Opinião | Tiro, porrada e bomba

Foto: Luis Robayo/AFP

A violência se tornou comum no Rio de Janeiro a ponto de se misturar com o universo do humor. Por lá, um homem conhecido como Jairo “Cagão”, que não devia ter esse apelido por ser o mais corajoso da “quebrada”, era líder do tráfico e, mesmo assim, acabou morto no último dia 14. 

Mas se a violência vitima a bandidagem, a polícia também não sai ilesa, como comprovam as 44 mortes de agentes nesse ano. Pior ainda para o povo, que mesmo se for médico e estiver em uma área nobre, pode acabar assassinado, como ocorreu com o irmão da deputada Sâmia Bonfim (PSOL). Ironicamente, nem para a milícia está tranquilo, já que foi a morte de um deles que motivou o caos dos 35 ônibus queimados na última segunda-feira, dia 23. 

Infelizmente, esse não se trata de um caso isolado, como verificado no ano passado no Rio Grande do Norte e na recente crise na segurança pública na Bahia. Nesse contexto, “haja tentáculo para o governo Lula” acudir tudo ao mesmo tempo: é discussão sobre o Marco Temporal aqui, desoneração da folha de pagamento ali, a presidência temporária do Conselho de Segurança da ONU lá, seca em Manaus, enchentes do sul e, agora, a crise no Rio. 

Como triste consequência da violência, o medo alimenta diferenças entre as regiões, como verificado em discurso do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). No caso, ele comparou o Consórcio Sul-Sudeste (COSUD) à União Europeia e sugeriu a criação de uma aliança como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para promover mais segurança para a região. Pois é, mas nessa formação para garantir a segurança estaria o… Rio de Janeiro??? 

A guerra contra as dívidas 

Na Argentina, a violência tem mais a ver com o eterno problema da inflação. Prova disso foi o flagrante do cantor inglês, Rod Stewart, que ainda há quem confunda com a apresentadora Ana Maria Braga, passeando a pé por Buenos Aires. Com os bolsos cheios de euros, deve ter comprado metade do país.

Desesperados para que piadinhas como essa se tornem coisa do passado, muitos votaram em Javier Milei, candidato de extrema-direita. Não deu para vencer no primeiro turno, mas a surpresa mesmo foi ter sido ultrapassado pelo candidato do governo, Sergio Massa. Convenhamos, não é uma disputa fácil já que o peronista, ministro da Economia, luta pela presidência enquanto pode anunciar novidades como a licitação da internet 5G. 

A decisão ficou para 19 de novembro, mas até lá, haja trabalho. Tudo depende dos votos da terceira colocada, Patrícia Bullrich, que já declarou apoio a Milei. Porém, a União Cívica Radical (UCR), que governou o país várias vezes e é o maior partido da coligação, tende a apoiar Massa ou se manter neutro.

Só quem viveu a hiperinflação brasileira para entender por que parte da população enxerga em Milei, um candidato contra tudo e todos, uma saída. É o mesmo desespero que fez de Fernando Collor presidente do Brasil. Boa sorte para os hermanos, mas aqui a coisa não deu muito certo.

Fernando Ringel, jornalista e professor universitário

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