Opinião | Reflexões filosóficas gregas – Parte II – Argos e a vida alheia

Imagem: reprodução

Neste segundo texto vinculado à Mitologia, se abordará a figura de Argos Panoptes, em grego Ἄργος Πανόπτης,” ou Argos, que tudo vê. Esta criatura, para os gregos, foi criada pela deusa Hera, para ficar de olho em seu marido, Zeus. Esta criatura, tinha cem olhos, de modo que, enquanto a metade descansava, a outra metade ficava em vigília, de modo a sempre estar sabendo de tudo o que acontecia.

Esta figura foi criada por ciúmes, pois Hera, queria sempre saber por onde, e principalmente, com que andava Zeus, que era conhecido pelos seus constantes relacionamentos íntimos com várias amantes, inclusive mortais. Argos é simbolizado pelo pavão, que, por vezes, por conta de suas plumas, parece vários olhos, como forma de confundir seu predador. 

Evidentemente que a figura grega, não se preocupava com predadores, mas em observar os movimentos de Zeus, bem como de sua amante, fazendo com que Hera sempre soubesse do paradeiro do Deus do Trovão.

Pois bem, esta figura bizarra, representa de maneira esplêndida uma característica humana, a necessidade de informação, de conhecimento. Não por nada, esta figura inspira o adjetivo argúcia, que tem entre os significados, perspicácia e agudez em análise, demonstrando a vocação humana pelo saber, pelo conhecimento.

Mas é sinônimo, não menos importante, nem menos presente nas pessoas, outros sinônimos de argúcia, o de sofisma (mentira), lábia e artifício. Colocando este elemento numa perspectiva contemporânea, parece ser de sobremaneira acertado afirmar que a argúcia, com suas duas modalidades de significado, seja uma perfeita representação do ser humano nas redes sociais.

De um lado, se têm a consciência de um vasto acesso ao conhecimento, a informação, assim como Hera tinha através de Argos Panoptes, permitindo observar a realidade de modo constante, garantindo a manutenção de seus interesses.

Parece que, as redes sociais, em toda a sua complexidade fornecimento de informação, representam de uma forma bastante precisa toda a complexidade da argúcia, seja como informação, que pode ser benéfica a todos, como aparecer como representação sofistica, representando um engodo, com flagrante intenção de promover a caótica desinformação.

Neste último contexto, parece que grande parte da população rejeita muito da busca da informação, que não é necessariamente uma característica majoritariamente na população, para se dedicar a face sofistica de Argos Panoptes, se dedicando a compartilhar a desinformação de modo irrestrito. 

Neste momento a Filosofia, através de sua relação com todo o processo educacional, como forma de promoção de reflexões sobre o humano e sua relação com o meio, promovendo uma interpretação do mundo com base na razão, não através de engodos falaciosos, que buscam manter o poder daqueles que, são os verdadeiros donos das centenas de olhos.

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