Opinião | Ainda assim eu me levanto!

Foto: reprodução

O avançar do tempo, teimosamente, parece repetir a imagem que, perplexos, assistimos a poucos instantes. Era filme? Era foto? Aquilo gruda na sua cabeça e não dá mais para esquecer. O preconceito, o ódio, a intolerância para uma parte da sociedade parece que foi normalizado, e a repetição não choca, nem comove ninguém.

A dor o outro, a necessidade do irmão, o cavalheirismo, aquela fé que podemos confiar, em um breve instante piscou e desapareceu. Teria o coração, de um caloroso povo brasileiro, congelado após viver um longo e doloroso inverno? Ráios de sol, iluminando aqui e ali, fazem levantar a cabeça e acreditar que nem tudo é morte. Restam vidas, amor e esperança para reconciliar as relações, a história e o desejo comum.

As semanas avançam e o enrredo, bastante triste, insiste em apresentar lagrimas das mais diversas feridas. A cor, coloridos, índios e pobres, especialmente elas, as mulheres, parece que foram escolhidas para sofrer ainda mais nestes dias, constrangidas em programas de rádio e TV, agredidas ao trabalhar, lavando os passeios, e mortas com seus filhos ao transitar por ai.

O preto, o pobre, aquele que é imigrante ou, como muitos, todos que discordam da voz do momento, recebem as mais ruidosas, difíceis batalhas na linha de frente da missão sobreviver. É duro pensar que falta para os braços o alcance e instrumentos para resolver o sofrimento de quem tem fome de respeito.

A educação alimenta a alma, deixando a cabeça bem abastecida de coragem, o peito leve de injustiça. É assustador que para uma parte da sociedade não seja assim. Quando alguém precisa ser feito inferior, ouro não reluz e a ignorância esconde qualquer traço de beleza ou qualidade.

O que fizeram com a jornalista Vera Magalhães é inaceitável. O que repetiram com Lenirge Alves de Lima, a faxineira de Belo Horizonte, é desumano. Aquilo que tentaram contra a Bia Vargas não pode ser tolerado. E tudo que os menos favorecidos precisam suportar de humilhação e dificuldades precisa ter um fim.

Neste meu lamento de fim de noite, de início de semana, deixo um tanto de poesia. Que os dias que vem sejam mais leve e prósperos. Ainda que as semanas sejam duras e o momento difícil, ainda assim eu levanto, como escreveu Maya Angelou, uma poeta e ativista dos movimentos de direitos civis dos anos 1960, nos Estados Unidos.

“Você pode me escrever na história, com suas mentiras amargas e distorcidas. Você pode me pisar na sua própria sujeira, mas, ainda assim, como poeira, eu me levanto.

Fora das cabanas da vergonha da história eu levanto. Acima de um passado que está enraizado na dor eu levanto.

Eu sou um oceano negro, pulando e largo, brotando e inchando eu carrego na maré. Deixando para trás noites de terror e medo eu levanto.

Em um amanhecer que é maravilhosamente claro eu levanto. Trazendo os presentes que meus ancestrais deram, eu sou o sonho e a esperança do escravo. Eu levanto, eu levanto, eu levanto!”.

1 Comentário

  1. Como brasileiros, deveriamos ter VERGONHA, em ter um candidato que foi preso, julgado e culpado, em todas instancias. Onde os processos foram anulados, e não absolvido, por causa de um CEP.

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*