Opinião: não é só pela participação política

Foto: arquivo pessoal

Nesta semana, dia 8, lembramos sobre o Dia Internacional da Mulher e muitas foram as postagens em redes sociais falando da nossa participação nas conquistas do mundo e, em especial, na política. Então, sendo uma mulher que participa e vive a política, acredito ser justo e necessário escrever sobre essa experiência que tenho há pouco mais de cinco anos e o que ela representa para uma mulher.

Até então eu era apenas uma militante de partido. Alguém que levantava a bandeira e fazia campanha para outras pessoas, mas no fundo eu tinha certeza que cedo ou tarde eu iria querer vivenciar a linha de frente, ser candidata, ter um santinho e percorrer as ruas pedindo voto pra mim. Eu sempre coloquei muita expectativa em cima dos outros candidatos, ficava revoltada quando as atitudes dos que ajudei a eleger não eram compatíveis com os meus pensamentos e ideias. Então, o único jeito foi realmente ser candidata.

No início foi muito mais difícil por ser nova. As pessoas tinham um pé atrás. Imagina! De um lado uma guria de 23 anos dizendo que podia fazer mais e melhor sem nenhuma experiência e, no outro, homens na faixa dos 50, 60 anos com alguns mandatos nas costas. Enfim. Naquela oportunidade, duas mulheres eleitas para a Câmara de Gaspar. Em resumo do resumo, na eleição de 2020, três mulheres para o Poder Legislativo Gasparense.

Mas por qual motivo nos (aqui falo sobre a maioria) surpreendemos quando mais mulheres participam da política como candidatas ou eleitas? Eu respondo. Porque durante – e ainda – uma vida toda lutamos por esse espaço que sempre foi tão predominado por homens. E, cara, sinceramente, conquistamos isso não apenas com diálogo, mas com luta, manifestação, barulho. A história mostra. É inaceitável alguém querer por panos quentes em cima dessa vitória que é sim de nós, mulheres.

Além disso, é de se surpreender mesmo com campanhas e mandatos femininos. A legislação eleitoral diz que 30% é direcionado para a cota de gênero, mas na prática essa cota é toda feminina. Qualquer chapa política que vai disputar uma eleição sabe do perrengue que é encontrar candidatos no geral, mas mulheres é ainda mais difícil. Prova disso são as diversas denúncias todos os dias sobre chapa de laranja. Ou seja, por candidatas apenas pra cobrir a cota obrigatória. Péssimo. Não era essa a intenção de termos as cotas.

E por qual razão isso acontece? Bem, nós não temos apoio dos partidos e muitas vezes nem dos familiares. Além disso, esse desejo não é despertado durante a infância e adolescência. Tu passa mais de dez anos na escola e sai sem aprender nada de política e não estou falando da partidária ou sobre doutrina, estou falando da política útil e importante para a cidadania. É a política sobre valores e princípios comuns de como viver em sociedade.

Ainda, nossas referências são apenas masculinas, como mostra a foto aqui dessa coluna. A gente não se vê, não se enxerga. Nós não queremos apenas aparecer na foto, nós queremos sentar à mesa, participar e tomar decisões, pois não basta eleger mulheres, é preciso eleger mulheres que pensem também em MULHERES! Deu dessa bobiça de dizer que a “ah, a mulher traz sensibilidade para a política”. Não! Não é questão de sensibilidade. É nosso espaço, é nossa vez, temos capacidade, competência, aptidão.

Não é só pela participação política. Precisamos falar sobre política, precisamos estimular candidaturas femininas, apoiar as mulheres que já chegaram lá. Por fim, precisamos que essa seja uma causa de todas e todos nós, uma causa da sociedade. É necessário mudar as referências. A participação está estagnada, parada, porque ainda não conseguimos superar os obstáculos culturais e estruturais. Precisamos virar a página e esse processo é mesmo difícil, moroso e muitas vezes dolorosos, mas se não for agora… que luta e conquista vamos deixar para as meninas? Não é só pela participação na política. É representatividade. É luta. É coragem.

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