado, o general da marinha e presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, se manifestou oficialmente e rebateu as falas do presidente. Pediu a Bolsonaro que determine investigações, caso tenha provas do que falou, ou se retrate.

“Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa. Aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar”, escreveu o diretor-presidente da agência.

Ele divulgou a nota após se reunir com diretores da agência, na tarde deste sábado.

Na quinta-feira (6), Bolsonaro pediu que pais não se deixem levar pelo que chamou de propaganda e fez insinuações contra a agência reguladora.

“E você vai vacinar teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade de ele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual interesse daquelas pessoas taradas por vacina? É pela sua vida? É pela saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças no Brasil e não estão”, disse o chefe do Executivo.

Leia a íntegra da nota divulgada por Barra Torres:

“Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente. Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas.

Nunca levantei falso testemunho. Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário”.

Fonte: Da redação, com informações da Folha de SP

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