Opinião | Mulher, um pedaço de carne: assédio e desafios da luta feminina

A sociedade evolui a passos incertos. Cada vez mais novas formas de comunicação possibilitam que o conhecimento corra o mundo impactando mais humanos em um espaço de tempo menor. Infelizmente, ainda que toda tecnologia aproxime a cidadania de cada indivíduo, com ferramentas mais democráticas, não foi possível construir na consciência coletiva a importância de respeitar a pessoa na sua plena liberdade de ser simplesmente ela mesma. Igualdade para viver, festar, crescer, ocupar espaços… é o desejo de dezenas de milhões de gente. Um sonho ainda bastante distante de tantos, especialmente das mulheres.

Como um pedaço de carne, um algo, uma coisa que está ali simplesmente para servir, que pode ser ofendia e desrespeitada, menor que outros… é assim que parte machista encara o papel feminino. Uma visão misógina, desumanizante que deveria ser inaceitável em todos os ambientes. Há lugares, lamentavelmente, que homens sentem-se livres para reforçar a cultura do assédio e a violência contra as mulheres, as mesmas que daqui a poucos dias serão lembradas com flores, hipocritamente, em 8 de março.

Casos recentes, como o que envolve o jogador Daniel Alves, na Espanha, reabrem uma ferida que nunca fecha, que ganha pouca atenção da política, polícia e imprensa. Abusar de alguém, impondo força, poder, é cruel e doentio. Porém, por mais estarrecedor, o fato é constante e envolve não apenas famosos, não fica limitado a sexo, invade lares, religiões, relações de trabalho. Populares, chefes, privilegiados, autoridades formam uma lista bastante grande de abusadores que intimidam, limitam o natural movimento das mulheres.

O assédio pode ser físico ou verbal, mas, independentemente da forma, é uma violência que afeta a autoestima e a saúde mental das vítimas que, infelizmente, muitas vezes sentem-se impotentes para lidar com a situação. A falta de medidas de segurança adequadas e a tolerância social ao crime, penalizando antecipadamente quem sofreu o ato, causa a paralisia por medo, receio do julgamento, e tudo isso só agrava ainda mais a situação. Fortalecendo o opressor, que tem a certeza de seu poder, e cria mais obstáculos para que todos possam extirpar este mal.

A igualdade de gênero e o respeito às mulheres são valores inalienáveis, e precisam ser defendidos a todo custo. É hora de mudarmos as relações e as diversas formas de assédio.

Precisamos tomar medidas efetivas, que envolvem todas as estruturas de poder. Novas e duras leis, outras maneiras de investigar, vigiar e punir agressores. Principalmente, a sensibilização contínua da população. Permitindo as novas gerações um ambiente mais consciente e responsável.

É fundamental não tolerar nenhum tipo de violência. Estimular e denunciar sempre, cobrando ainda a implementação de medidas de segurança adequadas e a punição rigorosa dos responsáveis. Além disso, precisamos criar canais de denúncia eficazes, para que as vítimas possam buscar ajuda e receber apoio adequado.

As mulheres devem sempre ser tratadas com dignidade e respeito. Alias, isso deveria ser normal para humanidade indiferente da identidade. Encontrando, em todos os lugares que escolherem estar, as condições de igualdade para libertar seu máximo potencial, recebendo o reconhecimento como indivíduos completos e valiosos, não apenas como peças de carne.

Tarciso Souza, Jornalista e Empresário.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*