O ocaso de um farsante

Luiz Carlos Nemetz

advogado

 

No início dos anos 80 do século passado, surge galante e forte o movimento sindical administrando o espólio que sobrou dos movimentos sociais de esquerda brasileiros. E dele, a sua organização partidária, o PT. Seu líder, Lula projeta-se na vida política.

Arrebanha um amontoado de radicais que gravitavam ao seu entorno como satélites que iam desde os órfãos do estado novo, aos clássicos rebeldes do movimento de março de 64, sem esquecer da esquerda – notadamente intelectuais advindos das melhores e mais abastadas castas familiares e acadêmicas da esquerda caviar e dos intelectuais mambembes desgrenhados e ocos de raciocínio lógico.

Pouquíssimos tinham alguma noção do marxismo. Eram fruto da inversão do predomínio do positivismo que era hegemônico dentre os até então tidos por progressistas. Nesta fase, nunca convenceram ninguém.

E Lula introduz o sindicalismo de resultados. Hoje se sabe com quais práticas cresceu como líder. Comandava greves de dia e negociava saídas à noite.

Após seguidas derrotas eleitorais, fruto de um conjunto de incoerências irracionais (negativas à lei da anistia, oposição ao plano real, etc.), o PT não avançava politicamente nem eleitoralmente.

Purista, não fazia alianças. Fracionário, era um emaranhado de tendências ideologicamente antagônicas que não falavam entre si.

Fez-se então, a luz. Um sábio marqueteiro inventou o “Lulinha paz e amor”. Operou-se o milagre nunca antes visto na história deste país: a convergência de interesses para formação de uma aliança entre representantes da classe operária com a pequena-burguesia democrática, sob o olhar omissivo e complacente das oligarquias agrárias e das oligarquias financeiras ávidas para manter-se perto do butim do Estado, do qual nunca se afastam por pura ganância e cobiça.

A coisa foi tão forte ao ponto de unir Sarney, Collor, Renan, Bradesco, Itaú, Globo e tantos outros. Sob pressão, Lula não teve outro caminho: oprimiu e marginalizou o esquerdismo obreirista, tornando o movimento quase que extinto e caricato.

Para sobreviver, fez alianças as mais espúrias. Subestimou a importância dos camponeses pondo-os com o rótulo de marginais (no que realmente se tornaram com o tempo, via do MST – essa facção criminosa) e superestimou o revolucionarismo pequeno-burguês acadêmico e fisiológico de araque que colocou a frente de tudo o que diz respeito a gestão do estado.

Vadio, entregou o manche a um malandro ainda maior, chamado José Dirceu, que adora charutos e “romanée conti” de R$ 16 mil a “boteja”.

Passou a andar com ginga.

Conheceu o pistache e os lençóis de fio egípcio. Cercou-se de e foi garroteado por “técnicos” (dentre eles o “Presidenta” que escolheu para sucedê-lo – um ser político amorfo que tangencia o retardo mental) que não viu classes, não governou, não fez política, não dialogou e caiu. Normal: o malandro, anda pelo mal. O técnico só vê a técnica.

Sob o engodo de perpetuar um novo sistema, Lula se esqueceu das forças sociais que prometera libertar. E pouco a pouco, foi se embrenhando num emaranhado de compromissos que o levaram ao lamaçal da corrupção.

E, pior que isso: gostou do que viu e do que provou.

Um dia, todo embusteiro cai. E hoje Lula caiu.

Ao seu lado sobraram os mesmos radicais sem discurso, sem coerência, sem norte e sem futuro lá do começo.

Quixotes e Sanchos Pança a lutar com moinhos imaginários, traídos pelas próprias miragens, que em esquizofrenia reciproca se auto motivam e se denominam eleitos para salvar o “Zelado de Deus” tendo Lula simbolicamente como sendo o “Santo Grau”, repetindo coletivamente Parry e Jack do clássico “O Pescador de Ilusões”.

Lula já foi estrela de primeira grandeza. Hoje tornou-se lamparina de pescador de manjubas.

Milhões nos quais me incluo, até menos de uma década atrás acreditaram.

Uma dó! Um engano! Um engodo! A mim só me resta me perdoar. E pedir perdão por aqueles que tenha ofendido.

Vou me esforçar para não cair mais em tentações.

Milhares pensaram que Lula seria para o Brasil uma versão histórica, épica e lúdica muito melhor do que foi Getúlio Vargas, o Presidente que deixou a vida para entrar na história. Mas Lula deixou a vida para entrar em cana.

Como diria o legítimo querido do povo, Silvio Santos: ele merece! ele merece!