Opinião | Quando o chefe do executivo é um algoritmo das redes sociais

Foto: reprodução

“Todo homem tem direito de descançar como quiser, de morrer como quiser. O homem tem direito de amar como (e quem) ele quiser, de beber o que ele quiser, de viver aonde quiser”. A nova vida em comunidade que, ao mesmo tempo, é fragmentada em mundos individuais, também caminha espalhada em redes, hiperconectando histórias, misturando peles e gostos. Encontrar equilibrio, oferecendo harmonia para o convívio saudável, que estimule o desenvolvimento coletivo, é uma tarefa pública improrrogável de nossos dias.

O maluco beleza, Raul Seixas, muito antes de qualquer sinal de fumaça da internet, já cantava um tanto de sociedades anarquias distópicas , mais ou menos a irrealidade que parte dos brasileiros navega digitalmente. Sem regras, responsabilidades e transparência das máquinas que fazem funcionar a web, caminhamos para a mais profunda escuridão: a ditadura do algoritmo.

Neste game, a quantidade de horas influencia nas sugestões de consumo e a permanência nas redes vai empurrando a racionalidade para o lado, desfazendo a construção de empatia e humanismo que, desde os primatas, foi construída, geração em geração, em nós. A programação vai amolecendo nossas resistências aos conteúdos mais absurdos.

Sim, as redes sociais, os mecanismos de buscas, conduzem os usuários, de crianças aos adultos, para o extremo raivoso. Sobram estudos que evidenciam que Google, YouTube, Instagram e todos os demais manipulam nossas preferências para construir, em cada um, desejos, convicções e visão de mundo como a plataforma idealiza. Muito mais que definir a liberdade de babar groselhas na internet, o país precisa exigir mais clareza sobre os feitos dos algoritmos. Explicando a censura, que deixa de mostrar um conteúdo em benefício de outro.

Talvez esteja ai a explicação para a repentina virada rumo ao atraso reacionário que Santa Catarina, aos olhos do Brasil, mergulhou. Além de fatores culturais de exploração do território nós, os catarinenses, proporcionalmente formamos aquele grupo de habitantes com maior poder econômico, social e educacional do Brasil. Graças a esta vantagem, as tecnologias ganharam rápida expansão, aceitação e fácil acesso aos moradores.

Esta falta de disciplina, quando falha a existência as regras e leis, colhemos retrocesso existenciais. De sugestão em sugestão das máquinas os moradores foram conduzidos para um lado.

Recheamos o parlamento, em Brasilia e Floripa, com um punhado de nomes que das cabeças pingam o vazio de ideias e um megafone para gritar esquisitices. No executivo é possível encontrar políticos com mais horas de conteúdo asqueroso nas redes, tentando impor pensamos, que governando, empreendendo soluções, oferecendo prosperidade. O que é mais chocante desperta mais atenção, gera mais clicks, vende mais e, esponteamente, as grandes empresas entregam para mais pessoas ver, ler, assistir e ouvir.

Se algum dia o Brasil desejar ter uma ideia do que é um algoritmo administrando uma cidade, um Estado, exercendo um cargo legislativo, basta espiar Santa Catarina. Adianto que, diferentemente da música do velho Raul, por aqui o homem só terá os direitos de viver como as redes quiserem.

Tarciso Souza, jornalista e empresário.

1 Comentário

  1. Sr. Tarcíso.
    Se não estiver contente/ sentindo-se fora da casinha mude-se para o Maranhão ou Piauí!!!!
    Lá deverá encontrar só “crânios na Assembleia e no Governo.

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*