Opinião | O R$ 1,5 milhão que ficou por ai, perdido!

Imagem: "Zero Real", de Cildo Meireles/Reprodução

Será que escolhemos os sonhos que surgem em nossos dedos, ganham o coração e tomam conta de cada movimento do corpo? Honestamente, já não sei mais! Penso que muitas vezes queremos uma coisa que ganha um nome, transforma-se em outra e, no fim, ao frustrar o desejo, espatifa a certeza de realizar. Este texto é sobre mim, peço apenas um pouco de paciência, compreensão.

Mais alguns dias e o país ganhará um novo milionário, vencedor da edição 2022 do Big Brother Brasil. Imagine você o que é possível fazer com R$ 1,5 milhão? Acredite: consegui a proeza de evaporar com uma quantia um tanto maior que esta e, agora, estou reerguendo a cabeça. Uma lição que ninguém deveria viver.

Hoje, eu consigo tocar no assunto sem embrulhar o estomago. É duro de mais encarar os maiores medos da vida, como admitir a ignorância de seu próprio destino. Errar doí na alma. Multiplique o sentimento muitas e muitas vezes quando afeta diretamente a pessoa que você ama. Graças aos céus ela costuma ser compreensiva. Sem um amor de verdade, juro por Deus, a página não viria. Para mim, ao menos, esta verdade se aplica integralmente. Teria ficado trancado em uma jaula, imóvel, assustado com um travesseio cobrindo a cara caso um abraço apaixonado não grudasse em mim.

O dinheiro é, assim como o petróleo, uma fonte de energia muito forte e tóxica. Hipocrisia seria lamentar a existência de ambos, gastando o tempo em argumentos furados contra o capital ou combustível. A sociedade que conhecemos simplesmente não existiria sem um meio de troca. Jamais evoluiríamos desconhecendo a riqueza da mistura de substâncias oleosas que garantem centenas de derivados, incluindo alimentos. Ainda assim, ambas carregam malefícios.

Parece discurso de político. Juro que não é! Sou de origem pobre. Meus pais sempre ralaram muito para garantir uma vida digna para meus irmãos e eu. Os hábitos que mantenho também sempre foram simples, mesmo admirando criações humanas de valor bastante elevado. Sou um grandessíssimo “mão-de-vaca”. O que torna a minha história mais inacreditável.

Ainda na adolescência eu ouvi de alguém sobre o esforço para atingir o primeiro milhão antes dos 30 anos de idade. Levem a sério o que eu digo: não incentivem nenhum jovem a alcançar este montante antes de construir uma biblioteca de conhecimento para acompanhar o crescimento necessário dentro da casca.
Minha esposa e eu, juntos, chegamos ao primeiro milhão trabalhando muito. E posso garantir que não foi legal! Pagamos, e vamos seguir pagando por algum tempo, um preço bastante elevado por edificar muitas coisas sem a base necessária na época. Como um foguete subimos, igual a um meteoro explodimos no chão.

“Do mesmo jeito que o empréstimo, o petróleo e o açúcar são fontes de energia tóxicas, a raiva também é. E precisa ser substituída por fontes de potência mais eficientes e sustentáveis”. Fiz das palavras de Luiz Fernando Roxo, um empresário bastante conhecido no mercado financeiro, um mantra. Depois que você compreende o buraco que caiu, fica difícil de cultivar força alguma que preencha de esperança, que faça recomeçar com o que sobrou, com as mãos.

Eu já escrevi algo parecido outro dia. A vida não chega acompanhada de um manual, infelizmente. Deveria e facilitaria muito! Se existe, eu ainda não encontrei um para a minha.

Muitas coisas contribuíram para literalmente destruir, antes dos 34 anos de idade, o dinheiro que acumulamos até os 30. Não faz sentido lista-los. Deixo como destaque, em especial, apenas um: excesso de confiança, vulgo ego. Muitos são os estímulos para escolher caminhos diferentes ao longo da jornada. Diversas oportunidades afetam o brio do cidadão. Ter humildade para adiar os desejos mais ambiciosos é uma lição dificílima de invadir a cachola.

Aos poucos, com o tempo e muito cabelo branco, reconstruímos nosso castelo. Cada venda ou serviço, cada centavo recebido é muito comemorado e valorizado, mais que nunca. Longe do agito do mar, com paredes e fundações bem mais sólidas, na lentidão que os dias pedem os tijolos vão se somando. Poucas coisas possuem o poder de transformar a água em vinho. Muitas, porém, são as possibilidades de embriagar as certezas, carregando para ruina o sonho da gente.

No céu ou no chão, compreenda meu irmão, “de toda essa história (…) sem grana, sem glória/ Não se discute talento, mas seu argumento, me faça o favor/ Respeite quem pode chegar onde a gente chegou! E a gente chegou muito bem, sem desmerecer a ninguém, enfrentando no peito um certo preconceito e muito desdém”.

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