Opinião | 100 dias de governo: e a comunicação digital do Presidente Lula?

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Nesta semana, o terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva atingiu a marca de 100 dias e, desde então, muitas análises estão sendo realizadas em torno do que o chefe do executivo federal tem dito e publicado em suas redes sociais.

Direcionamos nossa pesquisa para o canal em que Lula acumula um maior número de fãs, o Instagram, que atualmente conta com 12.963.240 seguidores. Nestes 100 dias, 352 conteúdos foram publicados e são eles os objetos dessa análise.

Por meio da plataforma de monitoramento MonitoraBR, realizamos o tagueamento de todas as postagens realizadas no período e, utilizando o relatório analítico gerado para direcionar a compreensão e a lógica dos temas abordados, foi possível elencar pontos de atenção encontrados ao longo da análise.

Sem sombra de dúvidas, a pauta mais abordada nos canais do presidente brasileiro foram suas viagens internacionais e a temática de retomada de relações do país com as demais economias do mundo. Destaque para sua passagem pela Argentina, que representou quase 5% de todo o conteúdo publicado ao longo dos 100 primeiros dias de governo.

O que isso significa?

Bem, primeiramente, é possível que a ideia por trás das 17 postagens realizadas no Instagram de Lula tenham mesmo como objetivo o reforço da mensagem de que estamos novamente inserindo o Brasil no diálogo com o mundo, contrapondo a percepção de distanciamento diplomático deixado por seu antecessor.

Ainda sobre as agendas internacionais, outras 17 publicações abordaram o assunto, fazendo com que as viagens para outros países representem 10% de tudo o que foi publicado ao longo do período em questão.

Considerando o grande rol de temáticas prioritárias dentro da agenda de governo, é possível inferir que a garantia da visibilidade das ações da política externa foi o primeiro grande movimento do líder em seus canais digitais. Se essa estratégia conversa com o eleitor prioritário de Lula ou não, é pauta para um novo artigo.

Ainda avaliando as temáticas mais abordadas, a pauta dos povos indígenas ou originários, teve grande destaque, contando com 18 publicações, sendo 10 delas sobre a mortandade dos Yanomamis no norte do país.

O que temos de coincidências até aqui? Ambas as pautas mais abordadas ecoam num salão que permaneceu praticamente vazio durante os últimos quatro anos. Explico.

Tanto a falta de diplomacia quanto o abandono dos povos originários foram legados negativos deixados por Bolsonaro e, observando os conteúdos da rede social do atual presidente, é possível enxergar a exploração – no sentido literal – dessas temáticas que não foram priorizadas.

Ainda sob essa perspectiva, os conteúdos que reforçaram a abertura das portas do Planalto para prefeitos e governadores totalizam 14 publicações ao longo desses 100 dias.

E as pautas sociais e prioridades do governo?

Apesar de os estudos realizados por meio da análise dos conteúdos publicados por Lula evidenciarem uma aposta nos temas que reforçam a ideia de má gestão de seu antecessor, as pautas mais abordadas ao longo da campanha eleitoral também foram exploradas.

Confira o quantitativo de publicações por temática:

Bolsa Família – 11 publicações
Minha Casa Minha Vida – 13 publicações
Combate à fome – 7 publicações
Vacinação – 8 publicações

A questão econômica ligada à pasta de Fernando Haddad, tão abordada ao longo do período eleitoral, provavelmente pela complexidade das informações e propostas, apresentou apenas duas menções ao tão aclamado Arcabouço Fiscal.

Uma percepção geral sobre os conteúdos é a escolha pela repetição de fotos e vídeos com a mesma temática e a falta de aprofundamento no texto dos posts. São belas imagens, ótimos discursos e falas motivacionais do líder petista, mas a explicação das temáticas abordadas aos internautas ainda deixa a desejar.

Por falar em belas imagens, a ferramenta de análise de tags do MonitoraBR gera uma nuvem com as palavras mais utilizadas nas publicações, em primeiro lugar aparece o nome do icônico fotógrafo Ricardo Stuckert, que tem seu nome creditado na maioria das imagens disponibilizadas na rede social de Lula.

Além do nome do fotógrafo, os termos “povo brasileiro”, “democracia” e “cuidar” são os mais repetidos nas publicações ao longo dos 100 dias analisados.

De fato, a rede reflete o compromisso com as ruas, a dúvida que fica é se existe uma clara compreensão do que vem sendo dito e se este conteúdo tem o poder de conversar com os 49% de eleitores que depositaram seus votos em Bolsonaro.

Isso, só os próximos 1362 dias poderão nos dizer.

Fernanda Camargos, especialista em marketing político e governamental.

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