Opinião: que tipo de leitor desejamos ter?

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“Chegará o dia em que teremos que provar ao mundo que a grama é verde”.- G.K. Chesterton

Muito tem sido apresentado e discutido sobre algumas das habilidades que estão em crescimento até 2022 apontadas pelo Word Economic Forum (2018), são elas: pensamento analítico e inovativo; pensamento crítico; criatividade; originalidade e iniciativa; e, inteligência emocional. Entretanto, no nosso entendimento, a leitura deveria aparecer como uma das principais habilidades, o que não está sendo posto em nenhuma destas discussões.  Já dizia um grande escritor, (quem desejar saber quem  é este personagem deveria ter a curiosidade de pesquisar), que um país é feito de homens e livros. 

O Brasil com certeza possui este animal que se diz civilizado: homem. Mas que tipo de homem este país possui? Um homem que somente lê manuais e livros de autoajuda? É este tipo de livro que os leitores mais desejosos e apressados procuram? Os homens na terra brasilis (outro termo que se o leitor não for suficientemente curioso para saber o que é deveria se sentir envergonhado) procuram escritores que não sejam capazes de desagradar seu leitor, ou melhor, eles tem um compromisso com a didática, um bom mocismo “intelectual”,  pela qual se esmeram em dar todas as informações possíveis ao leitor, através de textos fáceis que não provocam aquele mal estar profundo, uma angústia originária, fruto da nossa imensa e vergonhosa ignorância. 

Quem pretende ser escritor obviamente busca um leitor.  Por outro lado, já se tornou comum  ouvir de seu gestor acadêmico que algum professor está solicitando de forma excessiva a leitura de determinados textos de seus alunos. Inclusive com o velho argumento de que o aluno trabalha e não tem condições de pesquisar e se aprofundar em determinados conteúdos. Por sinal, estudar requer muita leitura, concentração e organização. E assim, surge uma geração de hedonistas que esqueceram do valor do sacrifício, dor e sofrimento e são alimentados pelo que foi ruminado e regurgitado pelo professor, quando a função do professor é apenas realizar um aceno, um apontar para o horizonte. Logo, quem tiver interesse que realize a busca do conhecimento na sua hora mais solitária. E ainda, que a coragem faz parte deste movimento, do fluxo do aprendizado, da busca incessante pelo conhecimento e pela verdade. Mas nesta troca existe um fluxo movido pela curiosidade do leitor. Se o leitor não é suficientemente curioso para entender a origem de uma palavra ou saber quem foi o autor citado pelo escritor, o que ele pensou ou defendeu, ele não é digno de ler o escritor. E ainda, isto significa duas coisas: a) O leitor é um analfabeto funcional. Mais um conceito que é preciso ter curiosidade para saber o que é, antes de xingar o escritor, mas que desta vez teremos o prazer de explicar: é aquele que não possui a competência e habilidade necessária para ler um texto com o mínimo de complexidade, ou seja, possui um vício de origem, má formação intelectual e cognitiva; b)  Ou ele não possui o élan vital, capaz de provocar em seu ser aquela curiosidade epistemológica que é capaz de promover o aprender a aprender. 

Bem, estamos preocupados! Usamos palavras demasiadamente difíceis, élan vital, cognitivo, epistemologia, aprender a aprender, será que meus leitores irão entender? Ou eles serão analfabetos funcionais? Ou ainda, será que tudo isto é mero pedantismo intelectual?   Todavia, a principal caraterística do mundo contemporâneo é a superficialidade e o horror a profundidade.  E, por isso, proliferam autores que se dizem “pensadores” e “filósofos”: Márcia Tiburi, Djamila Ribeiro, Silvio Almeida, Jones Manoel, Gregório Duvivier, Eliane Brum, Sabrina Fernandes, Felipe Neto, Rita Von Hunty, Pablo Ortellado, Átila Iamarino, Marcos Bagno, Karnal, Cortella, Clovis de Barros, Luiz Felipe Pondé,  entre outros.  Todos habitam o lugar comum das obviedades, pseudointelectualidades, são “celebridades do intelecto”, sempre prontos a dar sua opinião diante de uma plateia comandada por apresentadores militantes que temos hoje na mídia brasileira. Todos eles renovaram a “intelectualidade” brasileira renunciando à paciência que o pensamento solicita, da reflexão demorada e a constante conversa com a tradição filosófica, para se tornarem jornalistas.  Parafraseando Umberto Eco, o mundo contemporâneo está sofrendo de uma grande pandemia: a imbecilidade.

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