Opinião | Guilherme de Ockham, a razão na Navalha

Imagem: reprodução


O pensador Guilherme de Ockham (1288–1347) e seu pensamento sobre a realidade costuma ser tema do conteúdo de aulas da disciplina de Filosofia para os alunos matriculados no ensino médio, geralmente gera o comentário; “para que vou estudar este tipo de sujeito?”. Pois bem, ele desenvolveu um método, que ficou conhecido como a Navalha de Ockham.

Este método foi uma forma (dentre tantas já feitas, por diversos pensadores) de encerrar a necessidade da reflexão filosófica sobre as coisas. Para esta forma de compreensão, que é muito facilmente encontrada no cidadão brasileiro contemporâneo, que não anseia refletir de maneira mais profunda sobre a realidade.

Para Ockham, apesar de haver diversas respostas para as situações que são propostas pela realidade, não se deve buscar um grande aprofundamento nas reflexões. Deve-se, para ele, acreditar nas respostas mais simples, que segundo o pensador, seria a resposta correta, fazendo com que, reflexões mais aprofundadas, sejam consideradas, perda de tempo.

Em um mundo contemporâneo onde as informações se espalham mais rápido do que a vontade sincera de compreender a realidade, este parece que acabou sendo o caminho escolhido por grande parte das pessoas. Este direcionamento vai afirmar que, afinal de contas, para que tentar compreender as coisas ao seu redor se já existem respostas prontas.

Provavelmente seja exatamente essa visão de mundo instantâneo, a maior prova que o método da Navalha, talvez não seja o melhor caminho para compreender a realidade. Afinal, a realidade, nos mesmos meios que promovem uma resposta pronta, também se mostra ainda mais diversa e fascinante, tornando a reflexão para decodificar tantos dados, indispensável.

Ockham com sua Navalha, tentou criar uma forma afirmativa e simplificada para navegar no complexo mar da realidade. Mas, parece que justamente esta embarcação, a priori tão segura, tende a ser engolida por ondas de dúvidas, chocando-se conda paredões das dúvidas das mentes curiosas. E são estas mentes curiosas que, desafiando o fio da Navalha, promovem o desenvolvimento do saber humano.

Em uma contemporaneidade, onde em redes sociais fornecem respostas prontas para qualquer questionamento, bem como argumentos acalorados para justificar qualquer ponto de vista, por mais absurdo que o mesmo venha a ser, parece que concepção de Ockham é presença real. Afinal, basta que procure apenas uma única vez, alguma informação sobre um assunto, que serão fornecidos páginas e vídeos de respostas prontas.

Será que a forma de interpretação de Ockham está sendo utilizada adequadamente na contemporaneidade? Ou seria ela, neste momento histórico, uma escancarada demonstração de que as pessoas; não buscam mais refletir sobre a realidade em que vivem; buscando apenas uma resposta simples, para amenizar suas angústias e, em alguns casos, dar vão as suas frustrações?

Continuando ainda o caminho questionador, num sentido até, anti-navalha, talvez se deva seguir, a fazer perguntas do tipo: Até que ponto, as resposta prontas realmente são verdadeiras. Será que, ao adotar, como se tem feito, A Navalha como método, não se estaria afiando o fio da guilhotina do pensamento racional? Não seria a vontade de compreender o complexo, uma das maiores distinções da espécie humana, em relação aos outros seres?

Como já deve ter sido possível perceber, esta reflexão, não tem por objetivo traçar certezas, mas, demonstrar que a capacidade de refletir é uma das molas propulsora da humanidade. É uma capacidade humana perceber que, respostas simples, muitas vezes, podem representar uma construção falaciosa, afastando a capacidade humana das verdadeiras conclusões sobre a realidade. Assim, este texto encerra com a pergunta, vale a pena ficar apenas nos limites da Navalha?

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