Opinião | A diversificação econômica e a autonomia do Estado de Santa Catarina

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As características de cada região de Santa Catarina que este texto procura demonstrar, fazem com que a dinâmica social, espacial e econômica do estado, sejam fatores preponderantes para que o estado tenha uma característica descentralizada de desenvolvimento.

A formação do estado de Santa Catarina possui particularidades em relação a maioria dos estados brasileiros. As correntes de povoamento que colonizaram o estado ofereceram cenários distintos e com isso diversificou a economia e a cultura em suas mesorregiões. Essa é a explicação geral para o seu sucesso como um dos estados que mais cresce no país no atual século.

O norte do estado, região com o município polo de Joinville, foi colonizado pelos imigrantes alemães e noruegueses no século XIX em 1851. As marcas dessa imigração estão presentes ainda hoje na dinâmica da cidade, influindo na economia e cultura locais.

O planalto norte, com imigração polonesa, ucraniana e cabocla, possuí uma dinâmica econômica pautada no extrativismo do setor madeireiro e na agricultura.

O Planalto Serrano possuí uma caracterização econômica e territorial com origem nos latifúndios extrativistas, grandes proprietários de terras, hoje com uma dinâmica econômica atrelada a agropecuária, indústria, comércio e turismo.

A região do Vale do Itajaí, com Blumenau como polo, possui uma característica muito forte no setor industrial, hoje também serviços (software e turismo). A colonização alemã e italiana influencia a cultura e economia até hoje. A fundação datada de 1850 por imigrantes alemães, contribuí para a formação econômica regional. Hoje o vale possuí muitos moradores que migraram de outras regiões brasileiras e muito contribuem para o desenvolvimento local e com seu capital social.

O Oeste catarinense tem a maior parte da população oriunda de imigrantes italianos, depois alemães. Outro grupo importante que colonizou a região foram trabalhadores da estrada de ferro Brazil Railway Company, com origem do nordeste e sudeste do Brasil.  Os principais polos da região são Chapecó, Concórdia, Joaçaba, Caçador e São Miguel D´Oeste. A economia regional é diversificada, com forte agroindústria, cooperativismo, agricultura familiar, serviços, indústria e extrativismo.

O Sul tem Criciúma como polo, possui economia dinâmica, setor carvoeiro, indústria cerâmica e serviços destacam-se como as principais fontes de arrecadação. O turismo e as praias também se destacam, assim como a cultura do fumo e agricultura familiar. Assim como na serra, a indústria vinícola vem ganhando espaço nos últimos anos.

Cidades que também têm importância ali são Tubarão, Laguna e Araranguá. Imbituba destaca-se pelo porto, que oferece um leque de atividades e empregabilidade à região. A colonização italiana e açoriana forma os mais numerosos grupos étnicos.

No extremo leste está Florianópolis, que impulsiona a região metropolitana mais numerosa do estado. A capital é a segunda em população, com 570 mil habitantes, ficando atrás de Joinville, com mais de 600 mil (segundo prévias do IBGE para 2022). As atividades econômicas regionais são hoje bem diversificadas, transformação que ocorreu nos últimos 30 anos. A região possui grande contingente de instituições e servidores públicos, em função de ter a capital do estado.

O crescimento dos serviços de software e incentivo a inovação, tornaram Florianópolis e seu entorno um importante polo para o Brasil no segmento, a exemplo de Blumenau e Joinville. O setor serviços cresceu muito, trazendo um traço mais segmentado a economia regional. O turismo de eventos, praias, étnico cultural continuam muito importantes para o PIB. A colonização açoriana é a mais numerosa, embora muitos grupos étnicos de outras partes do estado, Brasil e Mercosul constituem a população local, contribuindo para a dinamização da economia e o desenvolvimento regional.

Essa diversidade de momentos de imigração dos europeus, trazendo características cotidianas e econômicas ao estado, deram a Santa Catarina peculiaridades que até hoje são identificadas nos hábitos, costumes e atividades econômicas. O enraizamento cultural dos europeus no estado e dos migrantes trouxe, por exemplo, o formato de agricultura familiar para todo o estado.

Essas características, trazidas pelos imigrantes alemães e italianos construíram uma classe média sólida, oriunda de antepassados agrícolas e desembocando no empreendedorismo agroindustrial. Desta forma, ofereceu-se ao estado catarinense uma condição de “autonomia natural” para definir os seus rumos econômicos e consequentemente para o desenvolvimento de suas regiões. Isso tem atraído imigrantes de todo o país.

