Médico diz na CPI que respirador recebido por SC não é próprio para tratamento de Covid-19

Foto: Bruno Collaço/Alesc

A 9ª reunião ordinária da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga supostas irregularidades no contrato estabelecido pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) e a empresa Veigamed para a compra de respiradores mecânicos contou com uma nova rodada de oitivas na manhã desta quinta-feira (18).

De acordo com o presidente da comissão, deputado Sargento Lima (PSL), a etapa teve por objetivo a consulta de profissionais e gestores não envolvidos com o caso, mas que pudessem oferecer os conhecimentos técnicos demandados pelos deputados.

Neste sentido, o médico pneumologista Márcio Martins, indicado pela Associação Catarinense de Pneumologia e Tisiologia (ACAPTi), foi questionado sobre a utilização de respiradores mecânicos para o atendimento de casos graves de Covid-19.

Uma das primeiras questões levadas ao especialista, pelo deputado Kennedy Nunes (PSD), foi se aparelhos como o Shangrilá 510S podem ser utilizados neste tipo de tratamento. Na ocasião foi observado que o contrato firmado pelo governo catarinense com a Veigamed previa a entrega de 200 equipamentos do modelo VG70, de uso fixo nas UTIs, sendo recebido 50 unidades do tipo portátil Shangrilá 510S.

Em resposta, Martins declarou que aparelhos como o Shangrilá 510S não servem para uso contínuo em uma UTI, sendo voltados apenas para ventilar o paciente em ambulâncias ou em situações de transporte dentro da própria unidade hospitalar, como para  a realização de um exame de imagem.

“Esses ventiladores de transporte não são ideais para ventilar os pacientes com Covid-19 que tenham desenvolvido síndrome de angústia respiratória aguda, que é um grau de insuficiência respiratória grave e que vão necessitar de ventiladores mais robustos, que possam ventilar e dar condições para que seus pulmões se recuperem.”

Já o deputado Valdir Cobalchini (MDB) citou estudo médico que indicaria que o uso do aparelho Shangrilá 510S poderia até mesmo colocar em risco a vida de tais pacientes.

Sobre esta questão, Martins esclareceu que cada respirador mecânico possui a sua especificação de uso e que os pacientes acometidos por Covid-19 em seu grau mais severo precisam de um aparelho que lhes proporcione a oxigenação na medida necessária. “Dependendo do ventilador de transporte, existe sim um risco e pode aumentar as chances de morte do paciente.”

De acordo com Martins, a avaliação sobre o modelo mais adequado a ser utilizado em cada caso deve caber a um engenheiro biomédico ou profissional especializado em terapia intensiva.

Neste ponto, o deputado Sargento Lima afirmou que no processo realizado pelo governo para a escolha dos aparelhos, a certificação do aparelho selecionado coube ao setor de engenharia da SES, cujo encarregado é o engenheiro eletricista Wagner Tadeu Martins Queiroz, já ouvido pela CPI.

Kennedy Nunes observou que diante da substituição do modelo VG70 pelo Shangrilá 501S, o próprio engenheiro solicitou a criação de uma comissão de médicos para avaliação complementar do aparelho, pedido que não teria sido atendido pelo governo.

Sargento Lima também quis saber do entrevistado se o manuseio dos aparelhos requer treinamento prévio por parte dos profissionais de saúde envolvidos. Ele justificou o questionamento afirmando que no contrato firmado pelo governo com a Veigamed não viu qualquer previsão neste sentido.

Ante o questionamento, Márcio Martins foi taxativo. “É importantíssimo que se tenha treinamento e isso tinha que constar na hora em que os aparelhos fossem adquiridos. Fazer com que a empresa que está vendendo o ventilador possa proporcionar, através de uma enfermeira ou médico, esta assistência, este treinamento do corpo médico de onde vai ser colocado esse ventilador.”

Fonte: Alesc

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