A importância do jornalista na era 3.0

Arnaldo Zimmermann

Jornalista, Radialista, Mestre em Jornalismo e Professor Universitário

 

No momento em que vivemos o auge da era das mídias sociais, do conhecimento compartilhado, da elevação e do triunfo de um novo fórum público e social, com cidadãos comuns informando e compartilhando milhares de conteúdos diariamente pela rede, cabe uma incômoda pergunta:

ainda há a necessidade de jornalistas com formação acadêmica e profissional?

Essa intrigante provocação parte da possibilidade de que já estejamos vivendo dentro de uma equivocada versão da sentenciada era do Jornalismo 3.0* prevista pelo jornalista espanhol Juan Varela (2005), para quem os novos meios digitais alavancariam a comunicação direta entre cidadãos, em oposição à comunicação massiva. No entanto, não é difícil observar o quão caótico se transformou o ambiente digital, estimulando um universo mais opaco na distinção entre boatos e fatos e fazendo insurgir a assustadora “indiferença” com a verdade. Ou, em palavras mais extremas, o “culto à mentira”.

É neste contexto que ressurge a necessidade tanto da formação profissional quanto da acadêmica por parte do jornalista. Refiro-me à formação profissional aquela que faz o jornalista transpirar, que faz com ele vá a campo, que pesquise, que não se contente com um número limitado de versões e que busque ampliar seu repertório cultural pessoal a fim projetar mais e melhores ângulos acerca de um acontecimento.

Mas não há outra forma de prepará-lo para esse cotidiano sem uma formação acadêmica que lhe faça questionar constantemente sobre a realidade que o cerca. Sem leituras orientadas, sem confrontação de diferentes teses e estilos, o jovem jornalista estaria fadado – ao menos nos tempos atuais – a apenas reproduzir a prática que observou entre os mais experientes. E em um mundo de contradições e flertes com a mentira, veria reduzida sua capacidade de interpretação da realidade socialmente construída.

Quando passamos a observar a cobertura dos meios de comunicação durante a atual crise política que o país atravessa, constatamos duas situações pertinentes e interessantes em relação ao jornalismo e aos jornalistas. Em primeiro, a necessidade do estreitamento entre indícios e provas nas acusações, delações e declarações dos agentes diretamente envolvidos. Dificilmente esse caminho pode ser percorrido de forma sustentável pelos disseminadores de boatos, tampouco pelos fragmentadores de fontes noticiosas. A própria desconfiança do público – quase que vacinado pelo ceticismo gerado na própria rede em que esteve imerso – faz com que ele persiga fontes mais autênticas para verificar e se certificar dos fatos. E é exatamente aí que o jornalista tem feito toda a diferença nesses episódios, apurando, tabulando dados, comparando, checando informações e trazendo à tona a importância tanto do jornalismo de dados quanto do jornalismo investigativo frente ao redemoinho político vigente.

Outra situação é quanto à revelação dos chamados segredos do poder. Há determinados fatos que podem ser facilmente detectados e divulgados pelos cidadãos através das mídias sociais como, por exemplo, uma lista de suspeitos em uma das delações premiadas. Esse seria o tipo de informação que, se o jornalista não o fizer, o novo e desordenado fórum público o faz. Mas há outros fatos e situações que dificilmente poderiam ser detectados somente pelos cidadãos comuns: aqueles que dependem de uma minuciosa e insistente relação com as fontes de informação. Cabe, invariavelmente, aos jornalistas com boa formação profissional e acadêmica a missão de acompanhar o andamento das investigações e aguardar o momento certo para divulgá-las. Um “passo em falso” e todo o trabalho viria a ser desperdiçado ou – ainda pior – a reputação de suspeitos inocentes seria gravemente abalada.

É neste sentido que a importância sobre a formação do jornalista vai muito além do que puderam supor os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) quando decidiram revogar a exigência do diploma em 2009. Nem mesmo o colegiado que cometeu aquele ato conseguiria imaginar que o próprio órgão, em tempos de crise política e institucional no país, necessitaria tanto de maior credibilidade nas informações que circulam pelos novos fóruns públicos e que ainda podem ajustar uma melhor versão para o Jornalismo 3.0 na atualidade.

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