Opinião | Titanic & Titan: inserções de um similar trágico destino

Fotos: reprodução

Titanic, navio de passageiros transatlântico da White Star Line (Linha Estrela Branca) que haveria colidido com um iceberg (grande bloco de gelo) em abril do ano de 1912; e o Titan, submersível da Ocean Gate Expeditions (Expedições Porta do Oceano), que haveria implodido em junho do ano de 2023, constituem dois elementos e acontecimentos da história contemporânea que sugerem ousar algumas relações e reflexões. 

De imediato, sobressai que os dois ocorridos compartilham o mesmo espaço geográfico que é o Atlântico Norte. ‘Mas isso é óbvio!’ diriam as críticas, pelo fato que o segundo só existe em virtude do primeiro. Poder-se-ia pensar que se trata de uma relação de ‘pai’ e ‘filho’?!

Bem, como os próprios nomes sugerem, tem-se dois Titãs. ‘Titãs’, na mitologia grega, haveriam sido seres híbridos, da combinação entre animal e homem, que colaboraram na formação do mundo e constituíam os ancestrais dos consagrados Deuses do Monte Olimpo na Grécia Antiga. 

Titanic, transatlântico de luxo para tripulação, que possuía como rota percorrer o mar desde o Reino Unido até Nova York e de lá regressar. Os engenheiros responsáveis e os jornais da época anunciavam o grande feito como o ‘infundável’, afirmavam também que ‘nem Deus o afundaria’, porém o possível choque acidental com um iceberg desbancou tais certezas. Tendo em vista a força das circunstâncias, pode-se pensar que, se ‘Deus perdoa’, já a natureza, a incessante provedora e mantenedora, ‘não perdoaria’. 

Titan, uma embarcação que fazia expedições turísticas ‘experimentais’, com risco de ferimentos e mortes de pleno conhecimento e consentimento dos tripulantes. Que teve e tem como destino os destroços do navio Titanic à aproximadamente 3 mil e 800 metros de profundidade. Basta contar com $ 250 mil dólares. Experiência para poucos, senão raros. 

Titanic naufragou ainda na expedição inaugural, Titan já havia realizado inúmeras expedições. Inclusive o cineasta canadense James Cameron, que no ano de 1997 lançou o filme ‘Titanic’, foi tripulante em diversas expedições. Personalidade que, por sua vez, tem disferido críticas às autoridades competentes, em especial sobre as operações de buscas aos destroços e restos mortais.

Titanic só foi encontrado no ano de 1985. Titan, ou melhor os destroços, foram levados à terra no dia 28 de junho de 2023. Titanic, 1.517 mortos. Titan, 5. 

É claro que se seria sugestivo estabelecer paralelos e conexões também com outros fatos de outros tempos históricos e sociedades, mas, neste momento, tomemos como referência a contemporaneidade ocidental. Que, por sua vez, acumula feitos amplamente expressivos que permitem pensar sobre alguns aspectos e questões. 

Titanic, representava as cristalizações das aventuras da industrialização, da urbanidade, do progresso, da modernidade e da belle époque; dito de outro modo, dos feitos e anseios dos grupos abastados e emergentes da época. O naufrágio, por sua vez, anunciava, digamos assim, as sucessivas tragédias que se sucederiam ainda na primeira metade do século XX, tais como a primeira e a segunda guerras mundiais, o crack da bolsa de valores de Nova York. 

Outro aspecto está também em que, pode ser possível que toda a promessa e a expectativa que existia no espírito daquele tempo, somados ao trágico acometido que se sucedeu com o Titanic ainda opere, consciente e inconscientemente, como elemento de desejo e fascínio, pois sabe-se que acessórios como sapatos e garrafas de champagne, ainda fechadas, aguardam pelas próximas aventuras… 

Fetichizados e/ou precipitados à autodestruição como somos, pode-se pensar no sentido de que, onde se encontra o Titanic, exista um cemitério subaquático em pleno funcionamento. Afirma-se isso a partir do entendimento de que as expedições não serão interrompidas. Quiçá, as procuras sejam ainda maiores. 

Agora com a implosão do Titan, é possível perguntar e até especular sobre quais as cristalizações e as metáforas possíveis de se compreender a partir deste fato?! Ou, adentrando em terrenos deliciosamente espinhosos, quais revelações e anunciações estão para os cenários vindouros?!

Lista-se alguns aspectos salutares e orientadores nesse sentido: ainda na primeira metade do século XX tem-se o sucesso e o fracasso de projetos militares bélicos com energia nuclear e com a informática; a partir da segunda metade, as expedições à Lua e aos demais planetas; os projetos em nanotecnologia e engenharia genética na medicina; a aceleração de partículas, na física; e agora, nas primeiras décadas do século XXI, os protótipos e projetos iniciais da inteligência artificial envolvendo as mais diferentes áreas do conhecimento. 

Todavia, diante destes aspectos, e ousar apresentar previsões vindouras, é prudente hesitar, manter um certo recuo e considerar as preocupações do pensador Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) quando advertia que a filosofia, e/ou se preferir, a história, pouco podem servir em relação ao porvir, nos termos de que ‘a coruja de Minerva levanta voo ao crepúsculo’. Dito de outra forma, a contingência se impõe, o horizonte de possibilidades encontra-se aberto, não está encerrado, a vida está por ser vivida, a história está para ser escrita e isso quer dizer que as oportunidades estão postas, a sorte está lançada e isto ainda pode ser um grande trunfo à experiência que compartilhamos.

Graciela Marcia Fochi, historiadora e professora da UNIASSELVI

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