Mudar de opinião: um direito, um dever, um orgulho

marina_melz_100x100Coluna:

MARINA MELZ
jornalista

Eu odiava figo. Banana, então, não podia nem sentir o cheiro. Achava que feministas eram radicais demais (beiravam o exagero). Não conseguia imaginar uma refeição sem carne. Repetia aos quatro ventos que videogame era coisa besta, perda completa e absoluta de tempo. Cotas? Um absurdo. Brigamos? É pra sempre. Comprar um apartamento? Maior sonho da minha vida.

E aí, um dia, mudou tudo. Percebi que eu estava errada. Aos murros, pontapés, informações e aquelas coisas que a vida faz com a gente. Hoje sou feliz comendo figo e banana, sendo feminista, tentando ser vegetariana, despressurizando com os jogos mais legais do videogame, defendendo as cotas, retomando velhas amizades e morando de aluguel. Vida louca, né?

Tempos atrás estava na moda procurar tweets antigos de celebridades para criticar. Tudo bem que racista e homofóbica nunca fui, mas fiquei pensando que poderia ser comigo. E que atire a primeira pedra quem passaria imune a um raio-x digital.

Nunca antes nossas opiniões estiveram registradas em bytes. Os cadernos de perguntas (só eu sou dessa época?) sumiam com o tempo, as palavras eram contraditas (“eu nunca disse isso, juro!”) e ficava o dito pelo não dito. Mudar de opinião era vergonhoso para os poucos que faziam parte da galera. Uma festinha quase íntima em que você era zoado por cinco minutos e depois passava.

Agora não. Nessa vida onde todos somos celebridades e voyeurs da vida alheia, vivemos na época da patrulha. Todo mundo opina sobre tudo, logo todos estão aptos às retaliações e, talvez pior que isso, a atirar todas as pedras (e emojis, memes, reactions) a quem muda de opinião.

O mundo está se tornando um lugar chato, onde ficar em cima do muro (aquele lugar maravilhoso onde se enxerga os dois lados) é um problema, posicionar-se sem conhecimento de causa é outro e mudar de opinião, então, uma verdadeira catástrofe.

De todos esses sinais dos novos tempos, o que mais me incomoda é um julgamento sobre a metamorfose do outro.

Mudar é humano, vital, essencial e lindo. E se pararmos de ver nisso um problema, talvez possamos usar as celebridades que mudam de opinião como exemplo a ser seguido. Afinal de contas, manter a mesma visão de mundo por uma vida inteira, além de chato, pode fazer de você alguém realmente amargo. Eu adicionei figo e minha vida ficou mais doce.

2 Comentário

  1. Olá, Marina Melz!

    Se algum dia você votou no pt (em propositais minúsculas) e, agora, mudou, parabéns! Rsrsrsrs…

    Li e reli com muito gosto o seu artigo/opinião.

    Eu também mudo de opinião e considero isso salutar.

    O senso comum diz que somente louco é que tem ideias fixas.

    O que penso sobre o pt, porém, é ideia fixa, Marina!

    A senhora já estava pensando que eu fosse perfeito, mas acabou de mudar de ideia, rsrsrsrs…

    Mas vamos ao que interessa:

    “…e morando de aluguel.” Mude, sempre, Marina Melz, para “moro em casa alugada” ou “pago aluguel onde moro”.

    “Todo mundo opina sobre…” MUDE, sempre, para “Todo o mundo opina sobre…”

    Outro erro muito comum (não está no seu texto, obviamente) é usar esta frase, totalmente sem nexo e por demais estúpida: “Para portadores de necessidades especiais”.

    Troquemos, SEMPRE, por “Para pessoas necessitadas de cuidados especiais” ou “Para pessoas necessitadas de atenção especial”.

    Consideremos esta frase: Eu, Alcino Carrancho, sou portador de necessidade de dinheiro. É verdade, mas não vem ao caso, eheheheheheh…

    Que frase horrível, não é?

    MUDE, Marina Melz!

    Os seus leitores agradecerão…

    E a senhora poderá ganhar o Pulitzer Prize.

    Já imaginou?

  2. O que é ser celebridade ?

    Ator da Globo, jogador de futebol , político ?

    Celebridade era meu pai , que mostrou-me como ser um homem de caráter e dignidade .

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