Opinião | Oktoberfest – “Wer trinkt, soll nicht fahren”

Imagens: Jornal de Santa Catarina/Arquivo/Reprodução

Wer trinkt, soll nicht fahren. Quem nunca ouviu essa frase? Tão comum que seria absurdo alguém imaginar o contrário. Mas, se pensarmos em duas décadas atrás, em uma festa como a Oktoberfest, isso poderia parecer muito estranho.

Se beber não dirija. 

Lá por volta dos anos 2000, juntamente com os colegas do curso de administração e segurança no trânsito, Janaína Viana, Ricardo Bondan, Ricardo Bernardes e Jaime Candiago, nos vimos na obrigação de efetuar um trabalho para melhorar o trânsito de Blumenau, através da ONG Trânsito Sóbrio iniciamos o projeto do que depois viria a se chamar Oktober Segura! 

Nosso principal objetivo era conscientizar as pessoas sobre bebida e direção, com isso levávamos motoristas cadastrados embriagados para casa, era o programa do ministério do transporte amigo da vez na Oktoberfest, algo inédito e bem à frente pra época. Quando muitos eram contra, e não entendiam como poderíamos conscientizar pessoas a não dirigir embriagadas numa festa que um dos principais temas era o chopp. 

Foi tão difícil o apoio, que muitas vezes tivemos que  buscar nossa barraca desmontada na administração do evento, que tinha o entendimento diverso da nossa presença dentro do parque. 

E olhando hoje, talvez o chope nem fosse o motivo principal da festa; o que me parece prevalecer é a cultura alemã, mais do que a bebida em si.

Depois de muita insistência, em 2003 conseguimos dar início a uma proposta de conscientização que, ao longo dos anos, passou por altos e baixos, cresceu, mudou, diminuiu, mas pouco evoluiu para os dias atuais. Ainda hoje me parece pequena, porém já representa um avanço: tanto o poder público quanto a população compreenderam a importância de unir conscientização e educação. 

Longe de serem antagônicas, elas se complementam e formam uma força conjunta para tornar o trânsito mais seguro durante o evento e, inclusive, depois dele.

Então nunca é demais lembrar, se beber não dirija.

Tempo passou muita coisa mudou na Oktoberfest e mais à frente já exercendo cargos na diretoria de trânsito e posteriormente na diretoria geral da SMTT, pude novamente ter uma participação no evento para que ele pudesse alcançar no trânsito a evolução que a festa estava tendo dentro do parque, juntamente com todas as diretorias da smtt, somado ao apoio das demais  secretarias da prefeitura de Blumenau, iniciamos o desafio de resolver o problema que há muitos vinha se propagando pelas vias da cidade, como fazer com que as pessoas chegassem a vila germânica de forma mais eficiente e segura.

Na época ainda era muito comum o trânsito correr pela rua almirante Tamandaré, seguir pela Antônio da Veiga e interferir inclusive na rua São Paulo. 

Claramente à Oktoberfest Blumenau diferentemente de outros eventos de porte nacional ou internacional tem características únicas no trânsito, desde o modo como as pessoas chegam, até os dias e horários que se divergem, seja por pessoas vindo a pé, vindo do desfiles, de carro, de ônibus, de bicicleta e em alguns casos até de carro alegórico, todo mundo quer chegar no evento e o dever do poder público é garantir o máximo de eficiência e segurança. 

Em 2022, após diversas reuniões e já compreendendo o que havia sido feito no passado, nos deparamos constantemente com o recorrente argumento de que “sempre foi assim”. Mesmo assim,  decidimos, então, promover mudanças e desenvolver um projeto que, por meio de alterações na sinalização, na comunicação e, consequentemente, no fechamento de determinadas vias, buscando oferecer mais segurança e eficiência ao tráfego da região, isso sem causar impactos negativos no restante da cidade.

Com o propósito de garantir que todos chegassem ao local em segurança, identificamos a necessidade de aumentar a  prioridade e conforto ao pedestre, para que pudesse, dentro das regras, chegar ao evento de forma tranquila e segura.

O projeto consiste, basicamente, em dividir quatro pontos distintos para a chegada das pessoas, organizados por modelos de transporte, sendo que cada um ficaria em um local específico: motoristas de aplicativo e desembarques, táxis, transporte coletivo e ônibus foram separados e destinados a áreas exclusivas para chegada e saída do evento. 

A rua Alberto Stein foi fechada para o trânsito local, concentrando a fluidez dos veículos exclusivamente no eixo principal, no caso, a rua Humberto de Campos. Dessa forma, houve um ganho tanto para as travessias dos pedestres que passaram a ter apenas uma única travessia, quanto para os veículos, que passaram a enfrentar tempo semafórico fechado apenas para a travessia dos pedestres.

Fato é que, com alguns ajustes, as mudanças foram testadas e analisadas, trazendo resultados excelentes e transformando positivamente o trânsito da região, com pouquíssimos transtornos nas áreas próximas à Vila Germânica, local do evento

No fim, é perceptível que  toda e qualquer mudança passa por um aceite cultural, a Oktoberfest provou que tradição e modernidade não se excluem, elas se somam. 

No trânsito, atitudes que hoje possam parecer um problema inevitável podem se transformar em parte da solução. A Oktoberfest já demonstrou que é possível beber chope e voltar para casa em segurança, sem dirigir embriagado.

Somando a mudança de conduta, às tecnologias atuais, como aplicativos de transporte, motoristas de app, táxis, transporte coletivo e até patinetes, tornou-se muito mais fácil celebrar a cultura e, ao mesmo tempo, garantir um retorno seguro. O impossível só parecia impossível até que se desafiou o velho argumento do “sempre foi assim”.

Essa mudança de cultura e organização na Oktoberfest, deixa evidente que por mais que o poder público organize, planeje e execute medidas de mobilidade e segurança, o resultado final depende da responsabilidade individual de cada cidadão.

O participante da Oktoberfest precisa compreender que suas escolhas têm impacto direto no trânsito e na segurança coletiva: optar por não dirigir após beber, respeitar as áreas destinadas a cada modal de transporte e seguir a sinalização são atitudes que completam o trabalho estruturado pelas autoridades.

A Oktoberfest só alcança seu verdadeiro objetivo quando organização e comportamento caminham juntos, poder público e população, cada qual cumprindo seu papel.

Com o trânsito não se brinca.

Lucio R. Beckhauser, Agente de Trânsito, Especialista em Direito de Trânsito

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1 Comentário

  1. Esperamos que o SETERB faça blitz constantes neste período de Oktoberfest , já que esta ação é para defender inocentes de mal elementos que bebem e dirigem embriagados .
    Mas será que o SETERB vai fazer blitz constantes ?
    Se não fizerem, estarão contribuindo para que os mal elementos bebem a vontade e depois entrem em um veiculo , que neste momento transforma-se em uma arma na mão de um bebado.

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