Opinião | A eleição como nos parece

Foto: reprodução

O voto da maioria dos brasileiros para presidente da República parece realmente cristalizado. Isso não significa que a surpresa esteja fora do jogo, já que há milhões de eleitores que podem alterar o resultado no ar. Ainda assim, é difícil imaginar que o produto semifinal das eleições deste Domingo santo seja algo diferente da polarização até agora vista. Deixemos algumas esperanças para 2026 e admitamos que o fator determinante foi a personificação maniqueísta.

A relativa estabilidade da opinião dos eleitores se manteve até aqui. Em Santa Catarina, o pleito promete emoções e a perspectiva de segundo turno. Menos fácil é prevê-lo em relação à eleição presidencial. O último debate presidencial, na Globo, teve sua importância, inclusive para demonstrar que o formato, exigência do poder judiciário, não é eficaz. Em função dos desempenhos, é possível que ainda se perceba algum deslocamento dos votos, aqui e ali. Mas a polarização Bolsonaro e Lula deve se manter.

O curto espaço de tempo favorece a pressa de interesses menos republicanos e quase impede a percepção mais lúcida do eleitor. Se o nosso Senhor Jesus Cristo participasse dessas eleições, talvez não tivesse muito sucesso. Em meio à superfície da guerra de narrativas e mentiras, se viesse de túnica e cabelo comprido, talvez fosse confundido com o astrólogo Inri Cristo, aquele charlatão de Indaial.

O que se pode esperar de mais interessante é que haja segundo turno. O 2º turno é um valioso instituto para que as coisas fiquem mais claras e mais cidadãos possam participar e se responsabilizar concretamente pelo resultado final. Afinal, o confronto direto entre dois candidatos deixará menos dúvidas sobre eles e sobre nós eleitores também. O segundo turno aumenta a legitimidade e a responsabilidade do eleito e do eleitor, inclusive daquele que não votar em nenhum deles.

Ainda precisamos saber que coelhos os dois candidatos finais tirariam da cartola ante suas vagas promessas para os próximos 4 anos. Ouvimos superficialidades sobre a corrupção, o desemprego, a inflação, a pandemia e o preço da gasolina. Precisamos aproveitar o segundo turno para cobrar mais clareza. Não dá, por exemplo, pra ter certeza sobre o preço do barril do petróleo, mas dá pra perguntar se a política de preços dos combustíveis será mantida, combinada com a Petrobrás ou com os governadores.

Precisaríamos saber o que os candidatos propõe em relação aos temas fundamentais como a Educação, a infraestrutura, a saúde e o gravíssimo problema da violência. Também precisamos refletir sobre como desarmar a arapuca do Centrão. Ou então, nos conformemos com o fato de que não há grandes soluções pra isso no curto prazo. Mas nos convençamos que soluções existem, dependem da Sociedade ativa e vigilante e de eleições sempre. Inclusive o processo eleitoral pode, aí na frente, ser melhorado e se tornar mais útil às nossas escolhas.

O fato é que a polarização simplesmente soterrou ideias sobre como governar o País nos próximos anos. Educação, infraestrutura e segurança pública deram lugar ao mais alto grau de maniqueísmo e quem apresentou propostas e interpretações lúcidas, falou pras paredes. Fica pra 2026. É o Brasil como nos parece e foi onde pudemos chegar até agora. Mesmo assim, muita coisa boa já aconteceu, graças às eleições.

Noves fora, a polarização esquerda e direita foi ressuscitada e confesso que, em algum momento, cheguei a acreditar na sua morte prematura. Muita coisa ainda virá. A esquerda já mentiu muito e a direita, ressuscitada ainda não começou a falar a verdade. É o problema do curto prazo, é preciso vencer as eleições. E a verdade costuma se criar mais lentamente e fora desse curral.  Só entra se for convidada.

Bem no fim, as eleições nem são tão ruins assim, que o digamos, uma após outra. As eleições nos conferem o privilégio que a vida nos permite de participar, de prever, opinar, criticar, elogiar e fazer planos para o futuro. E quem de nós, entre os leitores deste belo jornal, e da Coluna O Brasil como nos parece, não está ansioso por tudo isso neste Domingo de Deus e dos homens e mulheres de bem?

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*