Opinião | 3 mil ataques ou ameaças de violência nas escolas brasileiras em 12 meses

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/Reprodução

Seria bom voltar no tempo, reescrever os atores que geraram tudo isso, reencontrar a paz e deixar para as escolas apenas a certeza que nelas estão o endereço do saber, crescimento e formação de pessoas melhores. A cada dia vivemos novos relatos sombrios, registros de tragédias que assolam nosso povo, a juventude e educação. Passados seis meses desde a terrível tragédia em Blumenau, onde uma creche se tornou palco de um pesadelo, agora testemunhamos um novo episódio de horror em São Paulo. Dessa vez, a violência abriu os portões de uma escola. Um estudante carregou em sua mochila uma arma legalizada de seu pai. Os alvos eram as vidas de seus próprios colegas.

É um tema angustiante. Mesmo não sendo pai, se você como eu tem um irmão, um sobrinho, afilhado, tem um tanto de humanidade no coração, é impossível não ficar tocado. É complicado pensar do tema sem tropeçar em na dificuldade de solução e diagnóstico para cada uma das tantas tragédias. As respostas das esferas políticas parecem lentas, desconectadas da urgência que este tema requer. Os primeiros impulsos, como o de incluir segurança armada nas escolas, parecem reações movidas pelo medo e não pela razão.

Diferentemente do Estado de São Paulo, que adotou rondas prioritárias nas proximidades das escolas, o caminho da segurança armada dentro das instituições de ensino é um passo incerto. Lá, foi a rápida ação da polícia militar e guarda civil metropolitana que evitou uma catástrofe ainda maior.

De acordo com dados apresentados no podcast Foro de Teresina na última sexta-feira, dia 27, números preliminares de uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Ministério da Educação, apontam que ocorreram mais de 3 mil ataques violentos ou ameaças de ataques em escolas nos últimos 12 meses no Brasil.

São oito episódios de tensão a cada dia no país. Se esses números, ainda em fase de conferência final, estiverem corretos, ultrapassamos a média anual americana, que registra 1,5 mil casos semelhantes. O que nos leva a refletir sobre a urgência de medidas eficazes.

A recente tragédia em São Paulo trouxe duras recordações para Santa Catarina e movimentou a classe política. O deputado estadual, Matheus Cadorin, do partido Novo, apresentou um requerimento aprovado por unanimidade pelos deputados, solicitando ao governo estadual informações detalhadas sobre o número de policiais militares trabalhando no Programa Escola Mais Segura. Em abril, o estado anunciou a convocação de 1.053 integrantes aposentados da segurança pública, que receberiam R$ 4,1 mil mensais cada um, além de outras medidas de prevenção à violência nas escolas. No entanto, constata-se que essas ações ainda não foram plenamente implementadas.

Em Blumenau, a situação também é motivo de cobrança na Câmara de Vereadores. Desde abril, o município já destinou cerca de R$ 10 milhões para a segurança armada na rede municipal de ensino. O contrato emergencial venceu no último dia 10 de outubro, e não está claro como a situação está sendo tratada. Nesse sentido, o vereador Diego Nasato, também do partido Novo, apresentou um requerimento cobrando explicações sobre o andamento das medidas anunciadas pela Prefeitura para garantir mais segurança nas escolas.

Este é um tema de extrema sensibilidade, que exige uma abordagem multidimensional. Uma parte da solução passa por estabelecer uma regulamentação rigorosa para o uso da internet, que, inacreditavelmente, encontra resistências. Além disso, é essencial encontrar formas de aproximar a vida que ocorre dentro das escolas da rotina das famílias. A sociedade como um todo deve assumir a responsabilidade de zelar pelo conhecimento e pelos valores transmitidos às gerações mais jovens.

Para vencer o ódio, reduzir o culto às armas e ampliar a tolerância, é preciso estimular o diálogo como a principal ferramenta para a resolução de conflitos. O Brasil é uma nação que possui riquezas culturais, uma herança de diversidade que deve ser celebrada. No entanto, o caminho para a paz requer a participação de todos, em uma busca conjunta por um futuro mais seguro e harmonioso. O momento é de união e ação, para que não continuemos a contar tragédias, mas sim a construir um futuro de esperança e entendimento.

Tarciso Souza, jornalista e empresário

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