Globo Repórter e o entretenimento informativo

foto: divulgação

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alexandre gonçalves

Alexandre Gonçalves

Jornalista

 

O Globo Repórter sobre o Vale Europeu, exibido nesta sexta-feira,  gera várias reflexões. Nas redes sociais, percebe-se críticas e defesas. Muita gente boa está se manifestando e este é um debate com vários pontos de vista.

Quero cutucar este vespeiro, pelo lado do jornalismo.

Com a experiência de 25 anos de televisão, sempre digo que se pratica o entretenimento informativo nas emissoras comerciais regionais.

Um jornalismo superficial, de relacionamento.

As reportagens exibidas em rede nacional nesta sexta-feira a noite pela Globo não são novidades, são aspectos particulares do dia a dia  da nossa região, praticados por um grupo restrito de pessoas, projetados para todo o país. Não há ineditismo da pauta.

O cicloturismo, o turismo de aventura, as cucas, o alemão em sala de aula, a natureza exuberante, são imagens emblemáticas das possibilidades naturais da nossa região e da vocação dos moradores daqui.

Das quais devemos nos orgulhar, como cidadãos do Vale do Itajaí, transformado, por estratégia de marketing, em Vale Europeu.

As reportagens do Globo Repórter foram muito bonitas, bem executadas no padrão Globo de qualidade.

O problema é o que se tenta vender, o “business”.

Aliás, esta situação é tão forte e importante, que reuniu a direção e o comercial da RBS,  políticos, empresários e pessoas ligadas ao meio publicitário em uma ação de marketing da emissora na última sexta-feira, no restaurante Eisenbahn Bierhaus, na Vila Germânica. Com direito a entradas ao  vivo no Jornal do Almoço, carro chefe da programação regional.

Dizer em rede nacional que no Vale Europeu se  paga os melhores salários e sobra emprego é verdade? Que a saúde e a educação são de qualidade? A distância entre pobres e ricos é menor?

Menos.

Ou seja, se vende imagem, esteriótipos. Não a vida real.

Isso me lembra uma situação bizarra, que as emissoras de televisão daqui vivem para atender as expectativas dos telejornais de rede, estaduais ou nacionais, em tempos especiais, como Copa do Mundo ou eventos como Festa Pomerana e Oktoberfest.  No começo da manhã colocam bandas típicas na Vila Germânica, reúnem grupo folclóricos, servindo chope e pratos como joelho de porco às sete da manhã, com a ajuda valiosa das  assessorias de imprensa.

Afinal, somos uma cidade de alemães!

Como se fosse verdade, às sete da manhã. Mas vale a imagem vendida,  parte de uma engrenagem da industria cultural, do qual o jornalismo está incluído.

Não interessa saber que os índices de saneamento na regão são ridículos, que a espera em alguns atendimentos na área da saúde supera um ano, que 4 mil crianças não tem creche, que nossas rodovias estão estranguladas, nossa insegurança cresce diariamente, o nosso transporte coletivo vive um colapso, etc…

Não faz parte da pauta.

Entendo o entretenimento informativo da televisão, atuei nele nos últimos 11 anos.

Mas não é jornalismo.

No dia que soubemos da morte de Umberto Eco, um dos maiores pensadores do último século, com vínculos na linguística e comunicação, é preciso dizer que a sociedade vive de reproduzir símbolos, emitidos por quem detém o poder de fazer a roda andar.

O Globo Repórter desta sexta-feira, sobre o Vale Europeu, é mais um exemplo disto.

Vende-se uma imagem.

Ponto.

vale europeu

1 Comentário

  1. Parabenizo o jornalista Alexandre Gonçalves, pela sua coragem, sinceridade e, principalmente a coerência em tratar com a realidade de nossa região. Díficil hoje, encontrarmos jornalistas não alienados, beijando a mão, como submissos, deixando suas próprias opiniões e conhecimentos galgarem os patamares das mentiras e ilusões, diminuindo ou até esquecendo seus princípios de honestidade e verdacidade, perante as informações que deve prestar à toda uma sociedade.

    A venda de ilusões da vida tranquila, com recheios de arco iris onde tudo é como um reino das mil e uma noites e maravilhas de um reino encantado, pelos meios televisivos, estão ultrapassando os limites de tudo que possamos imaginar sobre mentiras ou verdades. Estamos no século XXI e a imprensa continua a pensar e a interpretar o ser humano, como um completo idiota e alienado sem poder de raciocínio próprio, e que não tem sensibilidade alguma em seus 3 maiores sentidos de, visão, tato e audição. Por isso, nos dias de hoje, os jornais, revistas e programas de televisão, com raríssimas exceções, podem ser classificados como sendo um dos grandes e maiores males, para boa formação de uma sociedade e seus comportamentos.

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