Na Câmara, presidente do Samae fala sobre os recentes problemas de abastecimento de água em Blumenau

Foto: CMB

A Câmara de Vereadores de Blumenau recebeu, durante a sessão ordinária desta quinta-feira, 2, o Presidente do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – Samae, Michael Schneider, que foi convocado pelos vereadores, por meio de um requerimento do vereador Carlos Wagner, o Alemão (União), para prestar esclarecimentos acerca da recorrente falha no abastecimento de água no município, assim como explicações quanto à eficiência das caixas-d’água e ampliações das tubulações de abastecimento.

Em sua fala o presidente do Samae destacou a elevada turbidez da água do Rio Itajaí-açú como uma das causas para a recente falta de água em bairros do município, a maior registrada desde 2008. Explicou que a Estação de Tratamento de Água (ETA 2) é responsável por 70% da captação, tratamento e distribuição da água em Blumenau e que no período de 5 de dezembro a 23 de fevereiro foram registrados sete eventos de turbidez. “A ETA 2 chegou ao nível de 3 mil de turbidez, enquanto em períodos de normalidade o nível fica entre 100 a 150”, disse. Apontou que a turbidez nada mais é do que sujeira e lodo, que contaminam a água na captação, e que nesta ocasião não se tratam de chuvas que ocorreram no município, mas sim em cidades do Vale e Alto Vale do Itajaí, o que acabou prejudicando a captação em Blumenau.

Reconheceu o Samae precisa de investimentos e agradeceu à Câmara por aprovar o financiamento do município para o investimento em uma nova estação de tratamento. Lembrou que a ETA 2 tem mais de 50 anos e que o último grande investimento do Samae foi a ETA 3, em 1996, no bairro Garcia, a qual estará sendo paga até 2029. Também assinalou que as redes de distribuição são muito antigas e por isso são registrados tantos rompimentos.

Disse que nos últimos anos foram feitos investimentos em 20 quilômetros de tubulação e reservatórios, mas que as interligações com esses reservatórios ainda estão sendo executadas. Lembrou que a autarquia investiu, com recursos próprios, na ETA 4, na Vila Itoupava, que é compacta e que estará em operação no mês de dezembro. Afirmou ainda que o Samae investiu mais de R$ 14 milhões em reservatórios e que foram feitos mais de 60 pontos de telemetria, uma tecnologia que permite identificar com rapidez e eficácia os vazamentos na rede.

Salientou que a licitação para uma nova estrutura de captação, atrás do Samae, e que será paga com recursos financiados pelo Fonplata, será feita até o mês de abril. Antecipou que essa obra – de mais de R$ 45 milhões – vai ajudar na questão da turbidez da água, pois terá mais de um nível de captação. No entanto, disse que a obra pode demorar mais de um ano para ficar pronta, e que por isso o Samae está promovendo outras melhorias a médio prazo.

Citou que está sendo feito um investimento para trocar as placas de decantação da ETA 2 e instalar placas em uma das alas da Estação, que não possui esse equipamento atualmente. Isso permite que as partículas de sujeira sejam quebradas não somente com produtos químicos. “Só da captação e nova revitalização da ETA serão investidos mais de R$ 200 milhões para levar um serviço de qualidade à população”, afirmou.

Sustentou que a autarquia instalou, neste ano, quatro novos boosters, que são pressurizadores, nas regiões Norte e da Fortaleza. Falou ainda sobre a instalação de mais um reservatório na Itoupava Norte, que com a tubulação totalizará um investimento de R$ 10 milhões, e antecipou que serão instalados mais 90 pontos de telemetria e macromedidores, além de mais 5 quilômetros de novas redes a serem instaladas ainda neste ano.

O presidente do Samae em seguida respondeu a questionamentos dos vereadores. O vereador Professor Gilson (Patriota) apontou que a região sempre sofreu por causa das intempéries e questionou por que a turbidez registrada agora é maior que no passado. Michael Schneider explicou que essa é uma situação registrada em todo o Vale do Itajaí, não só em Blumenau, e é causada pela falta de fiscalização nas margens de ribeirões, construções irregulares, plantações e lavouras irregulares, desmatamento e outros prejuízos ao meio ambiente que acabam levando lixo e prejudicam a qualidade da água captada, em especial quando ocorre uma enxurrada. Acrescentou que as placas de decantação, que podem ajudar a resolver a questão, serão entregues pelo fornecedor no prazo mínimo de seis meses.

O vereador Diego Nasato (Novo) questionou se ao longo próximos 10 anos as receitas da autarquia serão suficientes para garantir as melhorias necessárias ou se precisará de aportes externos. Também perguntou por que não recebeu retorno do ofício que protocolou solicitando uma visita técnica para conhecer a ETA 2 e entender melhor o processo, além de questionar sobre o aluguel, pelo Samae, de um veículo de luxo. O presidente do Samae disse que a autarquia tem condições de realizar os investimentos não só com recursos próprios, mas também de pagar os financiamentos contratados. Disse que o faturamento do Samae é de quase R$ 15 milhões mensais, e que o superávit de R$ 20 milhões está sendo reinvestido em tubulações, reservatórios e outras melhorias. Sobre o ofício solicitando visita, assinalou que o Samae está sempre de portas abertas, que as visitas técnicas devem ser acompanhadas pelos técnicos da autarquia e que neste momento estava focado em resolver os problemas técnicos e atender à população.

