Opinião: Flordelis e sua turma

Foto: Reprodução

Durante o mestrado me dediquei a compreender a relação existente entre religião e política. Especificamente a bancada religiosa. Não fiz isso para compreender a religião como fenômeno teológico, mas os mecanismos sociológicos que fundamentam a ascensão e a influência das bancadas das bíblias na política brasileira.

Na semana passada recebi perguntas de amigos e estudantes sobre o que estava acontecendo com os evangélicos no Brasil. Os questionamentos eram motivados pelos casos Flordelis e Everaldo. No dia 24 de agosto, a deputada federal Flordelis dos Santos de Souza (PSD/RJ) foi acusada de planejar e matar o próprio marido.  A história da deputada e sua família é um enredo que nem Nelson Rodrigues e toda a sua genialidade em descrever a intrigas do amor, do sexo e da vida privada conseguiria conceber.

No dia 28, o Pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC, e seus dois filhos foram presos acusados de corrupção no governo do Rio de Janeiro. Everaldo foi candidato à Presidência da República em 2014. Em 2016 batizou no Rio Jordão, o então pré-candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (atualmente sem partido). 

Aos meus amigos, eu silenciei. Apenas para um, respondi que a semana tinha escancarado as vísceras do Brasil mais profundo.

Flordelis não é flor que se cheire. Pastor Everaldo não é santo, nunca foi. São falsos líderes, que ascenderam ao poder, na onda de crescimento dos pentecostais. Não são isolados, compõem uma rede que atua como federação de coronéis religiosos que transformam em moeda de troca seus apoios a políticos. Para isso alugam seus púlpitos e profanam sacramentos sagrados, como o batismo.

O fato é que, a ascensão dos pentecostais, seja em números de fiéis como no crescente protagonismo social e político, é uma locomotiva desgovernada na transformação da sociedade brasileira. Sua influência não fica restrita ao seu próprio campo religioso, mas transborda para outras religiões e em outras esferas da vida social. Vem produzindo no Brasil um processo de transformação social irreversível.  

Como tudo nessas terras abaixo da linha do Equador,  é subvertido por uma dinâmica própria. Desenvolveu-se aqui um tipo próprio de religiosidade e de secularização e como todo processo de secularização não é linear, mistura o santo e o profano, o popular e o erudito, o moderno e o arcaico. O crescente protagonismo político e a instrumentalização econômica provocada pela teologia da prosperidade é parte do processo de racionalização da sociedade brasileira. As reações a instrumentalização da religião pela política são necessárias e legítimas, porém podem esconder um comportamento de preconceito de classe ou religiosos. Os pentecostais atuam em uma faixa social que são os mais empobrecidos do país e sempre foram excluídos das esferas de poder.  

O grupo que agora está em ascensão, apenas reedita o comportamento típico de outros grupos políticos e religiosos que historicamente disputaram e disputam a agenda política nacional. São as vísceras do Brasil. Religioso seria, acreditar que, pela política eles salvariam o país. 

4 Comentário

  1. Sua coluna é esplêndida, professor Josué. Parabéns!!

  2. Amigo, poderia citar não somente pseudo “evangélicos” mas também pseudo “católicos” como no mais recente caso do padre Robson envolvido com desvios milionários e romances homossexuais.
    Não é novidade que a Igreja Católica tenta esconder desesperadamente inúmeros casos no mundo todo de seus sacerdotes envolvidos em escândalos sexuais como pedofilia, homossexualismo, prostituição.
    É a Palavra de Deus se cumprindo perfeitamente em nossos dias:

    “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.”
    Mateus 7:21

    “porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” Mateus 24:23-24.

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