Opinião | Cachorrada: especialistas em criar fama de especialistas e só!

Foto: reprodução

Faz tempo que lido com bichos. Lá em 2014, troquei os latidos da política pelos uivos do mercado pet: fundei a Foster Pet Place. Me afastei do colarinho para ter uma coleira sempre por perto. Abandonei os discursos e, agora, cuido do desembolo de nós no pelo. Confesso, é muito mais fácil compreender o motivo das mordidas dos cães que as ações de muitos políticos na tribuna ou nas redes sociais.

Mas a política, como pulga em colchão velho, nunca abandona a gente. Volta e meia coça. E, ultimamente, tem me coçado bastante. Talvez porque esse país anda parecendo um canil sem vacina: cheio de bicho barulhento, babando de raiva. Embora mergulhado neste mundo dos patudinhos, gosto de acompanhar as notícias e faço alguns serviços aqui e ali.

Voltando aos pets, nenhum outro representa melhor o Brasil que o vira-lata caramelo. Sabe aquele cãozinho invocado, resiliente, fofo, que não é de ninguém e ao mesmo tempo é de todo mundo? Então, confessa, é um símbolo de resistência, carisma e, às vezes, de uma boa dose de subserviência característico deste povão verde-amarelo, não acha? E eles são fofos mesmo. Em 1996, o sete vezes campeão mundial de Fórmula 1, Michael Schumacher, ficou encantado com um exemplar da espécie e o coração gelado do alemão não aguentou: adotou uma dessas criaturinhas em um GP de São Paulo.

E eu poderia seguir por horas descrevendo outros tipos de viralatinhas. Tem o vira-lata invocado, que te olha de canto, parece bravo, mas murcha na hora do aperto. Tem aquele que trepa na perna do primeiro gringo cheiroso que aparece, abanando o rabo como se fosse um golden nascido em Miami. Permita-me falar de um específico, que poderia muito bem descrever a personalidade do Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O colega jornalista Carlos Tonet, no meu lugar, diria: uma vergonha para todos os “Tarcisos” do Brasil.

Carioca, criado em Brasília, hoje adotado pelos jardins paulistanos, é um típico cão de pedigree duvidoso que morde o pé do entregador. Pode representar aquele vira-lata que cai da mudança, sabe? Um cachorro que morde o pobre coitado do jardineiro, rosna para a faxineira, não tem piedade de esconder até o osso das pessoas de vida ralada. Mas, basta um bonitão cheiroso, engravatado e com pinta de endinheirado chegar perto que se abre todo, fica faceiro, se lambe quando o gringo chega com gravata Hermès e sotaque texano, vai rebolando o rabo, fazendo festinha, quase se mijando de tanto prazer.

Foi assim agora, com a tal ameaça de sanção econômica vinda do presidente americano Donald Trump. Tarcísio latiu manso, abanou o rabo, e, em vez de defender o Brasil, correu para lamber a bota do estrangeiro. Um vira-lata caramelo em versão coach. Especialista em criar fama de especialista — sem nunca entregar nada. Quando ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, passou por Santa Catarina como quem visita canil: olhou, prometeu adoção e foi embora. O que ficou? Corte de verbas e um cheiro ruim no ar. Repito: ele é excelente, um especialista em criar fama de ser um especialista. Mas, no final, é só mais um bobão que faz barulho.

Mas, ele não é o único. É de dar dó ver a reação dos nossos vira-latas especialistas. Saem todos da toca, latindo alto nas redes sociais, nos programas de TV, criando teorias mirabolantes sobre geopolítica mundial. Cada um mais sabido que o outro, cada um com uma receita infalível para servir, como um cachorrinho, ao “imperialismo americano”.

Os bolsonaristas são esses cachorros que mordem a própria casa, que cagam no próprio quintal. Colocam a soberania do Brasil de lado para defender seus próprios interesses mesquinhos. Negam a prosperidade para todos os brasileiros numa desesperada tentativa de escapar da prisão. São como aqueles vira-latas raivosos que, encurralados, são capazes de morder até o dono – desde que isso lhes garanta uma fugida pelos fundos.

É patético ver essa matilha achando que o Trump vai salvá-los do que eles mesmos criaram. Ficam de rabinho balançando, esperando que o “pai americano” venha resolver suas cagadas domésticas. Preferem ver o Brasil quebrado e humilhado do que admitir que erraram. São piores que vira-latas – são cachorros traidores.

O Brasil tem tudo para ser um rottweiler respeitado no quintal mundial. Mas enquanto muitos brasileiros continuarem se comportando como chihuahuas nervosos – ora submissos, ora agressivos na hora errada – vamos continuar sendo tratados como o que parecemos ser: cachorros sem pedigree, esperando que alguém nos dê uma coleira.

Tarciso Souza, jornalista e empresário

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