Opinião: mais capital, menos Blumenau

Foto: Thiago Philipps

No último mês, circulou na região duas notícias de economia. A venda de uma marca têxtil de Blumenau para um grupo carioca e a intenção de uma loja de departamento em construir uma megaloja na Rua da Palmeiras, antigo terreno do Estádio Aderbal Ramos da Silva. Esta loja seria uma Réplica da Casa Branca.  Aparentemente, essas duas notícias não possuem ligação, todavia, são sintomáticas do fim de uma era e essencial para compreendermos a Blumenau de 2021.

A explicação mais conhecida sobre o processo de desenvolvimento regional da cidade é a da professora Maria Luiza Renaux Hering, no livro Colonização e Indústria no Vale do Itajaí. Segundo a perspectiva da autora, nosso processo de desenvolvimento combinou uma espécie de ética social – de disciplina econômica, moderação social e autocontrole –, a um domínio tecnológico no processo de fiação e tecelagem que foi trazido pelo colonizador, visto como empreendedor por excelência. Estas características, atreladas com o isolamento geográfico, desenvolveram uma economia voltada para uma dinâmica local.

A explicação não é unanimidade na academia. Porém, caiu no senso comum e transformou-se em uma espécie de mito fundador da cidade. Identificamos assim, uma espécie de paraíso industrial germânico. A terra sem males, de um povo disciplinado onde todos que querem trabalhar encontram guarida. O auge desse processo foi no período entre 1960 a 1980, quando nos vendíamos como a capital econômica de Santa Catarina.  Empresas locais dominavam o mercado nacional têxtil.

Porém, esse processo esgotou-se nos anos 1990. As mudanças no cenário internacional produziram um aprofundamento do processo de globalização e a implementação das políticas neoliberais no Brasil. O novo mundo combinou trabalho barato e o domínio do capital financeiro sobre o capital produtivo.  Uma equação que faz não as empresas concorrerem entre si, mas os territórios. No capitalismo hegemônico não há, necessariamente, concorrência entre as empresas. O que há é uma competição entre quem oferece melhores condições de investimentos para o capital especulativo.

Esse novo modelo representa a hegemonia da cultura do consumo e do sonho americano. Mesmo que seja alimentado artificialmente por financiamentos e juros intermináveis. Você não precisa mais ir para os EUA, nós trazemos ele até você. “Nada de empregada doméstica ir pra Disney, vá passear em Cachoeira do Itapemirim,” diz o posto Ipiranga do Genocida

Nessa ciranda financeira, nosso “germanismo schumpeterianesco neogermânico arquitetônico” desaba. Enquanto assistimos nossas empresas serem incorporados por grupos econômicos nacionais e globais.  A grande inovação por aqui é uma caricatura da réplica da Casa Branca.

Em meio ao centro histórico, teremos agora uma loja para vender da China, que não é comunista, apesar de muita gente acreditar. Pior, e o dono da loja em eventos políticos reforça essa afirmação falaciosa. O país mais populoso do mundo é hoje o chão de fábrica do capitalismo financeiro e globalizado. Na nova divisão mundial do trabalho, pra nós, aqui pelas bandas das Terras de Vera Cruz, neogermânicos ou não, sobrou apenas ser um grande camelô.

O Estádio Aderbal Ramos da Silva mora na memória afetiva na torcida de dois clubes de futebol que fazem parte da nossa história. Primeiro, o Palmeiras Esporte Clube, depois, o Blumenau Esporte Clube. Dois clubes que representavam torcidas populares da cidade e praticavam um esporte também popular.  O último, teve seu ápice quando era financiado pela indústria têxtil. Curiosamente, a elite da aldeia tem um clube de tênis que fica na rua do fundo. A megaloja agora fará sombra. Seria um gracejo da história?

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*