Opinião: o Bolsonarismo em crise

Foto: Flavio Tavares/Estadão Conteúdo/Reprodução

O Bolsonarismo é o efeito emergente de um conjunto de forças contraditórias. Isto acontece poeque estas forças são compostas por grupos muito heterogêneos e que estavam politicamente desarticuladas. Neste sentido, o Bolsonarismo canaliza um conjunto de valores, crenças e anseios que estavam dispersos na sociedade brasileira muito antes da eleição presidencial de 2018. Assim, a eleição do Presidente Jair Bolsonaro unificou estas forças e arrastou para dentro das instituições estas aspirações. É dentro deste espectro ideológico-social que o Bolsonarismo se formou politicamente. Por isto, o Governo Bolsonaro está estruturado em quatro pilares principais:

  1. Conservadorismo Religioso: o Bolsonarismo canalizou o fortalecimento político do campo religioso. Tradicionalmente, a população católica constitui a maior religião cristã do Brasil, e sempre coontou com representação política e cultural. Porém, desde a primeira eleição do Lula se tornou evidente a transformação do peso social evangélico que passaram de 6% da população em 1980 para 20% em 2020. É por isto que 7 em cada 10 evangélicos votaram em Bolsonaro na Eleição de 2018. Com a eleição de Jair Bolsonaro este grupo passou a ter uma força institucional pela afinidade das pautas morais deste grupo.
  2. Autoritarismo Militar: o Bolsonarismo canalizou também a possibilidade de recuperação do protagonismo militar na política. Com a Redemocratização as Forças Armadas e as Forças Policiais perderam sua posição de liderança na sociedade. Assim, por um lado, possibilitou a participação militar em temas civis e políticos; mas também, por outro, a agenda policial da lei e da ordem. Neste sentido, o Bolsonarismo permitiu a repolitização das Forças Armadas e a partidarização das polícias militares e a retornada da agenda patriótica. Atualmente, estima-se que cerca de 7 mil militares ocupem funções civis apenas no Governo Federal.
     
  3. Liberalismo Econômico: o Bolsonarismo integra também a elite empresarial e financeira da Avenida Faria Lima. Neste sentido, os liberais brasileiros afastados do governo pelo Partido dos Trabalhadores viram no Governo Bolsonaro a possibilidade de aprofundar a implantação da agenda liberal. Neste sentido também, pretende avançar a agenda das reformas, a promoção do ajuste fiscal e acelerar as privatizações. A junção do Bolsonarismo com o liberalismo não deixa de ser uma aventura estranha. Vale sempre lembrar que o próprio Presidente Bolsonaro nunca foi entusiasta da bula liberal. Afinal, liberalismo não dá voto…
  • Combate a corrução: o Bolsonarismo atraiu também o Lavajatismo e a bandeira anticorrupção. Neste sentido, canalizou a indignação com o fisiologismo e as denúncias de corrupção intensificaram o processo de judicialização da política. Mais precisamente, a crença que entregar o poder a homens puros de fora do “sistema” seria a única maneira de resolver os problemas do Brasil. A ideia que o país pode prescindir da política e dos políticos. Neste sentido, o candidato Jair Bolsonaro se apresenta com paladino da anticorrupção, prometendo reforçar os mecanismos de fiscalização e controle. 

Porém, três anos depois diante das crises sanitária, econômica, política e agora também moral, este conjunto de forças começa a se desintegrar. É que o discurso de insatisfação diante da negligência na gestão da pandemia se junta agora as denúncias de corrupção na compra da vacina Covaxin. Por isto, é cada vez mais difícil atribuir estes problemas aos boicotes da mídia, ao bloqueio do congresso, a perseguição do STF… Assim, para continuar acreditando que o Governo Bolsonaro zela pelos valores tradicionais, é patriota, liberal e combate a corrupção é preciso lutar contra a realidade. Afinal, frequentemente, a combinação de ignorância, intolerância e incompetência é politicamente fatal.

Por isto, paradoxalmente, a única alternativa eleitoral do Bolsonarismo situa-se no fortalecimento do campo de Esquerda e o medo do PT. Ou seja, contar que a possibilidade da candidatura de Lula e fortalecimento dos protestos feche as alternativas de centro direita e intensifique a polarização. Neste sentido, o Presidente Bolsonaro se tornaria a única forma de conter a agenda progressista em relação aos valores e liberal em termos econômicos reeditando o bordão: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Portanto, o efeito combinado destes dois fenômenos forçaria este conjunto de forças se a realinharem novamente em torno da candidatura do Presidente Jair Bolsonaro.  

