Se é sobre música, não ouça ninguém

marina_melz_100x100Coluna:

MARINA MELZ
jornalista

Essa época do ano é a minha favorita e também a que me faz acumular o maior número de desgostos. É Carnaval. A maior manifestação popular de um povo que prefere prestar mais atenção na polêmica do que na transformação, na bunda do que no samba-enredo, na ladainha de o país não começar do que na energia pra começar com tudo. Se Nelson Rodrigues soubesse como a nossa “síndrome de vira-latas” evoluiu com a internet, morreria de desgosto.

Não gostar não significa odiar, não ouvir não credencia ninguém a falar mal de nada. Ainda mais quando o assunto é música.

carnaval musicaOs acordes podem ser os mesmos, mas a emoção com a qual cada um interpreta aquele conjunto de notas e melodias é única. Pode atingir seu peito em cheio e em outro alguém não causar nem cócegas. E se você deixar de ouvir porque te disseram um dia que era ruim, vai perder a chance de se deixar envolver.

Tem muito adulto com reação de criança quando o assunto é música. Quer ver quando as palavras “funk” e “sertanejo” causam uma careta similar aquela que “brócolis” e “abobrinha” geravam na infância. Pior ainda os que ouvem escondido por vergonha – e tenho aí mais de um par de amigos que tem, bem escondidinho, CDs e DVDs que não condizem com o gosto explanado aos ventos. Por que? Seu gosto musical não diz absolutamente nada sobre a sua personalidade, mas o jeito como você lida com o que (ainda) não ouve, sim.

Música é momento, música é expressão, música é o momento em que você e a atmosfera aquele lugar se tornam um. E essa sinergia acontece sem que você possa mudar a estação do rádio.

Essa época do ano é a minha favorita. Porque o Brasil é lindo, o Carnaval é incrível, o batuque é energia em forma de som. Uma pena que boa parte da população prefira começar o ano na frente do computador detonando o que não faz questão de conhecer.

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