Opinião: democracia, liberdade e limites

Nunca fui uma pessoa patriota, daquelas que gosta de enaltecer a bandeira verde e amarela ou cantar o hino nacional, mas nunca me senti menos brasileiro por conta disso.

Também nunca demonizei os militares, apesar da Ditadura que vivemos ao longo de toda minha infância, adolescência e até entrar na idade adulta. Sou filho de militar e felizmente lembro dele dando apoio em causas humanitárias e de infraestrutura durante este período sombrio da história brasileira.

Sou um democrata e defensor das liberdades e considero toda manifestação popular válida e que merece ser entendida e respeitada.

Mas me preocupo com as pautas e a divulgação delas para atrair público no próximo dia 7 de setembro em todo o Brasil.

Sem citar que é uma manifestação de apoio ao Governo do Presidente Jair Bolsonaro (sem partido), os organizadores dizem que é em defesa da liberdade, da transparência das eleições e da harmonia entre os Poderes. Cada um é livre para defender o que entende, mas com limites, como tudo na vida em sociedade.

É preciso refletir e dar um basta quando a motivação de muitos são as pautas antidemocráticas do presidente da República. Recebi, nesta sexta-feira, um “zap” de um empresário bastante conhecido na cidade, líder de entidades representativas, com falas escabrosas, obviamente de autoria anônima.

O texto diz que no dia 8, um grupo de “brasileiros”, vai entregar ao presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, um manifesto pedindo a dissolução do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal em até 72 horas. Avisam que os caminhoneiros vão fechar o Brasil e que vai ser criado o Tribunal Constitucional Militar (isso mesmo!), que terá a tarefa de processar e julgar “todos os bandidos e criminosos” que estão nos Poderes da República, desde prefeitos, governadores, deputados, senadores e ministros do STF, mas sem citar membros do Governo Federal.

A convocação é atribuída ao advogado Ives Gandra Martins, que já desmentiu. “É falso e criminoso”, citou em entrevista para o SBT.

Ou seja é fake news. Mais uma entre tantas.

Isso é liberdade, pergunto aos muitos cidadãos de bem que se mobilizam para ir às ruas neste dia 7. É esta liberdade que querem?

O Brasil vive uma grave crise econômica, fruto de outras gestões sim, da pandemia sim, mas também de uma administração ineficiente e confusa, que não cumpriu nada do que prometeu. Um presidente que busca criar cortinas de fumaça para que não se fale dos graves problemas estruturais do país, que se agravam dia após dia.

Fala-se em transparência no processo eleitoral, um  tema sem dúvida importante, mas que nunca esteve na pauta pois temos um sistema realmente eficiente. Um sistema que elegeu Bolsonaro presidente e várias vezes deputado federal, além dos seus filhos adeptos das rachadinhas, modalidade muito comum dos subterrãneios da política, que parece não incomodar as pessoas que se organizam para ir ao ato, assim como não incomoda o preço do gás, da gasolina, do feijão…

Falar em defesa da harmonia entre os Poderes, quando quem provoca a cizânia é o próprio presidente ou seus apoiadores-milicianos digitais.

Sim, o STF tem muitos problemas, mas recentemente serviu para legitimar o impeachment da presidente Dilma (PT) e impedir que o ex-presidente Lula (PT) participasse da eleição em 2018. O Congresso Nacional também é problemático, mas foi ele que apeou do poder em 2016 uma presidente legitimamente eleita, por conta de crimes que não existiriam ou seriam insuficientes para afastá-la.

Isso foi num passado recente, muito recente. É preciso ter memória e não se agarrar em uma narrativa golpista e mentirosa.

Não seja marionete, nem gado e nem acredite em mitos. Eles não existem, ou se existem, não na classe política.

Quer ir à rua neste 7 de setembro, vá. Mas não seja massa de manobra e não estimule aventuras institucionais. O Brasil não pode flertar novamente com o autoritarismo.

3 Comentário

  1. Pela primeira vez estou lendo um artigo que merece não só aplausos mas as comendas de honra de todas as esferas organizacionais públicas e privadas sérias do País. Também, prezado Alexandre, suas escritas estão em consonância com o pensamento de um dos melhores Jornalistas do Brasil – senão o melhor – que é Reinaldo Azevedo da Rede de Rádios Bandeirantes.

    Parabéns pelo artigo e, se você me permitir quero fazer das suas escritas as minha palavras. Para reforçar, escrevo que este Governo esta querendo um golpe que nunca conseguirá sustentar. O Governo deveria se preocupar com o Brasil e não com as mentiras que ele mesmo cria para iludir o Povo brasileiro que não merece passar pelo que esta passando.

  2. Interessante que o autor usa de falas isoladas, de algumas pessoas (como do empresário que cita), para caracterizar a grande maioria dos Blumenauenses, dos Brasileiros, que desde 2013 estão saindo as ruas colocando sua insatisfação e revolta contra a corrupção, contra o sistema político de troca de favores entre os poderes (que chamam de harmonia), contra os abusos do STF e TSE que não tem seguido a Constituição Federal e as outras leis aprovadas democraticamente no Congresso Nacional, pela luta da liberdade de expressão, pela democracia de fato (sem o tal do Fundão, que financia e mantem os caciques políticos no poder), etc.
    Infelizmente nossa mídia nossa mídia parcial militante é contra estas manifestações democráticas, do povo ir para rua colocando sua insatisfação, e ainda por cima, chamando nós blumenauenses, nós povo brasileiro, de gado, de massa de manobra.

  3. Mais uma vez gadooooo. Muuuuuu. Nós blumenauenses! me tira dessa cara pálida.

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