Opinião | Não podemos banalizar a morte

Foto: reprodução

Confesso que pensei muito se ia escrever sobre o ocorrido no final da tarde se sexta-feira em frente ao supermercado Giassi, no coração de Blumenau. Um homem tirou a vida de outro, por volta das 18h, fato registrado quase instantaneamente pelas pessoas que passam no local.

O Informe Blumenau não trabalha notícias policiais e de trânsito, mas o ocorrido em pleno centro educacional da cidade precisa ter uma caráter pedagógico. E, como jornalista e responsável pelo portal, entendo importante nos posicionar sobre este crime bárbaro.

E antes que digam que “quem é pai sabe”, “se fosse com minha filha”, quero dizer que sou pai de duas crianças, uma de 12 e outra de 8, além de dois grandes. Frequentamos o Giassi, passo seguido pela região, por tanto, conheço um pouco da presença dos moradores de rua.

Os moradores de rua são um drama social. Em Blumenau cada vez mais visível, mas uma realidade nua e crua nos grandes centros. Não são pessoas “vagabundas”, “que não querem trabalhar”, a grande maioria tem uma família e dramas familiares.

As políticas públicas, importantes, são insuficientes e não dão conta de uma complexidade maior. Não é uma tarefa simples.

Esta introdução é para dizer que toda a vida importa. Mesmo do drogado, do morador de rua. Ele poderia ser de nossa família, de família de conhecidos. Gente com história e afetos.

Nada justifica a reação do “pai”. Você pode defender seu filho em qualquer circunstância, mas a reação foi descabida. A quantidade de estocadas de faca no corpo da vitima, de acordo com informações preliminares, é maior de 10, longe de justificar legítima defesa.

Apesar do advogado de defesa do acusado ter afirmado que a faca estava com a vítima, não é a versão da PM no boletim de ocorrência no dia e de outras testemunhas. A faca estaria com o agressor, que estava com a filha pequena.

Aliás, o fato de estar com uma criança pequena já seria um ponto de avaliação. Qual a mensagem ela poderia receber melhor, a da violência ou a da tolerância? O pai optou por matar uma pessoa, quando teria muitas outras opções.

Não sei se o contexto “morador de rua” pesou na atitude do pai, mas é fato que este assunto ganha força, mas sem a necessária reflexão ou notícias atravessadas. Algumas lideranças políticas estaduais e de Blumenau tem uma versão reducionista sobre o flagelo social decorrentes dos moradores de rua, uma camada cada vez maior da sociedade brasileira.

São políticos que vão valorizar o “pai de família”, sem olhar para a família que perdeu o filho.

Neste crime, todos perdemos.

13 Comentário

  1. Acredito que ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa, já li várias publicações sobre o ocorrido e cada um traz uma versão. Mas mesmo assim se fosse legítima defesa teria outros meios de se defender sem tirar a vida.

  2. Excelente texto Alexandre. Espero que pessoas que dizem que moradores de rua não servem pra nada leiam esse texto e reflitam um pouco.

  3. Alexandre,cerca de uma hora antes do ocorrido,a vítima me abordou na parada da sinaleira Eu estava com um carro de trabalho com escadas em cima e ele sem nem mesmo me oferecer a paçoca,me perguntou se eu não poderia lhe arranjar um trabalho pois as escadas o inspiraram, segundo ele me disse…
    Não me manifestei antes porque Blumenau de uns tempos pra cá está cheia de falsos moralistas e especialistas em tudo.Aqui fica minha reflexão sobre esse caso já que houve tanto julgamento:Estaria essa pessoa realmente querendo arranjar confusão ou era somente mais uma vítima destes tempos hostis que estamos vivendo…Estou me questionando a cada vez que veja as fotos da tragédia.

  4. Cirúrgico seu Comentário, nao podemos banalizar a morte.
    Precusamos que os seres Humanos voltem a ser humanos.

  5. Falar e fácil, mas como será que agiriamos se estivéssemos no lugar da pessoa?….se ameaçarem meus filhos, não saberia minha reação no momento.

  6. Concordo plenamente com você e ja me perguntei muitas vezes oque leva um pai sair com uma filha e uma faca de um mercado.e sim este morador de rua por opção pois tem família irmãos uma mãe que viu pelas redes sociais seu filho sendo morto como um animal eu conheci e digo as vezes que vi era educado e gostava das crianças então estou em choque até agora

  7. ” Concordo plenamente com você e ja me perguntei muitas vezes oque leva um pai sair com uma filha e uma faca de um mercado.”

    A faca estava em posse do Pai ou do vendedor ?
    O vendedor tem ficha na polícia ou o pai ?
    Quem puxou a faca , o vendedor ou o pai ?

    Para poder comentar o ocorrido e acusar , é necessário informação .

  8. TUDO SE EXPLICA, POREM NADA SE JUSTIFICA..NINGUEM TEM DIREITO DE SUBTRAIR A VIDA DE NINGUEM…

  9. Concordo com você, Alexandre! Nossa sociedade encontra-se muito adoecida, tomada pelo ódio e preconceito de todo tipo. Comentei parte de seu texto no Instagram e, por isso, já fui insultado. Nada justificou tamanha brutalidade! Não creio que a vítima tenha oferecido risco ao pai ou à sua filha. Nunca sofri qualquer agressão vinda de uma pessoa em situação de rua. Mas já fui alvo de tentativa de assalto por pessoas bem vestidas, aqui em Blumenau! Minha solidariedade à família da vítima e a criança que, ainda sem entender bem, acabou presenciando tamanha brutalidade!

  10. Excelente texto Alexandre! Um alento, um bálsamo, em tempos de trevas. Incrível os ditos “cidadãos de bem” defender a brutalidade. São pessoas amargas e sem empatia. São os ditos fariseus, moralistas sem moral, que destilam ódio ante suas frutrações.

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