O compositor Aldir Blanc e o ator Flávio Migliaccio não eram conhecidos do grande público, nunca estiveram na linha de frente do show business, mas povoam minha infância, adolescência e formação, marcaram o meu tempo.
E, provavelmente, de uma geração como a minha.
Com 55 anos, minha infância foi na década de 1970 e, numa TV preto e branca, a dupla Shazam e Xerife foi o meu primeiro encantamento com a televisão, veículo onde trabalhei toda minha vida de jornalista.
E eu via pelo Xerife, pelo Flávio, veja aqui.
Me faz voltar a Porto Alegre, uma casa de de sete anões que só tinha seis, uma figueira linda no meio do jardim, em frente a praia que então tinha um rio limpo, na cara do famoso pôr do sol do Guaíba. Uma criança carioca em terras gaúchas.
Cresci na asa de duas irmãs adolescentes, na efervescência cultural e política do Brasil da Ditadura e ali aprendi a gostar da Música Popular Brasileira.
Caetano, Chico, Gil, Rita Lee, MPB 4, Nara Leão, Gal Costa, Vinicius, Tom Jobim, João Bosco, Elis Regina e tantos, tantos outros…
Não sofri o peso direto do Governo Militar, mas, naturalmente, me engajei nos movimentos que pediam a reabertura democrática, o direito de votar, de escolher nossos representantes, pela liberdade de expressão, respeito aos direitos humanos.
E minha participação sempre foi embalada com o que havia de melhor na musica brasileira, e um personagem pouco visível, o Aldir Blanc, teve papel de destaque.
É dele as composições que cantamos, ainda hoje, em pelo menos vinte canções. A principal, o Bêbado e Equilibrista, que ganhou o mundo na voz da Elis, é um marco da volta da Democracia no Brasil, com a reabertura política e anistia.
Mas Aldir Blanc tem várias. A minha favorita é Amigo Pra Estas Coisas, eternizada pelo MP4.
Aldir e Flávio morreram velhos, de forma simples, cada um com sua história, segredos e legado. 73 e 85 anos.
Marcaram a minha trajetória e de uma geração.
Uma triste notícia para segunda-feira, semana que começa triste nestes tempos de pandemia.
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