Opinião | Conjecturas sobre as pesquisas eleitorais

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O resultado do primeiro turno das eleições mostrou importantes diferenças para com pesquisas eleitorais. As pessoas tem o direito de desconfiar e contestar e as empresas de pesquisa devem se explicar. Antes que se expliquem, alguns esclarecimentos podem nos ajudar, porque questionar é tão fundamental quanto não demonizar.

Sem ser muito preciso, lembro, não obstante, a importância do estatístico estadunidense George Gallup (1901-1984), fundador do Instituto Gallup de pesquisas, nos Estados Unidos. A centenária Revista Reader’s Digest (aqui no Brasil é a Seleções) desenvolveu o hábito de perguntar a intenção de voto a centenas de milhares de leitores pelo país, via correios.

Em um período de certa eleição, o mencionado estatístico resolveu fazer uma série de pesquisas com o método que foi universalizado e é referência até hoje. O resultado das eleições mostrou que as pesquisas com centenas de milhares de estadunidenses erraram e o método de Gallup foi mais eficiente, com número bem menor de entrevistados. Como? Com método.

Por exemplo, para realizar uma pesquisa com margem de erro de 3% (para cima ou para baixo, podendo chegar ao limite de 6%), numa cidade com 400 mil habitantes, como Blumenau, ou uma cidade de 60 mil habitantes, como Canoinhas, ou num país de 210 mi de habitantes, recomenda-se entrevistar 600 pessoas, que constituirão uma amostra. Mas, como um número tão pequeno pode garantir resultado confiável? Com método.

Primeiro, é importante dizer ao leitor que o resultado de uma pesquisa com uma amostra igual para populações diferentes é perfeitamente viável, porque o método por amostragem é eficaz e isso já foi testado milhares de vezes. Se não fosse, empresas não encomendariam pesquisas de mercado para seu planejamento de vendas, nem partidos políticos encomendariam pesquisas eleitorais para vencer eleições. É porque o método funciona.

O método por amostragem é composto a partir de um número de entrevistados e dividido em pelo menos cinco variáveis fundamentais. São elas: sexo, idade, escolaridade, renda e domicílio. Respeitando percentualmente estas variáveis, é possível atingir um resultado aproximado que retrate a opinião das pessoas no exato momento da pesquisa. Se depois disso, estourar uma “bomba”, tudo pode mudar.

Então, se, do total da população, 52% dos habitantes são mulheres, 15% são idosos, 70% ganham até dois salários mínimos, 10% tem nível superior de educação e 12% moram na região sul do país, ou no centro de uma cidade, a amostra de 600 entrevistados precisa respeitar estes percentuais, a fim de que a margem de erro fique dentro dos 3%, ou pelo menos não fique longe disso.

Então, por que os resultados das pesquisas podem ser díspares? No geral, há várias razões. A primeira é que o método não tenha sido fiel ao padrão demonstrado. É estatisticamente mais eficaz entrevistar 600 pessoas, respeitando esses percentuais, do que entrevistar 60 mil pessoas numa passeata em favor de um candidato à presidência. Isso também nos adverte de que nossas impressões locais nos enganam.

A segunda é que esses percentuais podem não atingir segmentos quantitativamente importantes da Sociedade e que expressem entre si opiniões muito convergentes. Por exemplo e por hipótese, digamos que raça, etnia, religião, condição profissional e outros segmentos com forte identificação em comum não estejam devidamente representados na amostra. Além disso, se houver um número significativo de pessoas que se negam a responder por não acreditarem em pesquisas, elas escapam do radar e o resultado altera.

A terceira é que pesquisas são feitas por empresas que podem esticar o método aqui e ali, segundo a situação social numa pós-pandemia (que difere do senso do IBGE) ou a preferência de quem encomenda. Mas há um detalhe: toda pesquisa tornada pública deve estar registrada no TRE e qualquer cidadão pode auditá-la. Mas, aí, dependendo do interesse de cada um, é mais fácil meter a lenha do que tentar entender os fatos.

Não está errado todo aquele que afirma que pesquisas eleitorais influenciam a opinião dos eleitores. Ora, a poucos dias de cada pleito, o percentual de indecisos estatisticamente ultrapassa os 10% dos eleitores. Muitos deles encaram eleições como carreira de cavalo, isto é, apostam em quem acham que vai ganhar. As vezes a maioria opta pelo segundo colocado, porque está se aproximando do primeiro. E que se lasque quem estava em terceiro ou quarto.

Também não está errado quem vê fraude em pesquisas, porque algumas realmente parecem fraudulentas. Em determinado momento das eleições, a diferença entre uma e outra chegou a 28% entre o primeiro e o segundo colocados (14% foi a diferença apontada pelo Datafolha para um lado e 14% pela Brasmarket para o outro lado). Alguém esticou demais a corda e a probabilidade é de que as duas o tenham feito, é só conferir o resultado final do primeiro turno e comparar.

Por fim, considero que seria importante a aprovação de uma CPI das pesquisas eleitorais. A população seria bastante esclarecida e, aos que buscam o entendimento da realidade, separariam o joio do trigo. Há muito mais a dizer do que este resumo. Só espero que não se caia no erro de proibi-las, restringi-las ou puni-las. É preciso que sejamos coerentes ao defender a liberdade e quem decide se acredita ou não é cada um. Se ainda assim alguém acha que pesquisa influencia os ignorantes, exija do seu candidato mais compromisso com a educação do povo.

1 Comentário

  1. Incrível, só no Brasil isso acontece.
    Contudo, isso vai ser tudo mudado e, bem brevemente.
    Dia 30 próximo, começará essa mudança.

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