Opinião | Dever cívico: o que ninguém aguenta mais é… e não melhorar o correr da vida 

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil/Reprodução

Até as bolas ficam quadradas e cansam de girar quando espancadas à exaustão por inéptos, por fatos, pelo tempo. Mas, impressiona a resistência de gente com sabedoria de mingau que insiste em repetir, como alienados robôs, chutando a realidade, driblados e conduzidos como uma manada. Sabujos que não servem à sociedade onde nasceram. Lambem as botas de quem está disposto a humilhar a nação. Esgotou-se a paciência com estes falsos problemas do Brasil.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, repete que “ninguém aguenta mais o Alexandre de Moraes” – e outros mantras dessa liturgia do ressentimento. Pois bem: o que ninguém aguenta mais é justamente esse discurso molenga com golpistas, essa preguiça intelectual travestida de indignação seletiva, esse mundo paralelo que só existe no imaginário dos alienados da extrema-direita. Tom Jobim, entre uma música e outra já dizia que “o Brasil não é para principiantes”, e muito menos para eternos repetentes quando o assunto é a democracia.

A bandeira dos Estados Unidos tremulando como símbolo máximo numa manifestação bolsonarista no dia da Independência do Brasil é uma sabujice de dar náusea. É o vira-latismo caricato com direito a live no Instagram e financiamento duvidoso. Nelson Rodrigues chamaria tudo isso de “complexo de vira-lata”, mas tenho dúvida se em algum momento ele poderia imaginar que chegaríamos a este ponto, de tantos fazendo cosplay de patriota americano, com manifestações em algo que lembra vagamente o inglês, pedindo intervenção americana para “defender o Brasil”.

Fico imaginando se esta massa, somada a energia de quem assiste perplexo, estivesse direcionada para o que realmente merece nossa indignação, mas apodrece na gaveta do descaso coletivo. Os engarrafamentos que transformam nossas manhãs em verdadeiros purgatórios sobre rodas teriam um fim, certamente. A especulação imobiliária, que hoje expulsa famílias e comunidades inteiras para que apartamentos virem commodities, seria finalmente controladas. E os sonhos individuais, hoje sufocados pela mediocridade institucional, cartórios e toda burocracia, passariam a ser realizados.

Em Santa Catarina, temos nossos próprios escândalos domésticos: os desvios éticos que corroem programas como a Universidade Gratuita ou empresas públicas como a Ciasc, os supostos desvios da educação catarinense, que transformam o futuro das crianças em planilha de Excel mal feita, são temas que não repercutem na sociedade. Os aumentos da energia elétrica, do tratamento de esgoto, que pesam no bolso de todos que parecem ignorar o dinheiro escorrer. A recusa ideológica de uma nova Policlínica em Blumenau, onde a saúde pública vira refém de caprichos partidários. Mas não, é mais fácil berrar sobre uma “ditadura do judiciário” que não existe, enquanto a ditadura da incompetência segue firme e forte, com aplauso e anuência tanto de quem deveria nos representar como dos eleitores.

Acho que estamos entrando em uma fase de esgotamento profundo, como uma ressaca, sabe? A paciência foi para o espaço com esta turma que prefere discutir anistia para quem tentou quebrar o país a discutir como consertar o que realmente está quebrado. Parece, para mim, que nestes nossos dias o Brasil, “que é o país do futuro”, foi sequestrado por gente que vive eternamente no passado, revirando as mesmas feridas, mastigando os mesmos rancores, inconformado com qualquer avanço ou benefício para as pessoas mais necessitadas.

O que ninguém tem mais paciência não é para Alexandre de Moraes, para o Lula ou para o PT. A exaustão é com essa discussão que virou a única bandeira de um movimento político falido, para esse teatro do absurdo onde políticos surfam na revolta alheia enquanto perpetuam exatamente os vícios que fingem combater. Todo cansaço está, fundamentalmente, com essa inversão perversa de prioridades que transforma privilégios para políticos em bandeira de “mudança”.

Sociólogo, antropólogo, um destes grandes estudiosos do país, Darcy Ribeiro dizia que “a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”. Humildemente parafraseando o mestre eu digo: a perpetuação desses debates estéreis não é acaso, é estratégia. Enquanto os gritos seguem sobre o que não importa, o que realmente transforma a vida da gente apodrece no descaso. E aí, quando encerrar esta hipnose coletiva, talvez seja tarde demais para salvar o que restou da nossa capacidade de sonhar com um país decente.

O dever cívico real, neste momento, é parar de alimentar essa máquina de moer neurônios e começar a discutir o que pode mudar e melhorar o Brasil. O resto? Bem… o resto é capim e conversa para boi dormir.

Tarciso Souza, jornalista e empresário

2 Comentário

  1. Complexo de vira lata tem quem apoia um descondenado por corrupção , quem apoia aqueles que levantam a bandeira de quem invade propriedade alheia, quem defende ministros de toga que cometem atos ilícitos para levar ao poder um condenado por corrupção em 03 instâncias e ditos jornalistas que em seus textos ideologicos ,mostram a capacidade de jogar o jornalismo no fundo do poço da mediocridade em razão de ideologia cega .Vai faltar capim .

  2. Ainda bem que hoje temos a internet recheada de informação séria e sem rabo preso com as diversas “organizações” que ditam o que vai ou não chegar ao leitor. Acabou para os “pau mandados” pseudojornalistas, o povo acordou toda matéria é analisada e checada e o senso crítico está ficando cada vez mais afiado permitindo separar o verdadeiro jornalista dos mercenários e traidores da pátria. A insistência em censurar as redes sociais é uma mostra que a verdade incomoda os ditadores. O Brasil está acordando para o verdadeiro golpe instalado e a verdadeira ditadura instalada. Mudanças sejam bem vindas e cadeia aos traidores da pátria que usam seus cargos públicos em desrespeito a Constituição Federal.

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