Opinião | O terror é aqui

Não foi na Europa, não foi nos Estados Unidos, não foi em São Paulo ou no centro do país. Foi em Blumenau, pertinho das nossas casas. O terror chegou aqui e forma mais perversa, com crianças assassinadas com golpes de machado. Quatro mortes, outras quatro feridas.

Podia ser com nossos filhos, filhos de pessoas conhecidas, de conhecidos de conhecidos. Aconteceu aqui!

Tenho dois filhos em idade escolar, 11 e 7 anos, idade de uma das vítimas. Eu estava em casa com meu menino e minha menina, de 7, estava no contraturno quando tudo aconteceu. Ela quase não chora. Voltou para casa aos prantos, assim como estava a mãe e eu quando a abracei.

Fico pensando no pranto das crianças e dos pais da creche Bom Pastor. E do pranto daqueles que não terão mais seus filhos para abraçar, para conviver, para tirar lições. Nunca mais.

Fico pensando nos professores e quem trabalha naquela creche. E em tantas outras.

Foi aqui em Blumenau.

Ainda é difícil entender o que aconteceu, além das irreparáveis perdas. É impossível entender a razão de um ser humano em invadir uma escola e tirar a vida de inocentes, de forma cruel e covarde. Na verdade, não há razão que explique.

No calor da emoção são muitas as manifestações e devemos valorizar as que expressam solidariedade e luto e desprezar as oportunistas, aquelas que pregam a solução fácil. Cheguei a ver um ex-deputado, que quer ser candidato a prefeito de Indaial na eleição do ano que vem, pregando que os professores deviam se armar para estes casos.

Oportunista ele. Oportunistas todos que agem como ele, pessoas que estimulam a cultura da violência.

Professor não sabe usar arma, professor sabe ensinar.

Sim, precisamos e devemos melhorar a segurança nas escolas, mas é impossível sonhar com um policial em cada unidade de ensino. Pensar em melhorar as estruturas internas das instituições no que diz respeito a segurança também é um passo, mas a pessoa que cometeu a barbaridade desta quarta-feira pulou o muro.

Precisamos pensar no que aconteceu, em especial no criminoso. Quem é ele? Qual a motivação?  Ele tinha algum distúrbio mental? Qual era seu histórico familiar? A Internet o motivou a algo? Com quem ele se relacionava? Talvez ele seja chave para entender o que está acontecendo com o ser humano.

O criminoso tinha quatro passagens pela Justiça. Uma delas por esfaquear o padrasto e outra um cão. Como estava solto? As leis penais podem ser outra chave de reflexão. Ninguém percebeu o potencial lesivo do individuo? O representante do ministério público Júlio Fernandes foi cirúrgico na entrevista coletiva feita no meio da tarde desta quarta-feira. “Que comete crime está com a vida muito tranquila no país.”

Sim, o terror é aqui em Blumenau, no Vale Europeu, na desenvolvida Santa Catarina. Aqui é o mundo dos humanos.

Alexandre Gonçalves, jornalista.