Opinião | Dor no bolso: pense antes de escolher um ídolo

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Ler, interpretar, compreender o que ocorre e evitar reproduzir o que a manada segue. Se você recuar por dois segundos e buscar, lá no fundo, encontrar um espaço no lado oposto da narrativa, perceberá que pensar não é algo muito difícil. Terceirizar esta tarefa, todavia, representa um conforto quentinho que ajuda a mascarar a responsabilidade dos atos. O problema é que as vezes seguimos o fluxo sem respirar, nem olhar para o outro. E, no final, o caminho mais fácil é encontrar, nos ombros alheios, o depósito perfeito para a culpa das escolhas de cada indivíduo, as suas e as minhas. Ao você ler este texto eu peço: pense antes de um ataque de pelanca.

A história guardará, por alguns motivos, os dias que se foram nesta última semana. Tivemos o fervor emocional entorno de Fausto Silva que, parece, é um ídolo para muitos. Mas, são outros dois fatos, relacionados a economia, que marcaram, para mim, a ignorância que aprofunda-se no país neste tempo. A queda das commodities, um movimento que só começou, está machucando muito o produtor rural brasileiro; o aumento da taxa básica de juros no Brasil ascende uma luz amarela para uma nação endividada.

Como já escrevi outras vezes, o Brasil não é para amadores e todo dia é um 7×1 contra nós. Por isso, rogo novamente: mude a mentalidade. Não importa se é azul, vermelho, amarelo ou preta a bandeira de seu ídolo político. Fazem décadas que só andamos em marcha ré. E não mudou nada, além do nome do gestor, nos últimos anos. Não gostou? Respire e pense…

Esta terra descoberta por Cabral, emancipada por Dom Pedro I, que tornou-se republica pela espada de Marechal Deodoro, só não é mais miserável pois aqui possuímos um dos solos mais ricos em alimentos, minérios e fonte de energia. Além disso, nas últimas décadas, desenvolvemos uma função pouco nobre, porém, útil para o mundo: de bons pagadores de juros.

Uma pausa para explicar. O maior comércio do mundo de qualquer coisa que esteja à venda, de boi, papel higiênico à tecnologia mais cósmica, nenhum outro é maior que o mercado de juros. É o juros que diz pra que lado vai um país. Os papeis de títulos soberanos de uma nação mostram o poder de confiança e compra de um povo. Conforme-se, o mundo não é um passeio no bosque… quanto mais próspero e seguro um país, menos os seus cidadãos terão de gastar para financiar a dívida.

Historicamente a taxa de juros no Brasil gravita em uma média de 10% ao ano. Sempre manteve-se assim por um motivo bastante simples: não pensamos antes de escolher, entupimos as retaguardas dos mais ricos com subsídios fiscais e o bolso é pequeno para lista de gastos da casa. Logo, financiar o Estado brasileiro é uma necessidade urgente, urgentíssima. Acontece que, de 2019 para cá, os líderes do governo e a equipe econômica definiram baixar artificialmente a taxa básica de juros. A maior burrice da história moderna do país! Repito: a maior burrice. Só para registrar o exemplo, em 2020, quem “emprestava” para Estado recebia o rendimento real de -3%. Inacreditável, para dizer pouco, compreendendo que quase 100% da capacidade de geração de riqueza da nação está comprometida.

E quais os efeitos práticos na nossa vida? Perde-se a referência, de uma hora para outra, de todos os preços. O dinheiro brasileiro passa a valer menos e, como tudo praticamente é produzido fora do país, fica mais caro para adquirir toda sorte industrializada. Nos últimos três anos o real brasileiro perdeu 91% do seu valor de compra em dólar. A inflação (IGP-M) acumula uma alta de 40% ao ano. É pouco? Você, eu, nossas famílias ficaram mais pobres nestes três anos.

Foi graças a barbeiragem do Governo Federal que os nossos agricultores cometeram o erro de vender em 2020 as safras de três anos. As que estavam no estoque, as de 2021 e 2022. Qual o preço? O menor dos últimos 50 anos em dólares. Quando os produtos foram para as máximas históricas, meses depois, o produtor já não tinha o que vender e, de quebra, viu uma disparada dos insumos para produção. Uma história longa que ainda vai machucar muita e muita gente.

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