A tarefa do Governo Bolsonaro não é fácil. Afinal, precisa conter, ao mesmo tempo, o desgaste da popularidade externa, mas também as progressivas divergências internas. Assim, o Bolsonarismo depende, fundamentalmente, de duas operações: a) aposta no medo; b) culto a personalidade. Ou seja, para que o Bolsonarismo sobreviva eleitoralmente e mantenha o controle do governo é preciso que a sociedade brasileira tema um eventual retorno da esquerda e veja Bolsonaro como salvador. A questão é saber se semeando tempestades o Governo Bolsonaro vai conseguir estabilidade e previsibilidade necessária para melhoria econômica. 

Não há dúvida que Governo Bolsonaro experimenta seu momento mais crítico desde o início em janeiro de 2019. Isto acontece porque a estrutura de forças que sustentavam o Governo Bolsonaro está se decompondo. A medida que a Eleição Presidencial de 2022 se configura no horizonte, estes impasses começam se materializar politicamente. A intensificação da instabilidade política interna ao governo aumenta as dificuldades externa de governar. Afinal, as forças conservadoras se unem as forças autoritária sufocando as forças liberais. O desafio é saber se o Bolsonarismo conseguirá transformar novamente a eleição presidencial numa luta do “bem” contra o “mal”.

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6 Comentário

  1. Se Lula for candidato e algum ser vivo votar neste ladrão, neste corrupto , neste ser repugnante , será o fim do Brasil ….mas duvido que alguém que tenha um pingo de vergonha vote nesta pessoa .
    Não estou defendendo Bolsonaro, estou me referindo ao Lula , chefe da quadrilha do PT .

  2. Dr. Marcos. Muito oportuna a sua aula sobre a situação atual do Brasil e do Presidente Bolsonaro.
    Sou antigo e iniciei minha vida como brasileiro desde a época do Regime Militar, sobrevivi e acompanho a história. Vi o Brasil ser devorado pelas forças obscuras e esquerdistas e vejo hoje toda atuação maquiavélica dessas forças ocultas para deturpar/derrubar o Governo Bolsonaro.

    É complicado aceitar a sua dita abaixo:
    “Por isto, é cada vez mais difícil atribuir estes problemas aos boicotes da mídia, ao bloqueio do congresso, a perseguição do STF… Assim, para continuar acreditando que o Governo Bolsonaro zela pelos valores tradicionais, é patriota, liberal e combate a corrupção é preciso lutar contra a realidade”.
    O Dr. acha que a grande mídia, o STF, e o Congresso (maioria), são “amiguinhos”?

    Primeiro, sou Patriota, amo este Pais. Por pouco não viramos “comunistas”.
    O Presidente Bolsonaro foi o corajoso que “peitou” essa máquina do mal.
    Fica claro que não concordo com tudo oque o Presidente faz, mas merece a minha confiança, ainda.

  3. O melhor cabo ( ou seria capitão ) eleitoral do Lula é o Bolsonaro, e sua grosseria e incompetência teleológica, mais o fato de 14 processos contra o Lula foram anulados, basicamente por falta de provas e nítida parcialidade do Moro.

  4. Infelizmente é uma pena que muitos não consigam enxergar o que Bolsonaro, ou pior, onde ele e seus filhos querem alcançar. O Regime democrático já não existe mais, estamos na fase do regime autoritário, mas o pior está por vir, e a partir daí o nosso Brasil estará em queda livre, que será a fase do regime totalitário. Muitos dizem que iremos nos transformar numa Venezuela … E vamos mesmo, mas não da forma como dizem, pois não é o comunismo que toma conta daquela nação, e sim o regime totalitário que se encontra, onde o presidente dita as normas, passando por cima da própria constituição.
    O medo pior não é chegar aonde Venezuela está, e sim a Coreia do Norte, que é o ápice do totalitarismo, e que vem passando faixa de pai para filho, e a população para sair do país precisa de autorização do governo, acabando com a liberdade de ir e vir.
    Me digam qual país governado por militares teve sucesso ao redor do mundo? Pois eu não me lembro. Para eles não existem Democracia, Capitalismo ou Socialismo, e sim, o totalitarismo. Não acreditam? Esperem para ver ano que vem, caso Bolsonaro perca as eleições. A guerra civil está batendo na porta.
    Espero que até o ano que vem surja uma terceira força, capacitada para assumir o posto máximo do nosso Brasil.

  5. Sr. A.Bernhardt.
    Enquanto não conhecia a sua biografia, estavas com num bom conceito.
    Nem todos os que se formaram na Academia Militar das Agulhas Negras se tornaram verdadeiros patriotas
    Que pena. Tanto estudo e inteligência p’ra isso descrito no seu artigo.

  6. Porque os petistas não foram embora para Venezuela, não gostavam tanto ?…me engana que eu gosto.

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