Opinião | Um governo sem cara

Imagem: reprodução

A desaprovação do governo Lula chega a 57,4%, segundo o Paraná Pesquisas — o maior índice desde janeiro de 2023. Quais as causas? Eis alguns fatores: Lula parece desanimado; falta identidade ao governo; poucos conhecem os ministros; o ministério é uma orquestra desafinada; o Executivo é refém do Legislativo; os programas sociais perderam apelo e o populismo já não comove.

Vamos a cada ponto:

O arrojo, o contato com o povo e os discursos inflamados ficaram para trás. Lula parece cansado, repetindo discursos do passado, como o maniqueísmo do “nós e eles”. O povo vê nele um governante “déjà vu”.

Qual é a cara do governo Lula? Parece a Torre de Babel. Os ministros não se articulam nem dão forma concreta ao governo. Quem sabe dizer os nomes dos 38 da Esplanada? Poucos têm visibilidade, como Fernando Haddad. A maioria não se comunica com o país.

O governo está fragilizado no Congresso, dependendo do velho “é dando que se recebe”. O desprestígio é tanto que parlamentares recusam convites para cargos. Temem associar sua imagem a uma gestão impopular — e já pensam em 2026.

A imagem do PT sempre esteve ligada aos programas sociais. Agora, Lula admite que o Bolsa Família, marca desde o primeiro mandato, precisa encolher, buscando reduzir os 20 milhões de beneficiários. Como reagirão as camadas sociais a esse possível desmonte? Dizer que é um paliativo com prazo de validade pode não bastar. O populismo não atrai mais.

Aliás, a retórica populista de Lula contrasta com a linguagem técnica de Haddad com os farialimers. Afinal, qual é a linguagem oficial do governo?

A imagem negativa do Lula 3 não é apenas fruto de falhas de comunicação. Nem Sidônio Palmeira, ministro da Comunicação, conseguirá revertê-la sozinho. Ele mesmo já disse: os ministérios não comunicam, são ilhas. As crises se sucedem — como a do Pix e do INSS.

No caso do Pix, tudo começou com boatos nas redes sociais sobre uma possível taxação. O governo correu para desmentir, mas o estrago à imagem já estava feito.

Quanto ao INSS, entre 2019 e 2024, entidades cobraram R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas por meio de descontos associativos não autorizados — um golpe que prejudica ainda mais a imagem do governo.

A associação entre o governo Lula e a corrupção é inevitável e remete à Lava Jato — deflagrada em 2014, com 80 fases e mais de cem condenações. A operação terminou em 2021.

Enfim, o que se vê? Um Lula cansado, um governo sem identidade, um povo descrente, criminalidade em alta, inflação subindo, alimentos mais caros, polarização crescente e o país rachado.

A desesperança toma conta. Promessas de ética e combate à corrupção, tão repetidas e não cumpridas, perderam credibilidade. Os governos se sucedem repetindo as mesmas palavras. O Brasil é o país do eterno retorno.

Escritor, jornalista, consultor político e professor titular da USP

3 Comentário

  1. “A corrupção é a mãe de todos os males”.
    O povo está acordando.

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