Opinião | Escolas Cívico-militares: mais defensores que benefícios para sociedade

Foto: PM-SC/Divulgação

Ai, ai… os fetiches de dominação verde-oliva continuam circulando nas ruas e cabeças, feitos insetos dos mais difíceis de combater. E as bandeiras e ideias? Velhas fantasias de espantalho… Agora são as escolas cívico-militares, o último modismo sentimental que escorre, feito baba irracional, do canto da boca dos mais fervorosos defensores da “ordem e progresso”. Parece que estamos diante de uma nova religião, com fiéis ardorosos prontos para nos converter ao seu credo. Tentar argumentar ou debater o assunto é um crime, talvez desconjuro em corpo fechado na ignorância. Mas, pergunto aos que estão livres para pensar, será que essas instituições têm mesmo algum benefício além de satisfazer os desejos de seus adeptos e defensores?

Parece que as escolas cívico-militares têm mais ardentes pregadores do que estudantes matriculados em seu programa. E incluímos nesta conta os pais de alunos das escolas particulares, defendendo para o filho dos outros aquilo que não apoiam para as suas crias.

Quero falar dos números que fazem questionar o modelo implantado no último governo e que será descontinuado na gestão atual. Começo lembrando que nenhuma escola particular do Brasil compreendeu e/ou adotou qualquer coisa semelhante as cívico-militares. Dos 50 milhões de estudantes brasileiros da rede pública, por exemplo, o projeto atende menos de 120 mil “beneficiados” que têm a oportunidade de desfrutar de um ensino supostamente diferenciado. O resto do povo que se contente com a mesmice, não é mesmo?

O custo desta experiência, que abraçou menos de 1% dos estudantes, é elevadíssimo. O Ministério da Educação desembolsa quase R$ 90 milhões por ano para manter os 892 militares da reserva, esses cidadãos “abnegados”, recebendo cerca de R$ 10 mil mensais em 120 escolas cívico-militares, muito além do piso nacional dos professores. Afinal, quem precisa de investimentos em infraestrutura, materiais didáticos ou formação de professores quando se tem militares disciplinadores?

A verdade é que a imensidão de dinheiro destinado ao projeto não foi convertido em benefício nem para maioria, nem para o grupo seleto escolhido para participar. Escolas cívico-militares não ofereceram nenhum ganho educacional em relação à rede pública convencional. O sonho de uma educação de qualidade e diferenciada se esvai como fumaça no ar quando avaliados em um mesmo critério dos demais estudantes excluídos do programa.

E a segurança? Podem argumentar… não podemos esquecer dela! Afinal, com os profissionais da segurança pública presentes nas escolas cívico-militares as crianças estarão seguras, certo? Errado! Uma triste ironia marca estes espaços. Os bárbaros crimes que levam a tragédia para dentro das escolas também ocorreu, mesmo com a presença vigilante dos nossos incansáveis guardiões da ordem, em uma destas instituições. Números de uma triste estatística que aterrorizou toda sociedade nos últimos meses.

A velha maneira de tentar encarar e separar a educação em classes, em grupos e subgrupos, não garantiu sucesso. Reformar o ensino no Brasil demanda mais que palavras de ordem. Eu sou um jornalista, um cisco-empresário, e compreendo que podem dizer que eu sou um idealista, que no mundo não há mais um lugar seguro e que as crianças precisam aprender a se defender. Eu concordo que viver é perigoso – histórica e filosoficamente sempre foi e, talvez, sempre será -, mas a resposta para tudo é a educação. Por isso, acredito que o caminho deveria ser a união nacional para criação de um sistema único de educação, como existe o SUS. Assim, todos os Estados poderiam perseguir a garantiria do direito à educação de qualidade, independentemente de sua condição social, econômica ou localização no mapa brasileiro.

Com todos os problemas que o Sistema Único de Saúde possui, mesmo com a necessidade de aprimoramento contínuo que demanda, é inegável o poder revolucionário que a implantação do Sus proporcionou para saúde o país. É incompreensível que até agora não investimos em uma abordagem semelhante para a educação básica. Gastamos tempo, dinheiro e gerações com experimentos em modelos fragmentados e contraditórios, deixando de buscar um olhar único sobre o ensino. Mesmo que as diferenças de realidades geográficas e culturais existam em um Brasil que equivale a um continente inteiro, considerar objetivos comuns pode trazer aos dias uma urgência para uma educação de qualidade, indutora de igualdade, que os anos foram negligenciando.

E o ensino médio? Parece que esta etapa perdeu o sentido de existir ou, vai saber, serve apenas para preparação do acesso as universidades. Ou existe outra utilidade, no padrão atual, além de ser um mero trampolim para o vestibular.

Enfim, os problemas da educação não começam e, também, não terminam com o modelo educacional falido de hoje. Mas, me parece evidente, o conto de fadas das escolas cívico-militar, que encanta o ouvido de uma parte da sociedade, não é o caminho que oferece minimamente as soluções que o Brasil precisa. Seguimos com desigualdades profundas, com escolas sucateadas e seus estudantes abandonados.

A educação é a única maneira de criar uma sociedade mais justa e igualitária, a única maneira de dar às crianças as ferramentas que elas precisam para enfrentar os desafios do mundo. Só com educação de qualidade que vamos construir um futuro melhor para todos.

Tarciso Souza, jornalista e empresário

1 Comentário

  1. O comentário abaixo é do Coronel Jefferson Schmidt e foi inserido pela equipe do Informe Blumenau por conta de um problema no login do usuário.

    Confira na íntegra:

    “Caro Tarciso, entendo seu posicionamento como sendo maldoso ou equivocado!

    Sim, maldoso! Pois até a foto que ilustra teu texto não é condizente com o que são as escolas cívico-militares! A foto é do Colégio Policial Militar, de coordenação da Polícia Militar com uma plataforma diferente das cívico-militares… talvez o foco da tua bílis fosse os Colégios Policial Militares, mas como estes vão de vento em popa seria muito ruim falares mal deles.

    Ou equivocado porque não deves realmente conhecer do que falas.

    Mas voltando aos cívico-militares, seria bom dares uma olhada em como eles realmente são e quem os rege, salvo exceções como em Blumenau. Pois em via de regra, os militares da reserva que lá estão são os das Forças Armas, que não são da Segurança Pública, como erroneamente colocas em teu texto. Os milirares da União não estão inseridos no Art 144 da CF, que é da Segurança Pública, para seu conhecimento.

    Mas, como disse antes, há exceções. Blumenau é uma delas (que nem deves saber onde é!), sugiro ao articulista ir lá conhecer uma escola cívico-militar, falar com a direção do estabelecimento (que é civil), ver as verdades e aí sim se pronunciar com base em fatos e realidades, não tão somente em inferências… inclusive pergunte aos reservistas que lá estão trabalhando qual deles recebe R$10mil reais a mais por mês, só para ver mais uma mentira deslavada sua cair por terra.

    Depois, convido a ir no Colégio Policial Militar de Blumenau, que possui outra dinâmica pedagógica e passe também a conhecer.

    Ao final, se ainda assim quiseres continuar pontuando sem conhecimento de causa, aí o problema é todo seu!”

    Coronel Jefferson Schmidt

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