Opinião | O abafamento da Voz Feminina nos espaços de poder

Foto: reprodução

Há duas Deusas fundamentais na cultura Grega, que ainda demonstram as mulheres e as definem na construção do Consciente Coletivo e na conduta essencial da vida. Atena não veio de um ventre feminino, Zeus, o pai dela, engoliu Metis, que era a Deusa mais sábia de todas, a personificação da sabedoria. Enquanto gerava Atenas, Metis, dentro de Zeus, já ia aconselhando a filha e na hora de dar luz a filha, Zeus pediu aos outros deuses que partissem a cabeça deles com um machado, para que Atenas, pudesse sair em todo seu esplendor. Atena é o símbolo da prudência, da sabedoria e também guerreira por excelência, ou seja, é um símbolo duplo que combina a guerreira e a sábia.

Em contraponto a Atena, há Afrodite, que é força sexual por excelência. Ela também não nasce de um útero e sim da genitália castrada de Urano, que está na espuma do mar. Ela é Paixão e Força e essas duas características define a ação de Afrodite. O interessante disto é que mulheres sozinhas não entram no mundo do Pensamento e da Razão via materna e isso continua a existir até hoje. Tanto a paixão que é força violenta por excelência quanto a razão, tem uma raiz essencialmente masculina da qual ainda não podemos nos desprender por serem narrativas que se reproduzem no cotidiano social coletivo, como uma narrativa introjetada.

O discurso público e a oratória não eram apenas coisas que as mulheres antigas não faziam: eram práticas e habilidades que definiam a masculinidade como gênero. Tornar-se homem era reivindicar o direito de falar. O homem de bem era o perito da fala. Já uma mulher que falasse em público não era por definição uma mulher. Uma voz grave revela a coragem masculina, uma voz fina indica a covardia feminina. Autores clássicos insistem em que o tom e o timbre da fala das mulheres sempre ameaçaram subverter não só a voz do orador masculino, mas também a estabilidade social e política e a saúde de todo o Estado.

Existem dois tipos predominantes de perfis de mulheres na Política, ou a mulher se masculiniza para ocupar os espaços políticos, assumindo uma postura mais masculina para negociar com os homens, que são os donos das palavras e do Espaço Público de Poder, ou elas se tornam submissas aos interesses masculinos, reproduzindo a não capacidade de pensar e assim mantendo os estereótipos da mulher como sentimental e reproduzem essa feminilidade que foi construída e que não contesta nada.

Uma pesquisa realizada em 2018 pela União Parlamentar Internacional sobre violência política, revelou que 82% das mulheres que ocupam os espaços institucionais da politica já sofreram violência psicológica. 44% sofreram ou sofrem ameaça de morte, ameaça de estupro e espancamento. 26% já sofreram ou sofrem violência física no Parlamento. Quando olhamos para a situação do país que nos coloca na posição 142 no ranking da representação política de mulheres, em penúltimo lugar, ficando atrás somente de Belize, entendemos porque as mulheres não estão na política. Nós queremos que nossos corpos, nossas demandas rumem para um espaço de igualdade entre homens e mulheres, para isso precisamos transformar. Não podemos reproduzir o comportamento predador masculino na politica.

O mundo foi construído por mulheres que lutaram, construíram, fizeram e se posicionaram, mas a história dessas mulheres sempre foram apagadas. Acreditamos que somente através de uma Educação emancipadora que a sororidade será possível, como um fio do colar que liga as pontas, que ao final essas pontas unidas em um mesmo propósito ecoam a mesma voz em busca de políticas públicas reais com o propósito de acabar com as desigualdades sociais. Para uma sociedade mais justa, onde as mulheres tenham voz e que não estejam dentro dos Partidos apenas como números ou índices para preencher as cotas.

A escritora russa Nadezhda Maldestam, que viveu no começo do século passado, sofreu preconceitos, foi perseguida, exilada e viveu como nômade por um período para se esconder por se engajar e ter se posicionado na luta política da Rússia de 1930. Ela tem uma frase que representam todas as mulheres que lutam para ocuparem os espaços políticos: “eu decidi que o melhor é gritar, pois o silêncio é o crime verdadeiro contra a humanidade”. Então, mulheres gritem e façamos com que nossas vozes sejam ouvidas

Professora Teresinha Cardoso, Socióloga Política

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