Opinião | Meu corpo pertence apenas à mim

Foto: reprodução


Essa semana fomos surpreendidos com uma notícia horrível sobre o caso do anestesista que estuprou uma mulher grávida enquanto ela passava por uma cesariana. Ainda na mesma semana, nesta sexta-feira, 15, um ginecologista
também foi preso acusado de abusos sexuais no Ceará. Não há muito tempo, o caso da menina catarinense de 11 anos que foi estuprada também foi motivo de muitas opiniões nas redes sociais pela população. Além dela, a atriz Klara Castanho também teve a vida exposta por conta do abuso e de uma adoção. Mais uma vez, uma enxurrada de críticas.

Todos esses casos escritos acima aconteceu no Brasil em menos de 30 dias. Esses foram alguns dos relatos que chegaram ao conhecimento da imprensa e das pessoas, mas são milhares de situações como essas diariamente no Brasil e no mundo. Segundo um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2021, o Brasil registrou um estupro a cada dez minutos e um feminicídio a cada sete horas. Esse documento foi feito a partir dos boletins de ocorrência das Polícias Civis das 27 unidades da federação.

O mais interessante disso tudo é que a lei brasileira diz que qualquer relação sexual com menor de 14 anos é considerada estupro de vulnerável. Ainda, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também prevê a possibilidade da gestante entregar o filho para adoção em um procedimento acompanhado pelo Judiciário. Além disso, existe também a lei 12.650/2012 que mudou o prazo de prescrição do crime de violência sexual contra crianças, ou seja, as denúncias podem ocorrer até 20 anos depois de ter acontecido.

Mesmo com tudo isso previsto em lei, as mulheres estupradas – que foram citadas nesta coluna – foram esculachadas, criticadas e humilhadas por esse falso moralismo da nossa sociedade, que ao invés de acolher, afasta, que em vez de amparar, julga. Que atire a primeira pedra a mulher que nunca se sentiu ameaçada, nunca se sentiu ou foi violentada seja por meio de palavras, gestos ou ações. Você, mulher, já parou para pensar quantas atividades deixou de fazer por medo? Quais roupas quis usar e desistiu? Quantas vezes precisou optar em ir de carro, pois a pé poderia ser perigoso?

Pois é! Esse medo é constante. É em todas as idades. É em qualquer ambiente. Mulher está sempre atenta. Não descansa nunca. O estupro nos causa vergonha, traz repulsa do próprio corpo, medo dos julgamentos, das opiniões, da exposição que a vítima acaba tendo mesmo devendo ser preservada. Violar um corpo deixa um vazio emocional gigante. Afinal, essa violação dói. Ela atinge não apenas o corpo e a cabeça, mas principalmente a alma. Toda mulher tem mais de uma história para contar. Tenho certeza que se você leu esse texto até o final já te veio várias lembranças difíceis na cabeça.

Mas eu quero te lembrar que o meu corpo pertence apenas à mim. Enquanto fingem não nos ouvir, gritemos o mais alto que pudermos. Enquanto fingem não nos ver, abanemos os braços o mais alto possível. Enquanto não nos levam a sério, continuemos a nos posicionar o máximo que pudermos. Que sejamos nós essa força para outras de NÓS também se sentirem encorajadas, pois eu sei que quando você anda na rua sozinha e avista uma mulher, se sente mais tranquila e segura.

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