Opinião: conselho aos jovens

Foto: Reprodução

Por ocasião da semana em que se comemorou o dia nacional da juventude, 12 de agosto, vale lembrar aos jovens a mais óbvia das advertências do mundo civilizado, no Ocidente, como no Oriente: estuda (não cola) e não dá as costas à política, nem à economia. Te apunhalam. É claro que outras muitas lembranças óbvias podem ser feitas e só farão bem. Não obstante, se, como País, estado, região ou cidade, quisermos avançar ao invés de retroceder, nossos jovens, de 15 a 29 anos, precisam internalizar, concomitantemente, o mundo da cidadania e a ética do trabalho.

Se fizermos uma averiguação estatística, com dados do IBGE, do Ministério do Trabalho ou a Organização Internacional do Trabalho, é fácil ver que quem estuda mais ganha mais e não há uma só exceção estatística à regra em qualquer faixa etária ativa, geográfica, profissional ou outra. Quem estuda mais, ganha mais. Quem se comunica e faz conta, enxerga oportunidades e vive mais e melhor. E, por favor, não nos enganemos com exceções individuais, porque se encontrarmos um rico herdeiro de terras pouco instruído, a sorte foi dele e a desgraça dos filhos.

Dados do PNAD/IBGE, de 2017, mostram que a renda per capita de quem, aos 35 anos, não concluiu o ensino médio no Brasil era de R$ 643,00, enquanto o ensino médio completo, aos mesmos 35 anos, proporcionava renda média de R$ 1.435,00, simplesmente 120% maior. No primeiro caso, a probabilidade de ocupação formal é de 50%, enquanto no segundo, é de 77%. A mesma base de dados mostra que 27% dos jovens de 15 a 17 anos estavam fora da escola, uma tragédia comparada.

Fonte secundária: Site Politize-se. Disponível em: https://www.politize.com.br/evasao-
escolar-jovens-5-fatos/. Acesso em 12/08/2020.

Qualquer pesquisa bibliográfica, qualquer busca na internet a procura dos países mais desenvolvidos, comparada com seus opostos, não deixa dúvida sobre a causa número um: é a Educação. Pode parecer óbvio demais ao qualificado leitor desta coluna, mas muita gente ainda se engana. A história econômica mostra que, por muito tempo e ainda hoje, certa ilusão recai sobre as riquezas naturais. Ouro, prata, petróleo e isso e aquilo. Tolice. Nação alguma se salva sem Educação de alta qualidade. É preciso aprender a tirar leite de pedra.

Se alguém apontar alguma exceção, façamos mais um cruzamento e não restará pedra sobre pedra, somente livros sobre livros, com o perdão do trocadilho. Quando essa relação entre nível de instrução e desenvolvimento se cruza com o apreço às liberdades políticas e econômicas, quase nada sobra. Nessa perspectiva, o índice de prosperidade
do britânico do Legatum Institute mostra que 39 dos 40 países mais prósperos do Mundo (entre os latinos, Costa Rica, Chile e Uruguai) são democracias estáveis. A exceção são os Emirados Árabes (curiosamente patrocinadores do Instituto, querendo se tornar regra, talvez).

O índice de prosperidade do Legatum Institute é composto por 12 variáveis, quais sejam:

  1. Segurança 2. Liberdade pessoal 3. Governança 4. Capital social 5. Investimento no meio ambiente 6. Condições de empreender 7. Acesso a mercado e infraestrutura 8. Qualidade da economia 9. Condições de vida 10. Saúde 11. Educação 12. Sustentabilidade.

Disponível em: https://www.prosperity.com/rankings. Acesso em 14/08/2020.

É, o Brasil só aparece na 69ª posição. Mas isso lá surpreende alguém? Não adianta ser uma das dez maiores economias do Mundo. Do ponto de vista per capita somos quase pobres e do ponto de vista da vergonhosa desigualdade de fato atrasados e não nos respeitam. Para um País onde o ensino é atrasado e a matemática se conta nos dedos, é difícil entender. Mas, posições como no índice de prosperidade, de IDH, de GINI (desigualdade), e resultado no PISA (avaliação estudantil), estão todas causal e mutuamente relacionadas.

Maneira de mudar isso no curto prazo, esqueça-se. Na média (e sem distinção de classes), não há maturidade política, nem do eleitor, nem do eleito. A volta do chamado desenvolvimentismo populista ou de uma guinada autoritária ainda povoa a imaginação de milhões no Brasil. Qualquer das duas opções seria tão anacrônica quanto trágica, ante o patrimonialismo e o anti-liberalismo econômico, político e moral, à esquerda e à direita. O Brasil médio é tacanho e tem ideias grosseiras sobre qualquer coisa que não seja irrelevante. Esperanças, não de curto prazo.

No médio e longo prazos, restam a Educação e a sorte. Produção, competitividade e inovação, é claro, são os impulsos. Mas, antes vem o capital humano, que não vinga com “as ideias fora do lugar”. A frase é quase homônima a um livro do ex-presidente Fernando Henrique. Com tanta gente o chamando de comunista, isso faz da frase um quadro dos tempos, desde que a esquerda o chamava de neoliberal até o momento em que alguém acreditou no neoliberalismo do governo atual que, como disse alguém, “pede mais desculpas pela reforma da previdência do que pelas mortes pelo covid 19”.

O célebre chanceler inglês Winston Churchill dizia que a democracia era o pior dos regimes, com exceção de todos os outros. Filósofos da antiga Grécia, nosso berço civilizatório (supostamente) diziam, há 25 séculos, o que Montesquieu, Tocqueville, Monteiro Lobato e milhares de contemporâneos vem nos dizendo: que a qualidade de vida de um país depende da instrução e da atenção de seus indivíduos à coisa pública. À atenção republicana, some-se uma Educação liberal, voltada à tolerância e à ética do trabalho. A conjunção desses dois fatores educacionais é a condição do desenvolvimento pessoal e nacional para o século XXI.

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