Opinião | Deus não quer ser governador


Como nas últimas eleições, o pleito de 2022 também é marcado pelo protagonismo do chamado voto religioso. Pastores, padres e bispos disputam manchetes na tentativa de influenciar a decisão de voto dos eleitores, sobretudo no interior de suas igrejas. Em 2016, eu publiquei um livro sobre o assunto.  Religião Política e Poder (EDIFURB) é o resultado de uma pesquisa de mestrado que buscava compreender os mecanismos eleitoral da bancada religiosa de Santa Catarina.

Como metodologia de levantamento de dados, entrevistei pastores e políticos com mandatos na época e que identificavam-se como pertencentes a Assembleia de Deus de Santa Catarina. O recorte metodológico foi importante porque instituição possui uma Comissão de Política que possui a função de “orientar os membros da instituição a tomarem parte do processo político, seja em caráter nacional bem como atuar como foro de debates para apoio de candidato ao executivo federal, atuar junto aos parlamentares federais e estaduais da denominação”

Segundo documentos da própria instituição, este conselho possui a função também de “elaborar o cadastro de parlamentares políticos, representantes das Assembleias de Deus no Brasil, bem como relatórios de suas atuações”, que podem inclusive “propor a destituição de uma representação política quando a mesma não corresponder com os interesses da igreja”. Exemplo disto foi o fato envolvendo uma deputada federal aqui de Santa Catarina, que perdeu o apoio da instituição, por defender a candidatura de Eduardo Leite (PSDB) para presidente, em caso claro de preconceito e homofobia.

Para o pleito de 2022, a instituição pede voto para Jair Messias Bolsonaro (PL) para presidente, Kennedy Nunes (PTB) para o Senado, Ismael dos Santos (PSD) para Deputado Federal, Junior Cardoso (PTB), Marcos da Rosa (União) e Adilson Girardi (MDB) candidatos a deputados estaduais.

Chama a atenção na lista a ausência de candidatos governador.

Na minha pesquisa, ao perguntar às lideranças religiosas como escolhiam os ungidos para indicação eleitoral, a resposta era bastante clara. “A escolha do candidato não se dá a partir de bandeiras ou por princípios ideológicos, mas pela capacidade de eleição”. Dito de outra forma, os evangélicos instrumentalizam a política e não apostam em cavalo ruim. De FHC há Bolsonaro estiveram em todos os governos, com maior e menor influência. Estarão no próximo, independentemente do resultado de dois de outubro.

Outra informação que poucos lembram é que hoje a instituição conta com uma senadora suplente. Denise dos Santos (PSD), esposa do Ismael dos Santos e cunhada do presidente estadual Assembleia de Deus. Ela é suplente de Esperidião Amim (PP), candidato a governador e concorrente de Gean Loureiro (União), apoiado pelo partido do seu esposo.

No meio deste emaranhado de relações de poder nada sagradas, parece que o Deus dos líderes religiosos não está interessado no Palácio d’Agronômica, porém, a Assembleia de Deus pode terminar a eleição com dois senadores da República em Santa Catarina, caso Amin e Kennedy tenham sucesso na eleição deste ano.

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