Nessa perspectiva, vale dizer, todo Estado nacional deve ser um regulador, porém nunca um definidor absolutista dos rumos de suas regiões. As especificidades regionais e a autonomia do desenvolvimento devem ser respeitadas para que os problemas das populações locais sejam resolvidos, de forma descentralizada, ou seja, com autonomia.

O que se deseja discutir com isso é que qualquer territorialidade precisa ser observada, compreendida para que uma região se desenvolva. Não se pretende com isso ter a soberba de que somente Santa Catarina pode ou poderá apresentar esse traço característico, pelo contrário, é preciso liberdade econômica e a possibilidade da mobilidade social para que qualquer região se desenvolva dentro da exploração de suas especificidades.

Desta forma é importante ressaltar que qualquer região possui capital social para o desenvolvimento, a chave para o êxito está em como lapidá-lo. Com base neste contexto, é importante observar a distribuição demográfica e econômica bastante equilibrada em Santa Catarina, uma das causas do seu crescimento menos desigual e menos inconstante.

IDH de Santa Catarina

Segundo dados do IBGE de 2018, Santa Catarina possui um IDH – índice de Desenvolvimento Humano de 0,813, enquanto a média nacional é de 0,761. O estado está entre os três melhores do país, muito próximo a São Paulo (0,819) e o Distrito Federal: 0,839. Estados menos desenvolvidos que Santa Catarina, como por exemplo Alagoas: 0,681, Pará 0,691 e Maranhão com 0,694, por exemplo, possuem os menores índices. Um exemplo médio é Mato Grosso, com 0,780.

Ao contrário do que alguns autores afirmam, implica que Santa Catarina não possui apenas um “ligeiro” índice de desenvolvimento melhor. Significa que está sim acima da média nacional, mesmo com dificuldades do cenário contemporâneo em relação ao pós pandemia. Além disso, considere-se as adversidades de uma economia globalizada e a sujeição às diretrizes de Brasília, o que dificultaria e levaria também ao mesmo destino de outras unidades da federação e, mesmo assim, os indicadores demostram o contrário.

É importante ressaltar que o IDH é não somente um índice que mede tamanho de economia ou fatores de produção. Mede qualidade de vida, ou seja, acesso aos meios que podem transformar a vida das pessoas e trazer a devida mobilidade social, algo comum onde pessoas com baixo poder aquisitivo conseguem emergir pela sua força de trabalho. Numa sociedade capitalista, há uma contínua mobilidade – pobres que enriquecem e descendentes de gente rica que perdem a fortuna e se tornam pobres (MISES, 2018.p.66).

Olhando para o perfil de muitos empreendedores de Santa Catarina, percebe-se isso: empreendimentos, muitos ligados ao setor agroindustrial, que prosperaram e outros acabaram ficando pelo caminho. Cidadãos que emergiram na sistemática da mobilidade social, iniciando sua vida numa determinada classe e emergindo socialmente. É claro que devido a cenários e oportunidades, esta não pode ser uma afirmativa determinista, porém está muito presente em exemplos nesta unidade da federação.

A partir do que foi exposto no texto, fica claro que existe uma diversidade cultural e por consequência econômica que torna o estado catarinense com algumas singularidades, as quais são determinantes para o seu desenvolvimento. Muitas ações, a partir deste cenário, são possíveis serem tomadas localmente, trazendo uma característica descentralizada para a economia e também nos resultados dentro das políticas públicas existentes.

Prof. Leonardo Furtado da Silva, Doutor em Desenvolvimento Regional.

1 Comentário

  1. Esqueceu de Itajaí e região. Ouconfunde esse tal de Vale do Itajaí (ou será Vale, Vale Europeu, Médio Vale e pasmem, agora Vale da cerveja). Itajai é a cidade que mais cresce em SC. Economicamente e na população. Mais uns 10 anos empata ou passa Blumenau no quesito populacional. Economicamente já ultrapassou e dobrou sobre Blumenau. Cidade que se silencia diante de uma grande empresa histórica e de valor imensurável para a economia da cidade que está indo para uma cidade vizinha. Já que pelo que se viu e ouviu não mexeu uma palha para encontrar um lugar e instalar essa poderosa empresa na sua terra natal.

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