Opinião | Arranha-céu sem elevador

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Esclarecimento prévio:

Com a satisfação em cumprimentar os leitores do Informe Blumenau, esclarecemos que a Coluna O Brasil como nos parece continuará publicando semanalmente, a partir de março. Paralelamente e, na última semana de cada mês, incluindo esta, publicaremos uma nova Coluna, intitulada SC think tank. Enquanto a Coluna O Brasil como nos parece continuará falando das coisas do País, a nova coluna, mensal, tratará de Santa Catarina.

Diga-se, é nossa opinião que o crescimento e o desenvolvimento de Santa Catarina precisam ser acompanhados. Nessa linha, a Coluna é uma subdivisão do Grupo de Estudos homônimo recentemente criado para esta finalidade.

Ao texto:

Quando começou a série histórica que mensura a participação de cada estado brasileiro na composição do PIB nacional, há exatos 20 anos atrás, Santa Catarina correspondia a 3,6% da composição nacional. Em 2020, último ano sobre o qual o IBGE tem os dados do PIB, nosso estado representava 4,6% do PIB brasileiro. Os dados constam em excelente levantamento publicado pela Agência Estadual de Notícias do Paraná, estado que também avança na participação do PIB nacional – passou de 5,9% para 6,4% nesse período.

Alguém pode achar pouco, mas o leitor qualificado deste Jornal sabe que não. Nesse período, alguns estados aumentaram, outros diminuíram ou ficaram estacionados percentualmente. Nesse período, Santa Catarina ganhou duas posições, passando de oitavo a sexto maior PIB nacional. De 3,6% para 4,6% em 17 anos, isso materializa um crescimento de mais de 25%. Significa que, em 17 anos, Santa Catarina cresceu ¼ além do que era; é como um aumento real de 25% no salário ou como ter uma vaca leiteira e ela parir uma bezerra e continuar produzindo leite de montão.

Até aí, só orgulho e recompensa. O camarada passou há 20 anos em Chapecó, Blumenau ou Itajaí e quando volta vê o céu arranhado com edifícios de 40 andares – pra não falar de BC. O venezuelano deixou a família em 2018, arranjou em prego em Concórdia, Brusque ou Jaraguá. Beija o bilhete das passagens que trarão mulher e filhos na próxima Pascoa. Louco de contente, não vê a hora de abraça-los e reza pra nunca mais precisar sair daqui, se sente gente, tem um emprego e planeja até comprar uma moto elétrica, bateria da Weg, que vai construir mais uma unidade fabril só pra isso.

É como ver um prédio de 50 andares sendo construído em Porto Belo, encostado em Tijucas. Mas aí tu te pergunta: cadê o elevador? Sim, porque nesses 17 anos em que SC passou dois estados e se tornou também o 4º PIB per capita do País, enquanto a duplicação da 101 se arrastou como quem sobrevive, precisaria ser triplicada – leva um ano luz, a duplicação da 470 só não parou porque o governo estadual botou dinheiro nosso e a 163 é a pior rodovia federal do País, segundo o Conselho Nacional de Trânsito.

Essa equação não fecha e, no mundo real, o otimismo tem prazo de validade. É provável que sejamos 5% do PIB até antes de 2030, mas, depois, não tem mais como, porque o senhor de posses, que comprou a cobertura na planta, não terá acesso. Então, irá pra Punta del Leste, Miami ou Dubai e a “Dubai brasileira” – como alguns gostam de chamar – voltará a ser a” Copacabana do sul”, só que decadente, dessa vez. E não adianta acreditar em Papai Noel, porque, entra e sai governo federal e o patrimonialismo mantém Brasília igual, nada mais que o castelo de um grande feudo e Nós, meu irmão, burros de carga.

E, pro bem e pro mal, quem trabalha faz barulho e chama à atenção. De muita gente honesta, é verdade, mas o faro do sangue suga também e aí, nesse mesmo período de 17 anos, a sensação de insegurança no dia a dia acompanha a morte nas estradas. Aí, quando receio que nos tornaremos uma São Paulo da vida, o meu amigo diz que isso já aconteceu, só que sem as estradas de lá e só espera que não nos tornemos um Rio depois de dezembro, que Deus nos livre.

Mas, essa é nossa sina, Catarina, não Te pergunta se vai dar certo, só vai em frente que o teu destino já foi traçado e a Deus pertence, disso sabe bem o nosso colono e só vamos saber o resultado lá na frente. Dos males o menor, nascemos em terra boa, temos bons vizinhos, construímos boas cidades e, obviamente, chamamos à atenção de muita gente.

Só não chamamos à atenção dos governantes e legisladores patrimonialistas do castelinho da ilha seca da fantasia que é pra onde mandamos os impostos e esperamos que algum dia, por essa justa razão de quem trabalha, seremos devidamente recompensados.

No mais, vai que a insistência e astúcia, além da resiliência nos proporcione algumas emendas parlamentares, uma brecha jurídica, um financiamento externo com prazos definidos e cumpridos numa velocidade chinesa. Mas isso totalmente a salvo de qualquer interferência ou promessa de governo federal. A experiência dos últimos dez anos são suficientes pra nada mais esperar no curto prazo.

No longo prazo estaremos todos mortos, é verdade, já dizia John Maynard Keynes. Mas só no longo tempo pode vir a solução, e deveria começar amanhã, nas universidades e depois nas escolas. Devemos isso aos nossos netos. Ali, se martelaria todos os dias a mesma tecla do patrimonialismo brasileiro, nosso problema original. Como se viu recentemente em prefeituras do Planalto Norte Catarinense, é o costume feio de fazer do patrimônio público um puxadinho do patrimônio privado.

Mas isso não seria possível sem a frouxidão moral do nosso povo. Então, se nossa mediana moral coletiva é meio pusilânime, precisamos ensinar nossos jovens e crianças que o governo federal existe para nos servir e não o contrário. Dá pra ensinar isso interdisciplinarmente, começando pela sociologia, passando pela história, cruzando com a matemática, o português e por aí a fora.

Aí, toma o estado de Santa Catarina como exemplo e pergunta: quantas mortes seriam evitadas, quantos empregos a mais gerados se os sucessivos governos federais parassem de insinuar que Santa Catarina não precisa de recursos porque já é rica? Enquanto isso, sustentamos a corrupção e as prebendas legalizadas dessa gente que simplesmente nos dificulta a vida.

Aos educadores deste País, a começar por Santa Catarina, fica esta provocação. Porque será um bom começo quando jovens e adultos entenderem que tudo que poderia ser investido pra gerar o desenvolvimento, vai para o sustento dessa gente inútil. Enquanto isso, nos perguntamos que coelho tiraremos da cartola para duplicar e triplicar nossas rodovias e não nos tornemos um arranha-céu sem elevador.

Sugestão musical: Vou pra Santa Catarina

Walter Marcos Knaesel Birkner, sociólogo e professor da Uniasselvi


1 Comentário

  1. Fico muito feliz em ler esse artigo, por dois motivos, pela qualidade, clareza e honestidade, e, segundo, porque está em um veículo que defende claramente o castelo e os agora encastelados de Brasília, e crítica veementemente as iniciativas de menos estado. Enquanto veículos de comunicação como o Informe Blumenau colocarem seus interesses particulares e políticos a frente do interesse público, apoiando governos estatizantes, Santa Catarina e o Brasil vão continua subindo pelo escada… de joelhos!!!

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