Opinião | Nem as chuvas baixaram a temperatura política: e isso é muito ruim!

Foto: reprodução

“Não perca mais tempo discutindo sobre como uma pessoa boa deveria ser. Seja uma!” Isso já basta. É o suficiente para fazer o seu mínimo para transformar o mundo em um lugar muito melhor. Um pouquinho de cada, um olhar apurado para as nossas ações, podem fazer a mágica acontecer, com a capacidade aquecer os corações mais gelados e reconectar os valores de cidadania que vão se perdendo na dureza dos dias. E a lição ensinada pelo velho filósofo, Marco Aurélio, deveria avançar, refletindo nos gestos dos atores da política, de animadores partidários aos eleitos.
As enchentes que preocupam, causam transtornos e prejuízos para os catarinenses parece não ser mais um motivo suficiente para reduzir a tensão política no Estado. Neste tempo estranho, que assistimos aflitos os dias avançarem freneticamente, tudo parece ser binário. Incrivelmente, em um dado momento deste século, acordamos em um planeta recheado de certezas. A dúvida, o contraditório, a ressalva parece que desapareceu. Todos possuem a clareza que a sua forma, o seu desejo, aquela opinião simpática é a melhor maneira de resolver o problema, sem espaço algum para um outro olhar que possa complementar ou corrigir a rota.

Diz a ciência que é natural, desde os nossos antepassados, que decisões ganhem primeiro a preferência de um lado da disputa e, depois, argumentos são juntados para legitimar a ideia e/ ou pessoa defendida. E isso corre por uma velha necessidade de espelhar o comportamento do grupo que o indivíduo deseja o aceite, o pertencimento.

Em 2023, um ano após as eleições, possivelmente Santa Catarina é o Estado que mais manteve a característica da última disputa presidencial: ou você segue, como um cordeirinho, as opiniões do “lado” que está ou seu pensamento não se encaixa. Nesta enchente, ao que parece, as decisões técnicas ganharam contornos dramáticos, como enfrentar verdadeiros monstros que atentavam contra a vida. Se as barragens são construídas para frear o avanço do nível do rio, no campo das ideias verdadeiras muralhas foram erguidas separando, em categorias, os cidadãos catarinenses.
Tudo isso é péssimo para quem deseja apenas tocar sua vida, encontrar aqui no Estado um ambiente saudável para desenvolver suas atividades, conviver com amigos e familiares. Durante décadas os moradores partilham de problemas causados por um relacionamento conflituoso com a natureza sem muitas preocupações. Até a enchente deste ano, a organização exemplar dos órgãos de defesa e proteção transmitia tranquilidade e facilidade para planejar o caminhar entre subidas e descidas dos rios. A sensação de insegurança, de bagunça, inabilidade, truculência e de resolução dos protocolos na base do grito elevaram o nervosismo e acrescentaram dúvidas nos procedimentos envolvendo eventos climáticos.

A falta de cuidado com os gestos e comunicações não contribuem em nada para um olhar carinhoso e solidário de outras unidades federativas do Brasil aos afetados por tragédias em Santa Catarina. Todos têm direito a uma opinião… também de receber as consequências por elas. Coletivamente, nos últimos anos, é inegável que uma coleção de comportamentos difíceis – para ser bem leve -, brotou nestas terras.

Ações como a realizada na última sexta-feira, dia 13, por Jorginho Mello (PL), mobilizando a estrutura do governo para uma manifestação política em um momento de emergência em 50% dos municípios catarinenses, não contribui para melhorar, resgatar ou conquistar a simpatia do restante do país. Também não refresca a temperatura política, nem evita o sofrimento de um mísero cidadão qualquer. Definitivamente, a decisão do governador caiu do céu como uma chuva na cabeça dos catarinenses: encharcando cada um com águas fervilhantes de uma política divisionista, em um momento que implora-se por equilibro e unidade.

Marco Aurélio, o estoico, talvez seja um bom professor para aqueles que exercitam a política atualmente. A exemplo do que deixou como ensinamento o imperador-filósofo, que Jorginho e tantos outros possam dar um tempo nas discussões e tratar de ser pessoas melhores.

P.S: parabéns a todos os professores por este seu dia.

Tarciso Souza, jornalista e empresário