Opinião | Novo Plano Diretor? A emergência climática forçará uma reforma urbana!

Foto: Diego Vara/Reuters/Reprodução via g1

“E assim nós prosseguimos, barcos contra a corrente, arrastados incessantemente de volta ao passado”.

Certas vezes, nestes giros que o mundo dá,  parece que tropeçamos no mesmo lugar, em velhas histórias, persistentes problemas. Francis Scott Fitzgerald, autor da frase que abre este texto, falava de paixão, é verdade. Mas, especialmente no “O Grande Gatsby”, ele registrou coisas bem mais profundas, uma obra prima da literatura americana.

Quando escreveu este livro, o ator refletia um tanto da década de 1920, um período complexo para o excesso de ego, relações sociais e tudo que a riqueza abundante provocava sobre o coletivo. Avançando um século no tempo, parece que voltamos aos braços das dores que o capital pode provocar na sociedade.

Se o Rio Grande do Sul chora – e todos nós, com coração e espírito solidária, também -, muito está na falta daquilo que a concentração de dinheiro em poucas mãos é capaz de entregar. Em cada uma das enchentes, enxurradas, deslizamentos que sobrevivemos, sentimos a exaustão da impotência, da limitação humana.

Para nós, do Vale do Itajaí, o ocorrido lá é o relembrar que, enquanto a cidade ainda se reerguia das águas que inundaram suas ruas e lares, nossos olhos se voltavam para o horizonte, onde se vislumbrava não apenas o futuro incerto, mas também a promessa de mudança. Blumenau, como tantas outras cidades, encontrava-se diante da encruzilhada entre o passado e o porvir, entre a persistência das tragédias e a possibilidade de um novo rumo.

A tragédia gaúcha é contundente em reforçar que as mudanças climáticas não são apenas um debate distante, que pode ficar para a quadra seguinte da história. A realidade que bate à nossa porta mostra sua força avassaladora, terrivelmente impactante. As águas  frias que que submergem ruas e destroem lares despertam a urgência de uma nova abordagem na forma como concebemos e ocupamos nossas cidades.

Em 2023, ainda sob o peso das enchentes que assolaram o segundo semestre em Santa Catarina, a Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva (Rede), lançou um clarão de esperança ao anunciar a intenção de declarar emergência climática permanente em 1.038 municípios, incluindo Blumenau e outras cidades da região. Uma medida que, se concretizada, pode marcar o início de uma revolução no relacionamento da cidade com suas vulnerabilidades.

É inegável que este pedacinho do Brasil possui a resiliência diante das intempéries como exemplo de eficácia quando se trata de enfrentar as enchentes. No entanto, novos investimentos são necessários para fortalecer ainda mais esta capacidade de resposta às crises climáticas. É hora de priorizar a comunicação de riscos, o desenvolvimento de infraestruturas contra desastres naturais e a prevenção de tragédias climáticas.

A cidade que um dia foi pioneira em estabelecer uma estrutura governamental dedicada ao meio ambiente, lá em 1977 com a Faema, agora clama por fortalecimento e uma renovação desse compromisso. O Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Blumenau (IPPUB), outrora um baluarte do planejamento estratégico e técnico da ocupação da cidade, deveria ser recriado para enfrentar os desafios do século XXI.

É imperativo que Blumenau abrace a oportunidade de um novo Plano Diretor, uma ferramenta crucial para combater a especulação imobiliária desenfreada, reorganizar a ocupação do solo e promover a valorização do meio ambiente. A proposta da Ministra Marina Silva aponta o caminho, retirando as amarras da burocracia,  induzindo o progresso para o caminho do crescimento responsável, ordenado e sustentável.

As eleições destes ano estão aí para fortalecer estas discussões, unir cidadãos e líderes locais para trilhar nesta direção, de um futuro mais seguro e sustentável para cidade. Ou, como disse o romancista, “prosseguimos, barcos contra a corrente, arrastados incessantemente de volta ao passado”.

Tarciso Souza, jornalista e empresário

1 Comentário

  1. Os candidatos ao pleito deste ano , deveriam abrir mão de 3 bilhões do fundo partidário e doar ao RGSUL .
    Será que algum candidato teria esta coragem , será que o governo pede isto aos candidatos ?
    Duvido que os próprios candidatos do RGSUL façam isto, mas deveriam , todos .

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