Opinião | Deus e o diabo no paraíso financista

A voz em empostada do radialista que se diz doutor comenta do balão que o os representantes do presidente deram nos empresários locais. Lendo a envergonhada nota dos endinheirados da região, ressente a lerdeza da obra na rodovia que liga a região ao mundo. Pouco depois, o noticiário nacional alardeia que os lucros dos bancos mais uma vez batem o recorde. O apressado repórter afirma que as quatros principais instituições bancarias do país registraram um lucro de R$ 81,63 bilhões no ano passado, mesmo com uma economia em frangalhos, desemprego explodindo e a fome pedindo uma moedinha no farol. É a agiotagem escancarada.

O valor do lucro dos bancos só é menor que o lucro no ano de 2006. Uma dinheirama que parece não ter teto. Na República do “Deus acima de todos”, há teto para tudo. Teto para investimento, para o salário mínimo, para o gasto saúde e educação. Só não há teto para a ganancia. Para os salários dos generais do governo também não tem.  Por aqui, bancos também não pagam impostos, aliás, os ricos não pagam impostos. O paraíso do estado mínimo. Desde o “santo do pau oco” a religião popular é usada para como como elemento de dominação dos mais safos e imposição de obediência aos empobrecidos. Se acontece ao contrário, o fim é o mesmo de Canudos!

Conta a história que lá, um monge organizou o povo para ocupar as terras desocupadas e produzir alimentos. Os endinheirados da região desaprovaram. Da capital veio correndo o exército. O braço forte e a mão amiga matou a todos, o beato e os sertanejos. Sobrou apenas as mulheres e crianças. Nem a igreja foi poupada.

O novo pacto político colocado no poder por um golpe parlamentar em 2016 não tem compromisso com a geração de empregos, muito menos mesmo com a proteção da vida. Por isso que a BR 470 não anda. A “ponte para o futuro” abençoa somente lucros de uma burguesia financeira. E os poderosos locais sabem disso, ou deveriam saber. A elite regional não tem coragem de romper com o presidente. São seus cumplices.  Com a fabulação de que gastava-se muito com saúde e educação patrocinaram o golpe e nos meteram num funil financeiro sem precedentes. Foi o encontro entre deus e o diabo no paraíso financista. Agora, são vítimas da armadilha que criaram e com a benção das elites religiosas e a vigilância dos militares, soltam notinhas de reprovação.  Bolsonaro nem deve dormir pensando nestas notas!

Faz lembrar o que já ensinava o sociólogo “Sempre que o povo melhora a sua posição de barganha política, ou conquista posições fundamentais para a sua emancipação, os grupos e classes dominantes, articulados com setores da Forças Armadas, da Igreja e do imperialismo, rompem o processo democrático. A dominação burguesa não só avançou até o controle autocrático do Estado. Ela passou a irradiar-se de autoproteção e auto realização que conferem ao estado de democracia restrita o caráter de autocracia de classe” Florestan Fernandes (1986).