Opinião | O Brasil das últimas três décadas: da quebra de monopólios a polarização

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As últimas três décadas após o período de estagnação econômica dos anos 1980, ou seja, a partir da década de 1990, mostraram-se um período de transformações, contradições, avanços e ao mesmo tempo de frustrações para os brasileiros.  O fim do governo José Sarney e as primeiras eleições livres após 29 anos de jejum eleitoral, em 1989, trouxeram debate, esperança, acirramento e a formatação de uma polarização futura. Várias candidaturas foram postas à disposição dos eleitores brasileiros, políticos de carreira tradicionais, promessas e anônimos que viraram personalidades, tanto pelo folclorismo, bem como pelo conhecimento, como é o caso do Dr. Enéas.

Mas as principais correntes políticas acabaram se afunilando em Fernando Collor de Mello (eleito), Luís Ignácio Lula da Silva (Lula), segundo colocado e Leonel Brizola, que quase chegou ao segundo turno mas acabou não triunfando, ficando em terceiro Lugar. No segundo turno, Collor e Lula se enfrentaram. Lula com o apoio dos seus principais opositores do primeiro turno (Brizola e Covas, por exemplo) enfrentou Collor que tinha ao seu lado apoio discreto de partidos e políticos de seu espectro, o centro direita, contra Lula na esquerda e centro esquerda. A proposta mais liberal de Collor prosperou e com 53.03% dos votos foi eleito presidente pelo PRN – Partido da Reconstrução Nacional.

O período foi de abertura econômica, diminuição da hiperinflação, quebra de monopólios (informática e setor automobilístico, por exemplo) e privatizações, porém com muitos conflitos de interesses e denúncias de corrupção, envolvendo a própria família e a partir destas denúncias, feitas pelo seu irmão, Pedro Collor. Fernando Collor acabou deposto por Impeachment, assumindo Itamar Franco, criador do plano real que trouxe estabilidade nos preços e a continuidade do liberalismo econômico, acrescido da valorização e paridade cambial, dólar/real.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos idealizadores do plano (ministro da economia de Itamar), se elege presidente já no primeiro turno em 1994 e em 1998 com 54,28% e 53,6% respectivamente. Por um lado, sua vitória e o plano real trouxeram o fim da inflação, modernização da economia e avanço nas privatizações, porém ocorreu um crescimento do desemprego e baixa nas exportações, devido à valorização cambial.

Na eleição de 2002, com a bandeira da geração de empregos e justiça social, Luís Ignácio Lula da Silva do PT se elege presidente com 61,27% dos votos, vencendo José Serra do PSDB no segundo turno e em 2006, eleito novamente com 60,83%, desta vez derrotando Geraldo Alckmin, também do PSDB. O período foi marcado por avanços sociais, crescimento econômico (acompanhando a alta das commodities e tendências da economia globalizada) e graves escândalos de corrupção, como foi o caso do mensalão, desmantelado em 2005.

Após o período Lula, vieram as duas eleições de Dilma Rousseff do PT em 2010 e 2014, vencendo José Serra e Aécio Neves no segundo turno respectivamente, com 56,05 e 51,64%. A era Dilma foi marcada por uma política econômica mais intervencionista do estado, amargou alguns resultados negativos na economia, com grave crise que levou o Brasil a uma recessão econômica sem precedentes. Aliando o fracasso na economia, retrocessos nas conquistas sociais de seu antecessor e também o maior escândalo de corrupção da história do Brasil (chamado petrolão desmantelado pela operação lava jato), acabou deposta por Impeachment em 2016.

Michel Temer do MDB – Movimento Democrático Brasileiro assumiu em seu lugar, um presidente impopular, porém com boa visão jurídica e habilidade de relacionamentos no campo político, conseguiu retirar o Brasil de um quadro quase depressivo. Também é importante registrar que em seu governo houveram algumas denúncias de corrupção.

Em 2018, com o quadro político brasileiro tradicional bastante deteriorado, o capitão reformado do exército e deputado federal Jair Messias Bolsonaro se elege presidente do Brasil, com 55,13% dos votos, derrotando o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad do PT. Bolsonaro foi eleito pelo PSL – Partido Social Liberal. O período foi marcado por muita confusão política, pandemia, falta de articulação e diálogo com congressistas e mesmo a sociedade, meios de comunicação, por exemplo. Apesar de muitas dificuldades relacionais, houve uma boa entrega final na economia, como controle da inflação, desemprego em baixa (7,9% em dezembro de 2022) em relação à média mundial do período pandêmico e recuperação do crescimento econômico.

Em 2022, com uma polarização que já dividia a sociedade brasileira, falta de adversários competitivos, a esquerda brasileira, e parte do centro, trouxeram de volta ao cenário político, Lula, ex-presidente, condenando em três instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro, para ser o oponente de Bolsonaro. Em uma eleição marcada pela polarização, acontece o confronto mais acirrado da história do Brasil redemocratizado, com vitória de Lula, por apenas 1,8 pontos percentuais de vantagem: 50,9% a 49,1%. O vice de Lula foi Geraldo Alckmin, antigo adversário ferrenho que o acusava por corrupção em seus discursos.

Em janeiro de 2023, após a posse de Lula e Alckmin, o governo inicia, sem uma clareza de projeto, com poucas novidades de propostas, até mesmo para setores que o PT sempre defendeu como bandeiras, como é o caso da educação. Na economia – a indecisão sobre o ministro devido a polêmica do teto de gastos – Henrique Meirelles, Guido Mantega e Armínio Fraga foram cobiçados, porém rejeitaram, com isso, o advogado Fernando Haddad assumiu a missão de conduzir a pasta.

As divergências sobre juros com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, têm sido o centro das atenções no início de mandato, porém com prejuízo ao país por falta de consenso e diálogo. Segue a polarização, acirramento de ânimos e ainda estamos longe de uma pacificação, justamente pelos polos opostos ainda estarem no centro das discussões. A falta de articulação política faz com que projetos importantes estejam atrasados, mesmo nas discussões no congresso nacional, como é o caso da reforma fiscal.  É importante destacar que o atual presidente utiliza muito os erros do mandatário anterior para justificar a fragilidade de seu governo, o que não contribui para o desenvolvimento do país.

Prof. Leonardo Furtado da Silva, doutor em Desenvolvimento Regional.

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