Opinião | A política daqui não é perfeita, mas há lugares piores

Foto: reprodução

Na última quarta, dia 23, em pleno inverno, Manaus registrou espantosos 49 graus de sensação térmica, enquanto o gaúcho tomava chimarrão escondido onde pôde, graças aos temporais no Rio Grande do Sul. Diante desse exemplo, todo brasileiro tem que admitir que governar um país com tantos contrastes não deve ser nada fácil. Isso não justifica os erros, mas talvez seja um dos motivos que levaram todos os presidentes eleitos desde 2002 a terem problemas com a justiça, quando não amargaram uma estadia com comida alojamento gratuitos na cadeia.

Nisso tudo, muitos lamentam as complicações envolvendo o nome de Jair Bolsonaro, como a intimação da Polícia Federal para que ex-presidente, sua esposa, os advogados Frederik Wassef e Fabio Wajngarten, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o pai dele, general Mauro Lourena Cid, além dos assessores Osmar Crivellati e Marcelo Câmara prestem depoimentos simultâneos sobre o caso das joias.

A situação não é favorável, mas se o jogo da política está ruim por um lado, logo se cria algo de bom em outro caminho. O importante é não baixar o ânimo do eleitor fiel, e aí, Bolsonaro foi homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, coração do Agronegócio. Na sequência, vai encontrar o governador Romeu Zema (Novo) e receber o título de cidadão honorário na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, já “de cara nova”, após se submeter a uma harmonização facial.

Apesar dos esforços para manter o sorriso, logo surgiu a piada na internet: “com tanto rolo de joia, por que não colocou uns dentes de ouro?”. Nesse país, o que não falta é humorista, alguns até com cargo político…

Giro pelo mundo

Em Brasília, por 379 a 64, goleada que contou com voto de muito deputado da oposição, finalmente foi aprovado o novo arcabouço fiscal. Agora, o texto aguarda apenas a assinatura do presidente Lula (PT), que está na África do Sul, em reunião dos Brics. No evento, está sendo discutida a utilização de uma moeda comum nas transações comerciais entre os membros, além da possível inclusão de Arábia Saudita e Argentina no bloco.

Para os hermanos, o plano vai por água abaixo se for eleito Javier Milei, candidato favorito à presidência. No caso, ele declarou que “não vai fazer negócios com comunistas” em clara referência à China, país mais poderoso dos Brics. O problema é que o nosso vizinho não tem muito para onde correr, sem falar que, além de ser a segunda maior economia do mundo, os chineses são o segundo maior parceiro econômico dos argentinos, superados apenas pelo Brasil, que também é desdenhado por Milei. Cada um escolhe o seu caminho, mas é só pensar: se já está difícil agora, como eles vão pagar as contas sem seus principais parceiros econômicos? 

Embora a política da América do Sul seja rica em conversa fiada, políticos folclóricos e ditadores caricatos, nada se compara a outras partes do mundo, como o registrado na Rússia: pouco mais de um mês depois de se rebelar contra Vladimir Putin, ameaçando um golpe de Estado, o avião particular do “ex-amigo” Yevgeny Prigozhin, do Grupo Wagner, caiu matando dez pessoas perto de Moscou. Que coincidência mais conveniente, não é? Pois então, é por essas e outras que a política brasileira pode não ser perfeita, mas tem lugar bem pior.

Fernando Ringel, jornalista e professor universitário

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