O vereador Emmanuel Tuca (Novo) questionou se há precisão de instalação de estações de tratamento compactas, que são mais versáteis. Também perguntou por que os investimentos aprovados pela Câmara para o Samae há mais de um ano ainda não saíram do papel e se a autarquia não possui um check-list dos equipamentos, pois um equipamento reserva, quando precisou ser acionado, também não estava funcionando. Schneider respondeu que as ETAs compactas não podem ser colocadas em qualquer lugar, pois os mananciais precisam ter uma capacidade específica. Sobre os investimentos, disse que o termo de referência para a construção da unidade de captação está pronto, que a atualização orçamentária termina na próxima semana e que então será colocado nos moldes internacionais e então irá para licitação. Disse ainda que o equipamento reserva citado não estava com defeito, mas apresentou falha quando trabalhou a noite toda.

O vereador Adriano Pereira (PT) questionou por que não é feita a captação de água no ribeirão da Velha, que tem água mais limpa do que do Rio Itajaí-açu. O presidente da autarquia informou que já foram realizados estudos que concluíram que os mananciais daquela região não comportam a instalação de uma ETA compacta, inviabilizando que os investimentos que precisariam ser feitos para captar e distribuir água naquela localidade se paguem.

O presidente Almir Vieira (PP) disse que chegou ao seu gabinete questionamento de um cidadão que teria sido proibido de colocar um aparelho que impede a passagem de ar pelo hidrômetro. Michael disse que essa situação não é de seu conhecimento, mas que se isso acontecer o cidadão deve fazer a instalação e realizar uma denúncia. Acrescentou que o Samae já realizou a troca do corpo de 60 mil hidrômetros no município.

O vereador Carlos Wagner – Alemão (União) fez questionamentos acerca da outorga para captação de água e a falta de placas em alguns locais. Falou da existência da Agir e questionou como a outorga pode ter sido dada sem que tudo estivesse em conformidade. O presidente do Samae disse que não poderia responder por outras gestões, mas que esta gestão está priorizando cuidar das pessoas e construir um futuro melhor para que nos próximos 50 anos não tenha falta de abastecimento ou intermitência no fornecimento de água em Blumenau. Lembrou que a água não é um bem interminável, mas que os trabalhadores do Samae trabalham para levar água de qualidade a todo município.

A vereadora Silmara Miguel (PSD) disse que tem recebido questionamentos sobre os vazamentos na ETA 2 e perguntou o que está sendo feito para resolvê-los. Ainda perguntou sobre propostas para ampliar a capacidade das bombas que são colocadas no início da rua para auxiliar na distribuição, pois algumas não dão conta da demanda. Schneider respondeu que os rompimentos são constantes porque as redes são antigas, e vão sendo substituídas, citando alguns exemplos. Quanto aos boosters, disse que quando são instalados é colocada a maior pressão possível, e que quando são substituídos os antigos são remanejados para outros pontos.

A vereadora Cristiane Loureiro (Podemos) falou sobre casos de famílias em situação de vulnerabilidade social, que não possuem caixas d’água, e pediu ao presidente do Samae para explicar que por isso a água demora mais a chegar a essas pessoas quando há problemas de abastecimento. Michael salientou que essa é uma situação crítica e que mesmo as famílias que possuem caixas d´água muitas vezes não conseguem ter caixas adequadas para o número de moradores, e que por isso sentem mais e sofrem primeiro quando há intermitência no abastecimento.

Em seguida o vereador Carlos Wagner – Alemão, autor do requerimento de convocação, fez suas considerações finais. Ele disse que sabe que a água vai faltar, pois os mananciais estão secando, e registrou sua preocupação com a capacidade de produção da autarquia e com o número de reservatórios existentes. Disse estar assustado com o contrato emergencial que o Samae possui com uma empresa para consertos, que iniciou com custo de 550 mil por mês e que hoje corresponde a quase 10% do faturamento bruto da autarquia, ou R$ 1,3 milhão. Questionou se a empresa está qualificada para o serviço.

Alemão ainda assinalou que a falta d´água na cidade tem outros motivos além da turbidez. Lembrou que encaminhou anteprojeto de lei sobre captação de água da chuva nas escolas, que não avançou. Apontou que as 80 escolas e CEIs poderiam deixar de utilizar muitos litros de água clorada e fluoretada em descargas, por exemplo, o que considera um desperdício.

Apontou que olha as cidades vizinhas e avalia que o sistema de Blumenau não tem capacidade de atender às demandas. E que se não tem capacidade, é preciso privatizar e entregar a quem pode gerir o sistema. Também opinou que a gestão do órgão precisa ser feita por técnicos e não por indicações políticas. Falou que há muito tempo a autarquia não se planeja para o futuro e que isso precisa ser revisto, pois a população precisa ser atendida.

Ao final, o presidente da Câmara, Almir Vieira, disse que o problema da água em Blumenau é do interesse de todos os vereadores, que estão trabalhando junto com o Executivo para tentar resolver. Afirmou ser inadmissível a falta de água nesta época do ano, em pleno século 21, mas que entende que esforços estão sendo feitos pela autarquia. “Precisamos sempre aprimorar esse serviço porque o cidadão paga seus impostos e precisa, no mínimo, receber esse benefício que é de responsabilidade do poder público”. Assinalou ainda que se a população desejar fazer questionamentos ou requerimentos sobre esse tema, as assessorias dos vereadores estão à disposição, e que a Casa está aberta para auxiliar na resolução dos problemas.

Fonte: CMB

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