Opinião | Um ano depois, o luto coletivo persiste

Foto: reprodução

Neste dia 5 de abril, completa um ano do crime ocorrido na nossa Blumenau, na creche Cantinho Bom Pastor. O crime que gerou um luto coletivo ainda pulsa nas ruas e esquinas da cidade. Três meninos e uma menina foram brutalmente assassinados com ataques de machadinha. O assunto ganhou repercussão nacional. Crianças entre 4 e 7 anos foram vítimas de uma verdadeira barbárie em plena luz do dia. Não só o Brasil, mas o mundo também se voltou para o ocorrido. O país viveu, em sua essência, um luto coletivo, aquele em que as pessoas permitem externar sua dor sem censura.

Qualquer mãe, pai ou familiar sabe o tamanho e a profundidade desta dor que ainda perdura. Colar os pedaços destroçados pela banalização da violência leva tempo. Lidar com este sentimento exige acolhimento e demanda meses ou mesmo anos. Sabe-se que o sentimento de insegurança ainda está presente e faz com que medidas sejam adotadas para que os danos sejam reparados. Os gestos de solidariedade vieram de todas as partes. Por outro lado, é preciso respeitar o momento com o silêncio de quem se coloca no lugar do outro ou com o grito de quem clama por justiça.

Na ocasião, o presidente Lula se posicionou e declarou que o ataque “é humanamente inexplicável.” E foi além, colocando-se no lugar dos pais das crianças vítimas do homicídio: “Eu sou pai, avô e bisavô. Fui para casa muito triste. Espero que a gente tenha a competência para que isso não aconteça mais em nenhuma escola do Brasil”, completou. De lá para cá, a sociedade brasileira vem debatendo o assunto e se mobilizando para combater o fenômeno dos ataques nas escolas.

Em fevereiro deste ano, o Ministério da Educação lançou o Relatório “ATAQUES ÀS ESCOLAS NO BRASIL: análise do fenômeno e recomendações para a ação governamental”. Segundo o levantamento, entre 2002 e outubro de 2023, o país registrou 36 ataques a escolas, que resultaram em 164 vítimas, sendo 49 casos fatais e 115 pessoas feridas. O documento aponta algumas recomendações para minimizar as perdas e evitar novas investidas. O primeiro aspecto é garantir que dentro das escolas prevaleça o clima democrático para a resolução de conflitos, com isso o acolhimento de opiniões divergentes passe a ser uma prática. O exercício do respeito mútuo.

Outro aspecto, que inclusive está sendo objeto de debate nas três esferas de poder, trata da regulação das redes sociais, o controle das armas de fogo e uma legislação que combata o extremismo e a prática do bullying. Essas medidas requerem o apoio da imprensa, que deve sempre tratar com responsabilidade a cobertura dos ataques e buscar também o repúdio aos discursos de ódio. Com isso, o relatório aponta para uma solução pacífica de conflitos, mas que tenha efetividade com a cultura do cuidar do outro.

O ataque à creche de Blumenau ganhou contornos de debate nacional, gerando uma grande comoção.. Desta forma, o acolhimento precisa ser coletivo, de toda a estrutura em torno da unidade escolar. Isso inclui as famílias, as turmas da creche, os professores e a própria população da cidade que precisa se refazer. O que aconteceu de fato é que, quando a creche de Blumenau foi atacada, o Brasil se sentiu atacado. Para cicatrizar esta ferida é preciso a mobilização de todos.

Enquanto parlamentar, meu foco está na articulação para garantir investimentos e proposições em políticas públicas. Sou autora do projeto aprovado pela Câmara que cria o Pacto Nacional de Combate à violência contra crianças e adolescentes nas escolas e creches. Na Câmara Federal, lidero a Secretaria da Primeira Infância, Infância, Adolescência e Juventude, onde realizamos debates com especialistas sobre a prevenção à violência nas escolas no último ano. É essencial que as instituições de ensino sejam espaços acolhedores, e o poder público deve priorizar o investimento na saúde mental de crianças e adolescentes. Somente assim podemos garantir um ambiente verdadeiramente acolhedor e seguro para nossos filhos e filhas.

Ana Paula Lima, deputada federal (PT/SC) e secretária da Primeira Infância, Infância e Juventude da Câmara dos Deputados

1 Comentário

  1. O que o governo federal fez para melhorar a segurança nas creches e escolas?
    Quando disponibilizou aos Estados para melhorar a segurança?
    Narrativas, falácias e conversa mole estamos cansados, as crianças estão esperando os pais estão esperando, a sociedade está esperando, chega de discursos vazios, chega de falácias, quanto o governo disponibilizou para melhorar a segurança das crianças?
    Governo Federal, estadual e municipal , os três poderes juntos, fizeram o que além de discursar em cima da morte destas crianças?

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