Opinião: audiobooks para cultura inútil

Foto: O pensador, Auguste Rodin/Reprodução

Um hábito que adquiri nos últimos anos, após deixar o jornalismo de lado para cuidar da minha empresa, a Foster Pet Place, é ouvir audiobooks. Muitos destes livros são modinhas e formam as listas dos mais lidos do momento. Eu não gastaria meu tempo para ler nenhum deles. Admito: não deveria, eu sei, porém escolho um livro pela capa, título e autor.

Com existe a opção do áudio, aproveito os momentos que estou fazendo outras coisas para desempoeirar mais um livro. Além disso, ajuda a manter a cabeça aberta e ter assunto na mesa de boteco, não perdendo a amizade dos que possuem um gosto estranho de ler coisas que, para mim, são menos interessantes.

Tenho um, digamos, roteiro para estes momentos: vasculho o site da Amazon.com para verificar os títulos mais procurados, entro no app dos audiobooks, aperto o play e adiciono a velocidade 2x para evitar a cansativa leitura dos robôs. Quando algo chama a atenção eu rapidamente paro a audição e tomo nota para revisar a parte em outro momento ou, então, adiciono a publicação para um fichamento mais apurado.

Nem recordo quando comecei com este habito. Mas, é coisa de uns 2 ou 3 anos que estou com esta brincadeira. E já ouvi de tudo: de ciência, literatura clássica, ficção, teorias, filosofia e, principalmente, best-sellers de uma inutilidade motivacional que dominam o topo dos mais vendidos.

Minha implicância não é com o texto, ou com as ideias de quem pariu o livro. Incomoda é o fato do crédito, quase de endeusamento, que os leitores entregam.

Parece que mergulhamos em uma fase de leitores bunda-mole. Que o amor próprio precisa de massagem no ventre para animar. Juro: não tenho paciência para manuais tipo “seja fod* isso”, “do zero ao infinito”. Coisas escritas por personalidades que nunca plantaram um pé de goiaba querendo ensinar como o cidadão deve semear sua lavoura. Palavras amontoadas que não preenchem um saco de farinha.

A energia e as respostas para vida, acredito, chegariam de maneira muito mais rápida, prática, espirituosa ao visitar as fontes filosóficas. Ou, então, buscar uma terapia com um profissional que estudou para recuperar a estima das pessoas, como os psicólogos.

Em um deste livros que ouvi tinha o apontamento para frase de Allan Percy: “O homem não controla o próprio destino. É a mulher de sua vida que faz isso por ele”. Como é romântica a cabeça um de avestruz que deseja retirar de seus ombros a responsabilidade da vida e pesar à outra pessoa.

Ler livro bom é ótimo! Outros, porém, acelerar a audição é mais que o suficiente.

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