Sintoma, Inconsciente e Psicanálise

imagem: reflexoesdapsicanalise.blogspot.com

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suzana sedrez

Suzana Sedrez

Psicóloga, Dra. em Educação, Mestre em Ciências Sociais

 

Vivemos em sociedade e a família é seu primeiro núcleo de aprendizado de relações sociais.

Para sermos aceitos e amados, respondemos aos estímulos e expectativas dos nossos cuidadores, frustrando as mais íntimas, gerando recalques, como forma de sobrevivência física e emocional. De maneira que as respostas que o sujeito inventa para o desejo do outro se realiza no que decorrer de fantasias, recalques e sintomas ao longo de sua vida, no âmbito social, cultural e pessoal.

Os sintomas são sempre os do seu tempo histórico, cujas soluções são forjadas no inconsciente para administrar os conflitos censurados e não satisfeitos em função de certas situações em determinados contextos que se vive. As representações de desejos inscritos no inconsciente são os recalques. O que o sujeito costuma perder não é a memória do evento, são os fios de articulação lógica que se estabelecem entre os sintomas manifestos e as cadeias de representações do desejo inconsciente recalcadas.

Sintomas expressam e mascaram recalques e são expressões de sofrimentos psíquicos atormentados no sótão do inconsciente, cujo aplacamento se dá pelo deslocamento do desejo por objetos de consumo das mais diversas e variadas naturezas e tipologias.

O sujeito se constitui incapaz de relacionar os atos de sua vida cotidiana com os pensamentos inconscientes que neles se produzem.

A “teoria do recalque” é base da psicanálise. Tornar consciente o inconsciente pelas palavras é o caminho para trazer a tona o recalque. Permitir traduzir o recalque em palavras é a função da linguagem como “linguagem enquanto estrutura”.

Esta abordagem permite desvendar as ideias repulsivas que não são aceitas pelo sujeito, expulsas da sua consciência, alojadas no seu inconsciente. O inconsciente pensa a margem da consciência e dela independe. Assim, o trauma (base para formação do sintoma) tem uma ordem psíquica e não real.

O sintoma traumático não surge logo após o evento que supostamente o causa. Decorre, não só, da interpretação dada pelo sujeito, mas também das associações estabelecidas com eventos similares ocorridos durante sua existência. É uma força psíquica atualizada e em constante atividade no inconsciente. Obedece a uma lógica causal simbólica e não, cronológica ou factual.

Desta maneira, o sintoma vai falar do que está a mais, do excesso, da angústia da falta. Ou seja, o desejo desconhece o que deseja, diria Lacan. Lembrando que o sujeito desejante é, sobretudo, uma coleção de representações construído na relação com o desejo do outro.

A psicanálise é “um direito a verdade psíquica”, já que “a verdade é uma grande mentira”. Esse processo, muitas vezes doloroso, busca levar o sujeito à produção de sentido para seus conflitos e também simbolização da sua dor visando estar melhor no mundo.

Ajudar, através desse apoio profissional, a encontrar o fio de saída do labirinto do inconsciente permite ao sujeito se defrontar com suas escolhas em suportar a vida. Isso implica em fazer com que o sujeito seja capaz de inventar uma sensação de vida para si mesmo, mais próximo do real e mais distante da ilusão de existir preso a uma fantasia.

Portanto, reconhecer e elaborar algo do desejo pelo ato da fala permite à construção de recursos para a simbolização de um real traumático.

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